MONTEVIDÉU, 29 JUL – A ministra das Relações Exteriores do governo deposto de Honduras, Patrícia Rodas, afirmou que se os Estados Unidos aplicarem "sanções inquestionáveis" ao país, o golpe de Estado se reverteria "em menos de 24h".
"Pedimos para o povo norte-americano exigir que governo realmente tome sanções inquestionáveis contra os que estão à frente do golpe, contra quem o elaborou, financiou e executou", pontuou a chanceler, em entrevista ao jornal La República.
Ontem Washington revogou o visto de autoridades do governo de facto hondurenho, como o presidente Roberto Micheletti, o presidente do Congresso, José Saavedra e os outros dois funcionários.
"Se os Estados Unidos começam a retirar os vistos, a congelar as contas bancárias, a impedir a livre circulação pelo mundo, o golpe se reverteria em menos de 24h", defendeu Rodas, denunciando ainda uma série de violações aos direitos humanos cometidas pelo governo de Micheletti.
"A violação (aos direitos humanos, ndr.) é constante. Está sendo violado o direito à vida, à livre organização e circulação, o direito à propriedade privada, de se expressar livremente, de comunicar e opinar", disse a ministra.
A ministra também se mostrou a favor da decisão do presidente deposto no último dia 28 de junho, Manuel Zelaya, de se estabelecer na fronteira da Nicarágua com Honduras a fim de ingressar novamente no país.
"Se o presidente Zelaya não lutar e tentar voltar ao território pátrio, estaria faltando com um dos deveres mais importantes que o povo de Honduras confiou a ele ao elegê-lo: defender os direitos do povo", disse a chanceler.
Segundo Rodas, a ordem democrática deve ser restabelecida "de forma pacífica", já que "quando se fecham as janelas da paz de um povo, são abertas as portas da guerra", e não é isso que "nós queremos".
A chanceler ainda demonstrou desgosto pelas críticas feitas pela secretária de Estados dos EUA, Hillary Clinton, e pelo presidente da Costa Rica e mediador da crise política hondurenho, Oscar Arias, contra as tentativas de Zelaya de retornar ao país.
Na última sexta-feira, o presidente deposto chegou a cruzar a fronteira pela cidade nicaraguense de Las Manos e pisou pela primeira vez o solo de seu país desde o golpe de Estado, que ontem completou um mês. Depois disso, porém, voltou ao lado nicaraguense.
Para impedir que Zelaya retorne e encontre seus simpatizantes, as Forças Armadas mantêm vigente um toque de recolher na região da fronteira desde sexta-feira.
Em Tegucigalpa, o Congresso discute parcialmente o Acordo de San José, última proposta de pacto feita por Oscar Arias, presidente da Costa Rica e mediador das negociações entre representantes de Zelaya e do regime de facto.
Dos pontos incluídos no documento, o Legislativo — amplamente favorável a Micheletti — analisa apenas dois: os que dizem respeito à antecipação das eleições de novembro para outubro e à possibilidade de conceder anistia a todos os envolvidos na crise política. O retorno de Zelaya e a formação de um governo de união encabeçado por ele não são debatidos.
(ANSA)