Em livro, Bush admite erros e diz que autorizou o uso da tortura

O ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush (2000-2008) encerrou o silêncio mantido desde que deixou a Casa Branca, há dois anos, com o lançamento de um livro de memórias. A autobiografia Decision Points (Momentos Decisivos) aborda aspetos polêmicos de seu mandato, como a guerra no Iraque, a tortura em interrogatórios, os planos dos EUA para atacar Síria e Irã, a tragédia causada pelo furacão Katrina e o alcoolismo do ex-presidente.

No entanto, poucas revelações sobrarão para aqueles que comprarem o livro. Antes dos primeiros exemplares chegarem às livrarias, alguns trechos já foram divulgados na imprensa e Bush concedeu entrevistas nas quais antecipou as declarações mais controversas.

Hoje com 64 anos, Bush reconhece erros cometidos durante seu mandato. Para ele houve falta de atenção do governo após a devastação provocada pelo furacão Katrina na cidade de Nova Orleans, em 2005. “Foi um erro enorme”, afirmou Bush em entrevista à rede NBC, referindo-se ao fato de que passou a imagem de um presidente “distante e indiferente”. Na época, ele já enfrentava uma série de críticas pela lenta resposta à catástrofe.

O Katrina também originou o que Bush considera “um dos pontos mais baixos” de sua presidência, pois o rapper norte-americano Kanye West o acusou de racismo e disse que ele não se importava com os negros, maioria em Nova Orleans.

Os comentários de West afetaram a imagem do ex-presidente, assim como as críticas à  Guerra do Iraque e os métodos utilizados para interrogatórios de prisioneiros suspeitos de pertencerem à rede terrorista Al Qaeda após o 11 de Setembro. “Pensei nas 2.971 pessoas que foram afastadas de suas famílias (…) e no meu dever de proteger meu país de outro ato terrorista”, escreveu o ex-presidente, numa tentativa de justificar as técnicas de afogamento usadas em interrogatórios.

Em recentes entrevistas e no livro, Bush confirmou ter autorizado o uso de asfixia simulada e o waterboarding – simulação de afogamento – para tirar informações de Khalid Sheikh Mohammed, considerado pelos EUA o cérebro dos ataques e disse que aquela foi a decisão “correta”.

Em declarações ao jornal britânico The Times, Bush reconheceu que três pessoas foram submetidas a essas práticas, para ele legítimas, por terem ajudado a frustrar atentados contra o aeroporto londrino de Heathrow e a região de Londres conhecida como Canary Wharf.

“Capturamos esse homem, o principal agente operacional da Al Qaeda, que havia matado mais de três mil pessoas”, afirmou Bush. “Considerávamos que ele tinha informações sobre outro ataque. Mas ele nos dizia que só falaria na presença de seu advogado. E eu pergunto: que opções legais nós tínhamos?”.

Armas de destruição em massa

Bush disse que “se sente doente”, com “náuseas”, quando relembra que não foram encontradas armas de destruição em massa no Iraque, o argumento utilizado para a invasão do país árabe em 2003.

“Era uma voz dissidente [que o motivou dentro do governo]. Não queria utilizar a força” contra o Iraque, se esquivou Bush em entrevista à NBC. Ainda assim, o ex-presidente insistiu que o mundo “está definitivamente melhor” sem o ex-líder iraquiano Saddam Hussein. “Apesar de todas as dificuldades depois [da decisão de invadir o Iraque], os EUA estão mais seguros sem um ditador homicida, que desejava armas de destruição em massa e apoiava o terrorismo no coração do Oriente Médio”.

Bush disse também que a maior falha durante a Guerra do Iraque foi a precoce diminuição das tropas norte-americanas após a queda do regime de Saddam Hussein

Política interna

O livro revela ainda que Bush chegou a considerar a substituição do vice-presidente Dick Cheney, que havia se tornado “uma atração para as críticas vindas da imprensa e da oposição, apesar de ter ajudado com partes muito importantes” do governo.“[Afastá-lo] provaria que era eu quem mandava”.

Em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey, Bush afirmou não ser um “cientista político”, após ela pedir sua opinião sobre as eleições legislativas, que resultaram na perda da liderança da Câmara pelo Partido Democrata.

O ex-presidente também prefere não criticar Barack Obama, mas fez elogios ao sucessor, afirmando que seu carisma o impressionou antes das eleições de 2008. “Obama tem um trabalho muito difícil pela frente, acreditem. Ele terá muitos críticos, e não precisa que eu seja um deles “, disse Bush.

O livro será publicado nesta terça-feira. Bush permaneceu praticamente longe da cena política e em silêncio sobre a política no país desde que deixou Washington e regressou ao Texas no início de 2009.

Fonte: Opera Mundi

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