A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou nesta quinta-feira, por 12 a 5, o ingresso da Venezuela ao Mercosul. Essa decisão é muito importante para o Brasil e para a região. Com a Venezuela, o Mercosul soma uma população de 250 milhões de pessoas e um PIB de um trilhão de dólares.
O Mercosul, organizado desde 1991, é constituído pela República Argentina, República Federativa do Brasil, República do Paraguai e República Oriental do Uruguai, os chamados Estados Partes.
Os Estados associados são Bolívia, Chile, Peru, Equador e Colômbia. O fortalecimento do Mercosul é uma resposta no sentido contrário à NAFTA e aos tratados de livre comércio (TLC) bilaterais que os EUA procuram impor à região.
Os senadores que se opunham a essa decisão contrariavam os interesses do Brasil e da integração latino-americana, um dos objetivos estratégicos do país. A República Bolivariana da Venezuela, presidida por Hugo Chávez, deslocou o eixo de sua economia do norte para o sul, e isso só traz vantagens para o Brasil e para o Mercosul.
Alguns números: o saldo comercial do Brasil com a Venezuela é de 4,6 bilhões de dólares, enquanto com os EUA é de apenas 1,6 bilhão de dólares. Além disso, empresas brasileiras tem grandes negócios no vizinho país.
A Odebrecht tem contratos de 10 bilhões de dólares para a construção de 80 km do metrô de Caracas, ponte sobre o Rio Orinoco e outras obras. A Camargo Corrêa tem negócios de um bilhão de dólares, a Andrade Gutierrez de 4 bilhões de dólares, a Brasken de 1,5 bilhão de dólares e a Gerdau de 92 milhões de dólares.
Além disso, a Venezuela tem um Fundo Nacional de Desenvolvimento de 17 bilhões de dólares. Hisotricamente, os principais parceiros comerciais da Venezuela tem sido os EUA e a Colômbia. Agora, pode vir a ser o Mercosul, principalmente depois da saída desse país do Pacto Andino.
A Venezuela importa 70% de tudo o que consome e sua fonte essencial de renda é o petróleo. O país tem a sexta reserva certificada de petróleo do mundo, com 80 bilhões de barris, e estima-se que tenha mais 236 bilhões de barris na região do Rio Orinoco.
O ingresso da Venezuela no Mercosul é estratégica para a região, em todos os sentidos. Os argumentos políticos contra o governo Hugo Chávez não se sustentam. O país defende uma solução política para a crise da Colômbia porque, entre outras coisas, há dois milhões de colombianos morando na Venezuela e a opção militar unilateral do governo Uribe contra as FARC gera tensões internas.
Em matéria de democracia, Hugo Chávez realizou doze eleições desde 1998 e só perdeu uma. E a oposição, ao contrário do que se insinua, não só tem atuação legal como dirige cidades importantes, como a capital Caracas.
O posicionamento de Chávez contrário às bases militares na Colômbia e a reativação da Quarta Frota dos EUA, uma clara ameaça à soberania dos países da região, é compartilhado por todos os países do Mercosul.
A luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento do Brasil tem na integração latino-americano um dos seus pilares essenciais. A entrada da Venezuela no Mercosul joga água nesse moinho.
Nivaldo Santana é vice-presidente da CTB Nacional