Organizações feministas peruanas convocaram uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (1º) para lembrar que os casos de esterilizações forçadas praticadas em milhares de mulheres no país durante o mandato de Alberto Fujimori seguem abertos em diversos tribunais internacionais.
O encontro foi organizado após declarações de Rafael Rey, aspirante à Vice-Presidência ao lado da candidata Keiko Fujimori. Segundo ele, as esterilizações não foram feitas “contra a vontade” das mulheres, mas “sem seu consentimento”.
María Ysabel Cedano, da organização Demus, explicou que, em 2010, depois que a Procuradoria peruana arquivou definitivamente 2.074 denúncias, foi apresentado à CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) um novo pedido de abertura de processo por dois casos de mulheres submetidas a esterilizações sem serem informadas previamente.
“A luta por justiça das mulheres há mais de dez anos ainda não terminou”, afirmou Cedano, que lembrou que a Procuradoria arquivou as denúncias por considerar os casos crimes comuns (e não contra a humanidade) já prescritos.
A ativista mencionou outro caso anterior, o de uma mulher da serra andina morta após ser esterilizada à força, que também foi apresentado à CIDH, e lembrou que, com a mediação da Comissão, o Estado peruano e familiares da vítima chegaram a um acordo amigável em 2003.
Já María Jennie Dador, do Movimento Manuela Ramos, negou que as esterilizações realizadas durante o regime Fujimori fossem casos isolados e relacionados à prática individual de alguns médicos. Essa tese foi dita na última terça-feira por Alejandro Aguinaga, ministro da Saúde à época e que atualmente integra a equipe de Keiko Fujimori.
Dador insistiu que as esterilizações constituíram um “programa de Estado” para erradicar a pobreza no país, uma afirmação que respaldou com documentação.
As organizações feministas esperam que a CIDH tramite o novo pedido e se pronuncie favoravelmente nos dois casos para que, a partir daí, o Estado peruano realize uma nova investigação e o Poder Judiciário emita finalmente uma sentença.
O Ministério da Saúde documentou 200 mil esterilizações entre 1996 e 1997. Além disso, há 18 casos documentados de práticas cirúrgicas que resultaram em morte, assinalaram as ativistas.
As práticas de controle de natalidade durante o governo Fujimori se transformaram nos últimos dias em uma das principais acusações que recaem sobre Keiko.
Keiko disputará a Presidência do país no próximo domingo, 5 de junho, com o candidato nacionalista Ollanta Humala, e as últimas pesquisas apontam para um empate técnico.
Fonte: EFE