"Está evidente que os Estados Unidos estão apoiando o golpe de Estado em Honduras". A afirmação é do dirigente hondurenho José Obólio Fuentes, da Central Geral de Trabalhadores (CGT) de Honduras. Em São Paulo (Brasil) desde ontem (4) para informar sobre a situação de seu país, Fuentes afirmou à ADITAL que não acredita na disposição do governo de Barack Obama contra o golpe.
"Em Honduras, há um aeroporto dos gringos. Se eles quisessem ajudar, eles poderiam aterrissar com Zelaya no país", ressaltou o dirigente. No último dia 4, centenas de policiais e soldados impediram que a aeronave que transportava o presidente deposto pousasse no Aeroporto Internacional Toncontín, na capital Tegucigalpa.
Em depoimentos, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e o presidente Barack Obama se dizem contrários ao golpe. As entidades hondurenhas, no entanto, têm exigido medidas mais firmes e concretas de rechaço ao governo provisório de Roberto Micheletti. "Por um lado, eles dizem que apoiam [a restituição do presidente deposto], por outro eles não fazem nada. Não há sinceridade", criticou.
José Fuentes também criticou as tentativas de mediação de conflito do presidente costarriquenho e prêmio Nobel da Paz, Oscar Arias. "O que está fazendo o presidente da Costa Rica é um entretenimento, ele está enganando para que os golpistas se estabeleçam no poder". No último dia 22, Arias estabeleceu o Acordo de San José, que, dentre outras medidas, exigia a restituição de Zelaya ao poder.
O dirigente considerou "excelente" o apoio que as manifestações contrárias ao golpe têm recebido nos países latino-americanos. "Há muito apoio, mas a gente precisa de energia, de ações positivas, de um maior rechaço ao golpe", ponderou. "O movimento organizado tem se incorporado no processo de mobilizações, mas as manifestações não conseguem ir para fora do país".
Dentro de Honduras, no entanto, a situação é de desinformação. "As informações que estão chegando não são reais. Está tendo um controle do golpe de todas as informações". Para Fuentes, as únicas emissoras "confiáveis" são a televisiva Cholusat-Sur e a radiofônica Rádio Globo [que foi recentemente fechada pelo governo de fato].
Fuentes assegurou que "muitas pessoas têm sido pagas pelos golpistas para fazer campanha a favor do golpe. Mas as pessoas não acreditam e sabem disso", denunciou. Para ele, "uma parte [da população] tem medo [dos golpistas], mas muitos enfrentam. Há balas, muitos, muitos, muitos feridos, mortos, encarcerados, morte de dirigentes sindicais e de professores", enfatizou.
Na análise do dirigente, Manuel Zelaya vinha desenvolvendo políticas favoráveis à população mais pobre e camponesa. Segundo ele, o presidente deposto começava a solucionar cerca 750 questões de terra "que nenhum outro presidente resolvia". Zelaya também incrementou o salário mínimo, ampliado para 4.500 lempiras na área rural (cerca de US$ 225) e 5.000 lempiras na área urbana (cerca de US$ 250).
Hondurenho participa de ato em São Paulo
Na noite de ontem (4), José Obólio Fuentes participou, no Centro de São Paulo, de um ato em solidariedade ao povo hondurenho. A atividade foi organizada pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), e contou com a participação de Bernadete Monteiro.
A feminista integra o MMM e compôs a Missão Internacional de Solidariedade, Observação e Acompanhamento a Honduras, que visitou o país de 26 de julho a 1º de agosto. A missão foi composta por dez representantes das Américas e Europa e organizada pela Rede Birregional Europa, América Latina e o Caribe "Enlaçando Alternativas".
Segundo Fuentes, o golpe já demonstrou retrocessos políticos no país. O dirigente denunciou que o processo de titulação de terras parou e, em apenas três dias, o governo de Micheletti criou uma Lei de Plebiscito e Referendo. "Querem fazer perguntas não para saber qual a dor e o que nós, enquanto povo, queremos, mas sim para dizer o que querem", criticou.
Para ele, o governo provisório quer "roubar o projeto do povo e a iniciativa de Zelaya". No dia em que foi deposto (28 de junho), o mandatário aplicaria uma consulta popular para saber se a população aceitaria ou não uma nova constituição para o país.
Já a feminista falou de suas impressões sobre o "clima de medo" que tomou conta das ruas de Honduras. Segundo Bernadete, os professores são os principais alvos da repressão militar, que visa eliminar as mobilizações. A brasileira enfatizou a importância de as organizações internacionais se revezarem, para manter constante a presença internacional no país.
Agência Adital