Cerca de 300 detidos. Esse é o resultado da "violenta" repressão militar e policial, na
manhã de hoje (22), contra a manifestação pacífica de milhares de hondurenhos em comemoração à entrada do presidente deposto Manuel Zelaya no país. A denúncia é da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado. Algumas denúncias, todavia, indicam que existam pessoas mortas.
Após dois dias de viagem por terra, Zelaya ingressou em Honduras e obteve refúgio na
embaixada brasileira, na capital Tegucigalpa. Na noite de ontem, o governo provisório cortou
água, luz e telefone no local e estabeleceu toque de recolher na cidade.
Centenas de pessoas estão detidas no complexo desportivo José Simón Azcona, em Chochi Sosa, extremo da cidade. "Se não fazemos ruído, podemos escutar seus lamentos", disse em nota Gabriel Galeano, um militante hondurenho que mora nas proximidades. Segundo ele, "há
centenas de feridos e, ao menos, uma morte". Segundo últimos informes da Via Campesina dá
conta de três pessoas estariam mortas.
As forças policiais dispersaram os milhares de manifestantes diante da embaixada. Tanques
disparam água a pressão, balas de gomas e gases lacrimogêneos. O efeito dos gases cobriu
vários quarteirões próximos da embaixada brasileira. O grupo teme pela vida de Zelaya.
Às 5h locais de hoje (8h em Brasília), "os corpos repressivos fizeram uso de armas de fogo,
bombas de gás lacrimogêneo, gás de pimenta e balas de goma, contra as pessoas que se
encontravam no lugar", denunciou uma nota da Frente. Alguns feridos a bala e agredidos se
encontram no Hospital Escuela. Ao menos oito homens estão hospitalizados e o local foi
militarizado.
A Organização Política Los Necios (OPLN), de Honduras, também repudiou a repressão contra as
manifestações. "Exigimos o fim da repressão por parte da polícia e do exército. Reiteramos o
chamado ao povo hondurenho para que se incorpore à luta e marche por cima das medidas
ilegais e ilegítimas impostas pelo regime militar", pontuou.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pediu hoje ao governo provisório que
adote medidas "urgentes" que garantam o direito à vida, à integridade e à liberdade de
expressão.
"Todas as pessoas, sem distinção, devem estar igualmente protegidas no exercício de seus
direitos à liberdade de expressão, reunião e participação política", reforçou a CIDH em
comunicado.
O órgão autônomo da OEA (Organização dos Estados Americanos) considerou que Micheletti tem
usado as forças públicas de modo "excessivo" em cidades como Tegucigalpa, na cidade
industrial de San Pedro Sula, em Choloma, em Comayagua e em El Paraíso, município na
fronteira com a Nicarágua.
Outras ações dos golpistas
O governo provisório de Roberto Micheletti estabeleceu toque de recolher em Tegucigalpa, das
16h de ontem (19h em Brasília) às 18h de hoje (21h em Brasília). Os golpistas cortaram água,
telefone e energia das proximidades da embaixada brasileira.
O prédio está funcionando com gerador de energia, e seus funcionários foram liberados do
serviço. O encarregado de negócios Francisco Catunda Resende está respondendo pela
embaixada.
"Atacaram a embaixada com bombas", denunciou Zelaya em entrevista, por telefone, para as
televisões locais. "Estamos rodeados de francoatiradores", completou. O presidente deposto
disse não saber quando deixa a embaixada brasileira.
Zelaya esperava a chegada do secretário geral da OEA, José Miguel Insulza, prevista para
hoje, mas o governo de Micheletti fechou os quatro aeroportos internacionais do país, o que
impossibilitou sua entrada.