É só isso que está faltando nesse início de 2010.
A discussão, que era pra ser sobre comunicação, enveredou pela politica. Lembrei aos amigos que na América Latina há – claramente – uma reorganização das forças da direita. Curioso que a direita retome a ofensiva justamente quando Obama chega ao poder. Parece que Obama (para ter energia nos combates internos que trava com os republicanos) abriu mão de interferir no aparelho conservador que segue dominando as ações dos EUA no exterior.
Esse aparelho dá apoio à ofensiva da direita no continente. Garcia, no Peru, investe contra a Bolívia. Uribe abre as portas para novas bases dos EUA na Colômbia. Hillary e sua tropa (!) dão apoio aos golpistas de Honduras. Lugo é emparedado pela direita no Paraguai. Cristina Kirchner vê a direita partir pra cima do governo na Argentina.
No Chile, joga-se o próxmo round dessa disputa. No domingo, um candidato da direita (e lá é direita mesmo, pinochetista, ele não finge que é de “centro”) segue à frente nas pesquisas, e pode levar de volta ao La Moneda a coligação que deu sustentação ao general ditador.
Análisávamos o quadro quando alguém lembrou o óbvio. “O Brasil está no centro de tudo; se cair o Brasil, cai o resto”.
Esse é o jogo.
Vejam: não estou a dizer que Serra seja da extrema-direita. Isso não é verdade. Goste-se ou não de seus métodos, ele é hoje um homem de centro. Não pode ser comparado a Bornhausen, ACM e outros. Mas o fato é que a política jogou Serra para uma coligação direitista; e ele aceitou o jogo.
Os grandes capitalistas não achariam ruim uma vitória de Dilma. Ganham dinheiro com o governo Lula. Sabem que é preciso distribuir renda, e reduzir as iniquidades. Assim eles faturam mais. Lula fez (e faz) um governo social-democrata, moderado.
Mas a direita orgânica, preconceituosa, que acha “nordestino vagabundo” e não quer “quota para preto safado” (são expressões que eu ouço aqui em São Paulo), essa direita está salivando. É a turma que baba na gravata, de raiva, ao pensar em Dilma (a “terrorista”) no poder.
São vários os setores que se alvoroçam no Brasil nesse início de 2010: a classe média raivosa, os partidos de oposição (por terem perdido o aparato do Estado – imaginem mais 4 ou até mais 12 anos de petistas no poder; seria o fim para o demo-tucanato), os donos da grande mídia (por terem perdido verba publicitária para veículos do interior, inteligente estratégia do governo Lula para quebrar a espinha dorsal do PIG).
Eles vão se agarrar no que puderem, pra atacar Dilma. É do jogo.
A reportagem que a “Band” levou ao ar, sobre o Plano de Direitos Humanos, é quase uma piada. Mas devemos levar a sério. É um sinal de que o desespero chegou. A coalizão de 64 já não tem força para marchar nas ruas, imagino. Mas eles ainda têm a mídia para aterrorizar os cidadãos. O Azenha reproduziu o texto da “reportagem” da Band aqui.
Na reunião de ontem, um veterano militante lembrou que nos anos 60/70 costumava-se subestimar a direita. “Quando, numa peça de teatro por exemplo, íamos caracterizar um sujeito como consrevador, ele era caracterizado normalmente como obtuso, sem brilho; e não é assim que as coisas funcionam”.
De fato. Não vamos subestimar a direita. Ela fará tudo, muito mais do que em 2002 ou 2006, para impedir outra vitória da centro-esquerda. Até porque agora há o aval de um movimento em toda a América Latina, para barrar qualquer traço de reforma social.
O embate será pesado. A batalha do Brasil é a mais importante na grande disputa pela América Latina.
Fonte: blog Escrivinhador