Defender o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável muita gente faz há muito tempo. Mas de fato há uma diferença grande entre ‘defender’ o meio ambiente e possuir de fato propostas para que o desenvolvimento econômico e social de um grande País como o Brasil seja alcançado, ao mesmo tempo em que se garanta os meios e recursos necessários para que não seja comprometida a ‘capacidade de atender as necessidades das futuras gerações’.
A grande roda da economia mundial não vai simplesmente parar porque belas canções protestam denunciando a caça de espécies animais em extinção, não vai parar porque jovens nus pintados de verde e vermelho deitam-se uns sobre os outros reclamando do desmatamento. Embora o simbolismo da arte e dos protestos cumpram um papel fundamental de sensibilização da sociedade para o assunto, o alcance dos parâmetros necessários para que a humanidade trilhe o caminho da sustentabilidade ambiental será longo, e a sensibilização para a questão é um passo necessário, mas insuficiente.
O desafio político de longo prazo da questão ambiental, de maneira geral mas no Brasil em particular, diz respeito fortemente à reorientação da agenda de desenvolvimento tecnológico.
Nos EUA, no governo Obama, as agências estatais de financiamento à pesquisa têm exigido dos pesquisadores que suas pesquisas tenham como foco temas como ‘energias alternativas’ e ‘tecnologias limpas’. No Brasil, a agenda da Política de Ciência e Tecnologia ainda é resumida à chamada ‘agenda da ciência’, fruto de uma visão de senso comum que cria uma suposta dicotomia entre ‘ciência pura’ e ‘ciência aplicada’, quando já é de corrente entendimento nos círculos mais afeitos aos debates de enfoque econômico e sociológico sobre Política de Ciência e Tecnologia que já não há mais ‘ciência e tecnologia’, mas ‘tecnociência’.
A chamada ‘agenda da ciência’ é fruto de uma visão institucional de desenvolvimento tecnológico que entrou em crise nos EUA no final dos anos 1970. Por lá, descobriram que não haveria ‘ciência pura’ porque não há ‘ciência neutra’. O motor do desenvolvimento tecnológico são as demandas de mercado, portanto, a agenda da ‘tecnociência’ é estabelecida pela agenda do sistema produtivo.
Tornar a estrutura do sistema produtivo ambientalmente sustentável exige uma agenda de desenvolvimento tecnológico orientada para este objetivo, não como meta acessória, mas como meta principal. Nenhum discurso ambientalista será sério se não for propositivo, e nenhuma proposta será séria se não levar em conta a importância da agenda de desenvolvimento tecnológico.
No Brasil, a Política de Ciência e Tecnologia ainda não é vista seriamente como instrumento de Política Ambiental mesmo pelos setores que se consideram os mais avançados na ‘defesa’ do meio ambiente. A sociedade cobra resultados de Políticas Públicas de diversos setores, mas não cobra resultados das Políticas Públicas de Ciência e Tecnologia: por um lado ainda não sabe exatamente o que cobrar, por outro, nossos setores formadores de opinião ainda são tributários de uma visão pouco atual acerca da natureza da atividade científica, somos uma sociedade que soube elaborar uma crítica ao modelo do ‘burocrata ideal’ weberiano, mas que engole passivamente o modelo do ‘cientista ideal’ mertoniano, que seria desinteressado politicamente, observador fiel de um suposto ethos da ciência.
A ‘Agenda Verde’ não é tema isolado, ao contrário, é assunto que exige múltiplas interações com os mais diversos setores. Qualquer projeto político que pretenda assumir tal agenda de forma propositiva só o fará com sucesso se possuir real acúmulo de base social, política e técnica nos mais diversos setores, deverá possuir acúmulo real na luta social e deverá possuir ampla e consistente capacidade de formulação política.
Fora isso, é só discurso e oportunismo.
Joelmo Oliveira é diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia