Metalúrgicos de Caxias (RS) rechaçam argumento dos patrões para desindustrialização

O Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região rebate os argumentos dos empresários de que os salários são responsáveis pela desindustrialização.  Para a entidade que representa cerca de 58 mil trabalhadores na Serra, a desindustrialização é reflexo da associação de empresas locais ao capital estrangeiro, da política cambial e da alta carga tributária no Brasil.

O setor metalúrgico de Caxias registrou crescimento em 2011 e os investimentos estão em andamento. Nos últimos anos, as indústrias obtiveram ganhos de receita e lucros estratosféricos, que superaram até as previsões mais otimistas dos empresários do setor. Boa parte disso, resultado do trabalho disciplinado e qualificado do metalúrgico, cujo salário está bem aquém dos de seus colegas do centro do país. Na indústria automobilística, por exemplo, estima-se que a remuneração seja 70% maior que a daqui. Lá também mostra-se falso que salários maiores impediriam o crescimento.

Embora o Brasil tenha ultrapassado a Grã-Bretanha e ocupe a sexta posição entre as maiores economias mundiais, é o 45º colocado em renda per capita. Ou seja, em 44 países, incluindo a Grã-Bretanha, têm renda per capita superior à do Brasil. Segundo os últimos dados do Banco Mundial, o brasileiro ganha, por ano, o equivalente a US$ 10.710 (contra US$ 8.615 em 2009). Já a renda dos britânicos, US$ 36.144, é três vezes maior do que a dos brasileiros. “Temos um dos melhores PIBs (Produtos Internos Brutos) do mundo e uma renda muito abaixo de muitos países”, observa o presidente do Sindicato, Assis Melo. Os trabalhadores alemães, por exemplo, ganham 10 vezes mais que os brasileiros e a Alemanha segue sendo um dos maiores exportadores do mundo, apresentando a menor taxa de desemprego da Europa.

Assis discorda também da opinião do presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs), Getúlio Fonseca, de que a robotização e a automação são saídas para recuperar a competitividade.  Para o líder dos metalúrgicos, a saída passa pela qualificação da produção e isso depende de investimentos na qualificação da mão de obra. “Para ampliar e dar um diferencial à produção local é preciso investir no aperfeiçoamento, por isso defendemos a vinda de uma extensão da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) para Caxias do Sul, como forma de viabilizar o acesso do trabalhador ao ensino superior”.

“Em vez de bater naqueles que lhe dão as receitas e lucros, o empresário de Caxias poderia dirigir suas baterias contra os juros altos e a especulação.”

Para o economista do Sindicato, David Fialkow, a tática de parte do empresariado da Serra de transferir para o trabalhador a responsabilidade de serem competitivos não é nova. “A história nos ensinou que o caminho dos baixos salários gerou décadas de estagnação econômica. E, inversamente, ganhos reais ao trabalho fortaleceram o mercado interno nacional, tornando o país mais forte frente à crise internacional que houve.” Fialkow observa que é preciso fortalecer-se internamente para enfrentar a crise que pode estar por vir. Isso porque, em crise, o mercado externo diminui as compras, reduzindo nossas exportações, daí ou se investe no mercado interno ou para a produção. E mercado interno forte se consegue com maior poder aquisitivo da população, o que só se viabiliza com salários melhores. “Em vez de bater naqueles que lhe dão as receitas e lucros, o empresário de Caxias poderia dirigir suas baterias contra os juros altos e a especulação. Melhor do que atacar os de baixo, seria ter coragem para enfrentar os de cima, os banqueiros e financistas que sugam o dinheiro público e privado em larga escala, diariamente”.

Fonte: Claiton Stumpf

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