Ao menos 150 mil manifestantes tomaram as ruas de diversas cidades da Espanha neste domingo (20), em protestos contra o alto índice de desemprego, as perspectivas econômicas e os políticos. Apoiado por diversos grupos sociais, o movimento reivindicativo 15-M saiu reafirmou sua indignação com o modelo político e econômico imperante na Europa.
Calcula-se que na capital, Madri, o número de manifestantes tenha chegado a 35 mil, enquanto em Barcelona até 50 mil tenham caminhado no centro da cidade, segundo estimativas da polícia. Pelo menos sete marchas partiram de diversos pontos da capital espanhola.
“Temos que fazer uma nova democracia”, disse um dos organizadores, ao ler um manifesto. “Devemos preparar uma greve geral. Vamos parar este país”, disse o mesmo orador, pouco antes do fim do protesto.
Quase dois anos de recessão deixaram a Espanha com um índice de desemprego de 21,3% – o mais alto entre os 17 países da zona do euro – e fortemente endividada. Os protestos começaram em 15 de maio e encontraram eco entre espanhóis cansados das reduções salariais e dos aumentos de impostos para resolver a crise financeira, que foi criada pelos bancos e por grandes empresas.
Aos gritos de “Não nos representam” ou “Esta crise não a pagaremos”, milhares de pessoas se dirigiram para a praça Netuno, no centro da capital espanhola, perto da Câmara de Deputados. Com palavras de ordem de “Não a mais cortes sociais”, “Não à corrupção” e “Não somos mercadoria em mãos de políticos e banqueiros”, os manifestantes repudiaram o Pacto do Euro, uma série de medidas de ajuste aprovadas em março passado pelos líderes dos 17 países da zona euro para enfrentar a crise.
O plano exige dos governos da Eurozona compromissos com a moderação salarial, flexibilidade trabalhista, contenção da despesa em pensões e prestações sociais e coordenação de políticas fiscais. Para os Indignados, os banqueiros e os políticos são os culpados por cortar os salários, baratear as demissões, precarizar as condições dos trabalhadores, aumentar a idade de aposentadoria e reduzir as pensões.
Outros países
Em outras capitais europeias – como Lisboa, Bruxelas e Paris – milhares de manifestantes também ecoaram o protesto contra a classe política e econômica nos países da zona do euro.
Uma proposta para uma greve geral é pensada agora como o próximo passo. Sem uma estrutura formal central, e baseados em redes sociais como o Facebook, os protestos dos “indignados” europeus têm bandeiras variadas. O principal ponto em comum é a acusação de que o atual sistema político “não nos representa”- como gritaram na Espanha. O lema “Democracia Verdadeira, Já” foi utilizado por grupos que promoveram protestos neste domingo também em outros países.
“É mais fácil dizer o que não é a verdadeira, que é essa. A pessoa vota e os eleitos fazem o contrário e não podem ser destituídos”, afirmou o carioca Otávio Raposo, de 32 anos, um dos cerca de 150 que participaram do protesto em Lisboa. O grupo desceu a Avenida da Liberdade até o Rossio – mesmo caminho feito pelo protesto conhecido como Geração Enrascada e que reuniu cerca de 200 mil pessoas em março, no que é considerada a maior manifestação desde a Revolução dos Cravos, em 1974.
Outro ponto em comum é o calote dos países. “A dívida não é nossa”, gritavam em Paris, de acordo com o jornal Libération, cerca de 450 pessoas que se reuniram junto ao Hotel de Villê, onde fica a prefeitura da cidade. Parte dos manifestantes – o jornal El País fala em uma centena – foi detida por tentar continuar o protesto para além do que estava permitido.
Desemprego e “austeridade”
A Espanha tem a maior taxa de desemprego dos 17 países do Euro. Portugal tem a quarta – os dados da Grécia não foram divulgados. Entre as pessoas com menos de 25 anos, quatro em cada 10 espanhóis e dois em cada 10 portugueses estão desempregados. Além disso, nos dois países a proporção de empregos temporários, considerado precários, atinge entre os jovens 58,6% e 57,3%, respectivamente.
“Consegui trabalho há uma semana”, disse o catalão Victor Rovira, 27 anos, que acompanhava o protesto em Lisboa. “Gostaria muito de estar em Barcelona, então vim fazer aqui o que não podia fazer em casa”. Com mestrado em gestão de patrimônio cultural, está dando aulas de castelhano em uma escola de línguas, sem contrato.
Com agências