Jogo duplo dos EUA em Honduras irrita Zelaya

A cada dia fica mais claro que os EUA estão fazendo um jogo duplo em Honduras. O presidente Obama negou-se a reconhecer o governo ilegítimo que resultou do golpe militar contra Manuel Zelaya, presidente eleito do país que filiou o país à ALBA (Alternativa Bolivariana para Nossa América) e tentava consolidar uma administração democrática e popular, entrando em choque com os interesses reacionários das classes dominantes locais e do imperialismo.

Todavia, o gesto de Obama não afastou as suspeitas do envolvimento do Estado norte-americano no golpe. Os indícios a este respeito são muitos. Não se deve confundir o Estado com o Obama e ainda que não se conteste a sinceridade do presidente negro dos EUA, os tentáculos do império são múltiplos e muitas vezes se movimentam de forma subterrânea. Este é sabidamente o caso da CIA.

Tortura

Assim se compreende a crítica feita pelo presidente Zelaya à secretária do Estado americano, Hillary Clinton, pela tibieza desta na condenação aos golpistas e pelo fato de ter inclusive deixado de falar de “golpe de Estado”. O chefe legítimo do executivo hondurenho, cargo do qual foi sequestrado e afastado de modo violento e ilegal pelos militares, exigiu nesta segunda-feira (27) uma clarificação da posição dos EUA, enquanto aumenta a repressão sobre as centenas de pessoas que se dirigem à fronteira com a Nicarágua numa resistência ainda pacífica ao golpe militar.

Há relatos de tortura e assassinato de um manifestante e de que os militares barram a ajuda humanitária. 

Nada a negociar com golpistas

Manuel Zelaya rejeitou o convite de Hillary Clinton para abandonar a zona de fronteira com as Honduras e participar numa reunião nos EUA. "Não posso abandonar os hondurenhos, não há mais nada a negociar, os golpistas teimam em não aceitar as propostas da comunidade internacional", referiu Zelaya.

"O que eu espero é que os EUA sejam fortes e firmes e que clarifiquem a sua posição em relação ao governo golpista, porque das últimas declarações desapareceu o termo ´golpe de Estado´, quando ao princípio usaram-no", acrescentou Zelaya, para quem "Hillary Clinton ao princípio foi firme; agora sinto que já não denuncia nem atua contra a repressão que sofre Honduras".

Zelaya considera que Hillary "deve denunciar a repressão, a violação dos direitos humanos e da liberdade de imprensa, todas as perseguições e as prisões ilegais".

Repressão aumenta

Zelaya continua estacionado na Nicarágua, a poucos quilômetros da fronteira com Honduras. Centenas de manifestantes tentam chegar à zona fronteiriça para apoiar o presidente hondurenho, mas a repressão do exército tem obrigado muitos a fugir.

Há relatos de que o exército hondurenho está recrutando grupos paramilitares nas montanhas para assassinar manifestantes. Por outro lado, muitos dos apoiantes de Zelaya chegam à zona de fronteira com fome e sede. A cruz vermelha tenta ajudar mas muito do apoio humanitário é retido pelos militares.

Confirma-se também a morte e tortura do jovem apoiante de Zelaya, Pedro Munoz, que se manifestava na última sexta-feira contra o golpe de Estado. O seu corpo foi encontrado na manhã de sábado junto a uma barreira policial, com os dedos fraturados e 42 feridas, 35 delas nas costas.

Os ataques à liberdade de imprensa prosseguem. A relatora especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Catalina Botero, garante que em Honduras se vivem "formas permanentes de exclusão e censura" contra meios de comunicação e jornalistas.

"Há encerramentos de órgãos de informação e jornalistas intimidados e outros expulsos, a situação é extremamente preocupante", acrescentou Catalina Botero.

Arias propõe rendição

O plano de entendimento sugerido pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que inicialmente foi aceito por Zelaya e recusado pelo governo golpista, parece ter agora a concordância das Forças Armadas hondurenhas que emitiram um comunicado nesse sentido. Arias foi escolhido a dedo pelos EUA como mediador e na opinião do ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, sua proposta é na verdade um convite à rendição, conciliação com os golpistas e as oligarquias locais e abandono de qualquer projeto mudancista (reproduzimos abaixo a reflexão de Fidel).

O plano de Arias prevê o regresso imediato de Zelaya às Honduras, a formação de um governo de unidade e reconciliação nacional, a antecipação da data das eleições, a inexistência de qualquer referendo para formar uma assembleia constituinte que altere a constituição e uma anistia geral para os golpistas.

À excepção do primeiro, todos os outros pontos são recusados pela Frente Nacional Contra o Golpe de Estado nas Honduras. Inversamente, o governo golpista aceita todos os pontos menos o primeiro.

Só Manuel Zelaya mostrou concordância com a proposta de Oscar Arias por ser "o acordo possível", e ao que tudo indica as Forças Armadas aproximam-se agora também desta posição. 
 
Portal CTB, com informações do esquerda.net

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