Apesar da crise ou graças a ela, a produtividade do trabalho nos Estados Unidos subiu 6,4% no segundo trimestre de 2009, o que configura o melhor resultado em seis anos, de acordo com informações divulgadas recentemente pelo Departamento do Trabalho. O levantamento não abrange o setor agropecuário.
A informação despertou otimismo e foi celebrada por muitos economistas, empresários e políticos, a começar pelo presidente Barack Obama, como um sinal de que a crise na maior economia capitalista do mundo, onde tudo começou, está chegando ao fundo do poço.
Contudo, a classe trabalhadora não tem razão para comemorar, pois nas entrelinhas da notícia é possível perceber que tal resultado foi determinado fundamentalmente pela intensificação do grau de exploração do trabalho pelo capital.
Sinais contraditórios
De todo modo, a sensação de que o pior já passou foi reforçada pela queda dos estoques formados pelos atacadistas (-1,7%), interpretada por uns como sintoma de retomada e por outros como reflexo da recessão (ao invés de vender mais, eles simplesmente estão comprando bem menos) e pelo leve recuo (0,1%) da taxa de desemprego.
A diminuição da taxa de desemprego não significa recuperação do mercado de trabalho, que continua em deterioração, embora em ritmo mais lento. É explicada mais pelo crescimento do número de trabalhadores e trabalhadoras que desistiram de procurar emprego (caindo no que o Dieese classifica de desemprego por desalento, ignorado nos índices oficiais) do que pela oferta líquida de novos postos de trabalho, que não ocorreu. Julho terminou com um saldo de 247 mil demissões, verificadas em todos os setores da economia, segundo estatísticas divulgadas pelo governo.
Produtividade opressiva
A produtividade do trabalho é medida pela quantidade de mercadorias produzidas ao longo de determinado tempo de trabalho. Quando a produção por hora de trabalho cresce isto significa que a produtividade aumentou, mas o avanço pode ser causado por mais de um fator, cabendo destacar a introdução de novos meios de trabalho, sobretudo máquinas e equipamentos, ou simplesmente a intensificação do ritmo de produção, o que ocorre quando o trabalhador é pressionado a se esfolar um pouco mais durante a jornada.
Pressionado pela concorrência, os capitalistas buscam a elevação contínua do nível de produtividade através dos dois meios, ou seja, introduzindo novas tecnologias e intensificando o ritmo de trabalho, introduzindo novos métodos para eliminar o tempo morto ou a ociosidade da mão-de-obra no processo de produção. O tayotismo, na atualidade, assim como o fordismo e o taylorismo no passado são exemplos de métodos de organização do trabalho bolados para elevar a produtividade através da intensificação do ritmo de produção.
Nos dois casos, sob as condições do capitalismo, o avanço da produtividade tem um caráter opressivo para a classe trabalhadora, pois a menos que ocorra um aumento da produção e do consumo proporcional ao da produtividade empresas tendem a demitir parte dos seus funcionários para adequar a produção (mais alta) à demanda relativamente mais baixa, ao invés de reduzir a jornada de trabalho sem reduzir salários. Geralmente o resultado concreto disto é crescimento do desemprego e arrocho salarial. O aumento do ritmo de atividade, porém, tem um efeito ainda mais pernicioso que as novas tecnologias na medida em que prejudica a saúde dos trabalhadores, aumentando o stress e a incidência de doenças ocupacionais.
Os indicadores sugerem que a recente alta da produtividade nos EUA deve ser atribuída fundamentalmente à intensificação do ritmo de trabalho. O informe divulgado pelo Departamento de Trabalho explica que a produção total diminuiu 1,8% e as horas trabalhadas de todas as pessoas engajadas nas atividades pesquisadas caiu 7,5%.
Coisas do capitalismo
Como tanto a produção quanto os investimentos em novas tecnologias estão em baixa nos EUA em função da recessão, o avanço da produtividade no curso da crise só encontra uma explicação plausível na intensificação do ritmo de trabalho. Em outras palavras, a notícia divulgada terça-feira (11-8) pelo Departamento do Trabalho norte-americano é um sinal de que os capitalistas aumentaram o grau de exploração da força de trabalho.
A classe trabalhadora não pode ser culpada pela crise do sistema capitalista, mas os fatos revelam que ela é, de longe, a principal vítima da recessão. Os resultados de julho elevaram o número de demissões nos EUA para cerca de 7 milhões desde o início da recessão em dezembro de 2007; o exército de desempregados já se aproxima de 15 milhões, segundo dados oficiais, e estatísticas independentes já estimam a taxa de desemprego em mais de 16%.
Em contrapartida, os banqueiros que conduziram o sistema financeiro estadunidense à bancarrota parecem muito bem, obrigado. Estão distribuindo entre si bilhões de dólares de bônus generosamente doados pelo erário (através dos planos Bush e Obama, que destinaram 1,5 trilhão de dólares para salvar os bancos e algumas poucas empresas consideradas “grandes demais para falir”). Isto não é justo. É capitalismo.
Umberto Martins é jornalista e editor do Portal CTB