O flagelo da recessão nos EUA: 85 mil empregos destruídos em dezembro

Os capitalistas norte-americanos destruíram 85 mil postos de trabalho em dezembro, segundo dados do governo divulgados nesta sexta-feira (8). A informação oficial, que coincide com estatísticas divulgadas na quinta (7) pela empresa que processa a folha de pagamentos do setor privado no país (ADP), caiu como uma ducha de água fria no ânimo do governo e de investidores e analistas que apostavam na recuperação do mercado de trabalho e esperavam um corte bem menor (de 8 mil vagas).

É um claro sinal de que o fundo do poço da crise que perturba a maior economia capitalista do mundo ainda não foi alcançado. A recessão teve início há mais de dois anos, em dezembro de 2007, na sequência da bolha imobiliária, que começou a murchar em 2006. Desde então, 7,7 milhões de trabalhadores e trabalhadoras foram acrescentadas ao exército de desempregados, que já conta cerca de 17 milhões. Somente no ano passado, as demissões líquidas (ou seja, descontadas as admissões) somaram 4,2 milhões.

Efeitos desiguais

A taxa de desemprego aberto, calculada pelo governo, subiu de 4,6% para 10% no período. A realidade do mercado de trabalho é mais trágica do que o índice oficial de desocupados sugere. Este considera apenas os assalariados que procuraram emprego ao longo dos 30 dias anteriores à pesquisa. Já os que vivem à base de “bico” e os desempregados no desalento (aqueles que desistiram de procurar um novo posto de trabalho durante a crise) são ignorados. Se fossem levados em conta, a taxa subiria a 17,3%, segundo os especialistas. 

Os números não deixam margem a dúvidas: esta é a mais grave crise do capitalismo americano desde a Grande Depressão que atravessou os anos 1930 e contribuiu fortemente para ascender o pavio da Segunda Guerra Mundial. Todo mundo padeceu e padece as conseqüências das tormentas provenientes do poderoso império, embora de forma desigual.

Os países que compõem o chamado BRIC – China, Índia, Brasil e Rússia, com exceção desta última -, sofreram menos. Tendo o desempenho do PIB por critério, o Brasil praticamente perdeu o ano de 2009, que terminou com taxa de crescimento próxima de zero. Mas a economia nacional já está em franca recuperação, com um mercado de trabalho bem aquecido. O comportamento da China, que tem a segunda maior economia do planeta, foi muito melhor. O país mais uma vez surpreendeu o mundo ao exibir uma taxa de crescimento de cerca de 8% (ano passado), tendo um papel essencial no amortecimento da crise mundial, especialmente no Brasil, de quem se tornou o maior parceiro comercial, desbancando o decadente império do norte.

Alimento para a crise

As demissões nos EUA em dezembro atingiram a construção civil, a indústria manufatureira e o comércio atacadista, segundo as informações divulgadas pelo Departamento do Trabalho. É um cenário desesperador para a classe trabalhadora, que embora não seja a responsável pela crise do capitalismo é quem acaba pagando sua salgada conta. Isto ocorre em função da condição subalterna que trabalhadores e trabalhadoras ocupam no processo de produção e reprodução do capital e das relações sociais (e de poder) estabelecidas no interior do sistema, fundadas no monopólio privado dos meios de produção e na apropriação (pelos capitalistas) da riqueza produzida, em detrimento dos produtores.

O desemprego não é apenas um flagelo para trabalhadores despojados dos meios de produção, que necessitam vender sua força de trabalho para sobreviver. É uma espécie de câncer para as economias, uma doença que impede a recuperação da produção e realimenta a recessão ao deprimir o consumo do povo e, por consequência, o comércio e a indústria. Por esta e outras razões, apesar da euforia irracional das bolsas, enquanto o mercado de trabalho não reagir positivamente é bobagem falar em recuperação.

Ilusões reformistas

Imaginava-se que a eleição de Obama aliviaria o sofrimento da classe operária. Foi uma vã esperança reformista. O novo presidente não teve peito para enfrentar Wall Street. O governo que dirige destinou trilhões de dólares aos banqueiros, a pretexto de salvar o corrompido sistema financeiro da completa bancarrota. Pouco ou nada fez pelos trabalhadores, que continuam sofrendo com as demissões em massa e as execuções hipotecárias.

A verdade, que transparece nos fatos, é que os interesses da oligarquia financeira continuam soberanos na definição da política (interna e externa) dos EUA, uma política imperialista que, por definição, é antissocial, antagônica aos interesses dos povos (inclusive o norte-americano) e da própria humanidade.

O caminho para superar os impasses revelados pela crise mundial do capitalismo é o da luta enérgica e sem fronteiras contra o sistema capitalista e imperialista. O socialismo é uma necessidade histórica candente.


Umberto Martins é jornalista e editor do Portal CTB

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