Em 1989, o Brasil preparava-se para a sua primeira eleição direta, após os anos da ultima ditadura. O resultado daquela eleição foi trágico para o nosso sonho de eleger um legítimo representante da classe trabalhadora. O então “caçador de marajás”, Fernando Collor de Mello vence a eleição. A história que envolveu a eleição todos nós conhecemos, inclusive os fatos marcantes que posteriormente resultaram no impedimento do presidente eleito.
Entre os acontecimentos que antecederam a eleição, além da unidade concretizada na Frente Brasil Popular (PT, PSB e PCdoB), outro merece destaque no ponto de vista classista: a Greve Geral convocada pelo movimento sindical.
Inflação de 80% ao mês, recessão, arrocho salarial, desemprego galopante e aumentos constantes dos preços dos produtos de primeira necessidade. O governo Sarney interessado em salvar o seu “plano verão”; os empresários interessados apenas em descongelar os preços. Este era o ambiente político em que se desenvolveu a reunião do governo com os empresários, em março de 89. Ao final da reunião em que foram reconhecidas as perdas salariais dos trabalhadores e trabalhadoras, nenhuma proposta para a pauta de reivindicações da classe trabalhadora, que era: combate a inflação, ao desemprego e a recessão; congelamento dos preços; recuperação imediata das perdas salariais acumuladas nos últimos anos; reajustes mensais de acordo com a inflação.
Para a classe trabalhadora não restava outra saída, se não a Greve Geral, liderada pela CUT e a CGT que eram as centrais sindicais da época. A Greve Geral convocada para os dias 14 e 15 de março/89, teve grande mobilização dos sindicatos e obteve amplo apoio da população; 70% de adesão da população economicamente ativa; repudio contundente da população à política econômica do governo Sarney.
Em meio a este ambiente político de 89, destaca-se uma mulher de origem nordestina, uma brasileira na essência, sindicalista de militância, socialista de formação, Prefeita da Cidade de São Paulo, Luiza Erundina. Compreendendo a disputa que estava em jogo naquele momento histórico, Luiza Erundina, no exercício da sua liderança política, como prefeita da maior cidade da America Latina, solidária a luta da classe trabalhadora, ordena que a CMTC – Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos – mantenha os seus ônibus na garagem, em apoio a Greve Geral. Erundina divulga nota em jornal de grande circulação comunicando seu ato e seu apoio ao movimento dos trabalhadores e trabalhadoras. Este foi o “crime”, pelo qual Erundina é acusada e condenada a pagar uma multa de 350 mil reais pela justiça, após recorrer e perder em todas as instâncias.
Perguntada se está arrependida, Erundina afirma – “eu faria do mesmo jeito se as circunstâncias fossem as mesmas. Não me arrependo e não me sinto culpada, não errei e estou pagando o preço por uma posição coerente com minha trajetória política”.
Intimada a pagar a “dívida”, a soma dos bens de Luiza Erundina – um apartamento e dois carros – não seriam suficientes.
Assim, ocorreu uma campanha de solidariedade a Luiza Erundina, com a participação dos mais diversos setores da sociedade brasileira (movimento sindical, partidos políticos e cidadãos e cidadãs) que acreditam na atividade política para o bem comum e arrecadam o montante necessário para o pagamento da referida “multa”.
Luiza Erundina, no exercício de sua liderança que, por circunstâncias históricas a levaram ao cargo de Prefeita da Cidade de São Paulo e atualmente Deputada Federal, não sendo indiferente às mudanças que buscamos para o nosso País, contribuiu e continua contribuindo com as causas populares. Sua atitude em 89, entre tantas outras que poderíamos enumerar em todos estes anos de vida pública, é exemplo de coerência e inspira a todos e todas que acreditam no sonho de emancipação da classe trabalhadora, que começa com a solidariedade de classe.
Digna, coerente, socialista, assim é Luiza Erundina. Podemos chamá-la de nossa companheira.
“Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.” Che Guevara:
Joilson Cardoso é secretário Nacional de Políticas Sindicais da CTB e secretário Nacional Sindical do PSB