Estive na última sexta-feira (26) no ato organizado pelo Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo nos arredores da sede do Governo Paulista. A versão da imprensa oficial me assustou assim que liguei a televisão: uma assustadora cena de ficção avançava e retrocedia no tempo, montando uma narrativa grotesca.
Pois vamos aos fatos. Enquanto a comissão do Sindicato era recebida, os professores saíram em passeata rumo ao Palácio e foram impedidos de prosseguir pela barreira da tropa de choque. O “pequeno grupo não identificado” que a matéria se referia eram os 10 mil professores e professoras participantes da manifestação.
Eu estava na barreira policial quando tudo começou. O clima era tenso, mas controlado. Aproveitando-se de um empurra-empurra a polícia não titubeou: bombas, gás pimenta, balas de borracha e cassetetes. Caí no chão com vários professores no meio do tumulto, perdi os sapatos e fui atingido no rosto de raspão – comigo só um arranhão e um tornozelo torcido, mas muita gente ficou foi bastante ferida. E, diferente da versão “oficial”, a verdade é que absolutamente tudo começou por responsabilidade da Polícia Militar. Ela iniciou um confronto desnecessário. Em determinadas situações podemos atribuir desfechos como este ao despreparo e truculência policial. Presenciei tudo e afirmo: a PM atacou os professores de São Paulo e o fez de maneira deliberada.
Todos temos acompanhado nas últimas semanas o debate público que tem ocorrido sobre a greve dos professores. O Governo de São Paulo através de vários representantes tem afirmado que trata-se de uma greve política, uma afirmação de caráter bem duvidoso. Afinal, bendita é a sociedade que tem nos seus professores uma parcela consciente e politizada.
No caso da APEOESP, podemos afirmar com toda a certeza que trata-se de uma categoria organizada, que mesmo com suas divergências sabe unificar-se para lutar pelos seus direitos. Por isso, os professores da rede pública paulista têm tradição nas suas passeatas dando demonstrações de força e combatividade.
Os estudantes apóiam a greve. Estávamos presentes hoje novamente para concordar que as condições de trabalho do professorado paulista deixam muito a desejar: o salário base de um professor no Estado mais rico do Brasil varia de R$ 785,50 a R$ 909,32. Concordamos também que as atuais políticas de bônus e gratificações não são a solução.
Coitado do Governante que não sebe ouvir. O Governo de São Paulo prefere desconsiderar as reivindicações dos professores paulistas. Suas afirmações recentes e a reação da Polícia no ato de hoje revelam uma face autoritária. No caso do Governador de São Paulo, além da inexplicável inabilidade para alguém que iniciou sua trajetória no movimento social, presidindo a UNE inclusive, trata-se de um defeito grave para alguém que pleiteia assumir a Presidência da República.
A consolidação da democracia brasileira exige que a relação Governo-Sociedade se dê em outro tom. Disposição e coragem aos professores de São Paulo que devem perseverar na sua luta. Os estudantes e todos os que acreditam numa educação de qualidade continuarão a apoiá-los!
Augusto Chagas é presidente da União Nacional dos Estudantes