Para Itamaraty, sucesso do acordo com o Irã dependerá de postura da ONU

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (19) que depende do Conselho de Segurança da ONU sentar com disposição de negociar o acordo que Brasil e Turquia conseguiram com o Irã. “Se sentar sem querer negociar, vai voltar tudo à estaca zero”.

Segundo Lula, o acordo é “exatamente o que os Estados Unidos queriam fazer há cinco, seis meses”. Ontem, os Estados Unidos entregaram ao Conselho de Segurança da ONU uma proposta de sanções ao Irã, com o apoio dos outros países que têm vaga permanente no grupo.

Lula tem falado pouco sobre o acordo. Depois que voltou de Teerã e foi para Madri, apenas comentou em discursos a repercussão da promessa feita pela República Islãmica. Ao responder a jornalistas sobre a mudança de posição da Rússia e China, que deram apoio ao acordo e depois ficaram do lado norte-americano sobre as sanções, Lula se limitou a dizer que “são grandes amigos”.

Ao discursar no seminário Aliança para Nova Economia Global”, o presidente brasileiro criticou a ONU e disse não concordar com a atual governança global. “Apesar de 140 países terem assinado a reforma das Nações Unidas, quem já está sentado na cadeira não quer mudar”, destacou.

Lula ainda disse que há países que defendem que a ONU não seja fortalecida. Para ele, há quem pense que quanto mais fraca forem as Nações Unidas, mais decisões serão unilaterais, predominando a idéia dos países mais fortes. E concluiu: “Se a ONU continuar assim, nós vamos ter problema sério de governança global”.


Tanto Lula como o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, continuam em contato com líderes mundiais para explicar o acordo assinado em Teerã. Pelo combinado, o Irã poderá enriquecer 1,2 mil quilos de urânio a 20%, em outro país, recebendo em troca material combustível necessário às suas pesquisas nucleares. O Irã permitirá a presença de inspetores da Agência Nacional de Energia Atômica (Aiea) em seu território para acompanhar os detalhes do compromisso assinado ontem.

Segundo o chanceler, que conversou nesta terça-feira com jornalistas no Itamaraty, em Brasília,  ninguém conseguirá ignorar o acordo assinado em Teerã. “Um jornal insuspeito como o Financial Times faz hoje uma apreciação muito razoável sobre as possibilidades que o acordo abre. Acho que ignorar esse acordo seria uma atitude de desprezar uma solução pacífica. Não creio que se possa fazer isso”.

Amorim disse que antes de viajar com Lula para Teerã já tinha tomado conhecimento de que membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) estariam elaborando resolução propondo novas sanções contra o Irã, mas aguardariam os resultados da viagem de Lula. Segundo Amorim, ainda não houve tempo para uma análise do documento. “Se você tem um resultado e no dia seguinte alguém apresenta uma resolução de sanções, na realidade a espera era puramente protocolar”.

O ministro disse que o anúncio de que o Irã continuaria com seu programa de enriquecimento de urânio mesmo após a assinatura do acordo com o Brasil e com a Turquia é assunto para ser tratado numa segunda etapa.

“Nós não pretendíamos resolver todos os problemas de uma única vez. Isso exige uma conversa não com o Brasil, mas com os integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU, sobre cujos resultados sou otimista. Nós pusemos a bola na área, mas quem tem que fazer o gol são os membros permanentes do Conselho e os representantes da Agência Nacional de Energia Atômica (Aiea)”.

Amorim ressaltou que a continuidade do programa de enriquecimento do urânio não fez parte das negociações que resultaram no acordo assinado ontem. “Eu confio no bom senso das pessoas e acho que nós ajudamos a dar uma chance para uma negociação pacífica. Não fomos nós que inventamos o acordo. Ele já tinha sido proposto pelo Conselho de Segurança da ONU e pela agência atômica”.

Segundo o ministro, o que o Brasil e a Turquia fizeram foi procurar uma maneira de operacionalizar o acordo assinado com o Irã. “Acho, portanto, que isso deveria ser examinado com muita atenção por quem vai propor novas sanções contra o país. Quem desprezar essa chance de negociações pacíficas e achar que sanções são necessárias que assuma a responsabilidade assim como nós assumimos as nossas”.

Com informações da Agência Brasil

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