Socorro Gomes
No ano do 51º aniversário da Revolução Cubana — marco da luta latino-americana pela autodeterminação dos povos —, os setores mais conservadores da comunidade internacional deflagraram nova campanha contra Cuba. A escalada teve como estopim a morte, em 23 de fevereiro, de Orlando Zapata Tamayo — um cubano de 42 anos, detido nos marcos da legalidade por “delinquência comum” (e não um “preso político” nem “dissidente”), que estava em greve de fome havia 85 dias.
As agressões partem desde a Casa Branca, o Parlamento Europeu e da base conservadora do Senado brasileiro até os conglomerados midiáticos, passando pelas famigeradas ONGs tão subservientes aos interesses imperialistas. Com muitas insinuações — mas sem apresentarem um único indício de tortura, sequestro e desaparecimento em Cuba —, levantam a grita para clamar por sanções econômicas e, no limite, intervenções no regime cubano.
A Guillermo Fariñas Hernández, outro cidadão cubano em greve de fome — mas já solto, livre! —, o governo propôs até uma licença de emigração para a Espanha, recusada por ele e, claro, pelas forças subversivas que lhe dão apoio.
O excesso de cinismo desses grupos não mereceu respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que com razão comparou o status jurídico desses supostos “dissidentes” ao de rebelados em unidades prisionais de São Paulo. Declarou ainda que o governo brasileiro se relaciona diretamente com outros governos, e não com seus presos.
Da mesma forma, o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) repudia a ofensiva anticubana. Denuncia o caráter imperialista, a ingerência e a hipocrisia que cercam os discursos exaltados. Tudo se dá sob uma denúncia de pretensa violação dos direitos humanos, da qual até o Itamaraty e o governo brasileiro seriam cúmplices — apenas por respeitarem o princípio de soberania nacional.
A quem interessa a manobra para pressionar Lula e o Brasil a rasgarem suas biografias e, de uma hora para outra, se posicionarem como sabujos dos interesses do imperialismo estadunidense, da intromissão, da política de terrorismo de Estado? Por que a grande mídia brasileira e a oposição a Lula, liderada pelo PSDB, esbravejam com ardor para desestabilizar uma pequena e pobre nação caribenha, mas ignoram a prolongada e repugnante ocupação do Iraque e do Afeganistão? Sem contar a complacência com Israel e sua criminosa política de Estado contra os palestinos.
As mesmas forças contrárias a Cuba apoiam, em contrapartida, a instalação de bases navais americanas e a retomada da 4ª Frota no continente, fazem vista grossa à manutenção da prisão de Guantánamo, afrouxam o tom contra as guerras no Iraque e no Afeganistão, continuam a chancelar o golpe de Estado em Honduras, entre outros descalabros. Sequer mencionam os cinco cubanos patriotas e contraterroristas que estão ilegalmente presos nos Estados Unidos, sem direito à defesa, sob critérios abusivos.
É preciso apoiar a luta histórica do povo cubano pelo novo mundo e pela justiça social, contra as desigualdades, a fome e a opressão. Há cinco décadas, Cuba convive com um criminoso bloqueio econômico, que exaure — este, sim — a dignidade humana e põe 11 milhões de pessoas sob ameaça de asfixia.
Abaixo a escalada de agressões a Cuba, a intromissão e o bloqueio econômico!
Viva a heroica resistência do povo cubano em luta por autodeterminação e soberania.
Socorro Gomes é presidente do Conselho Mundial da Paz e do Cebrapaz