"O sertão está em toda parte. O sertão é dentro da gente", escreveu Guimarães Rosa na obra ‘Grande Sertão: Veredas’. O romance conta uma história passada no sertão de Minas Gerais, na região da divisa com os estados da Bahia e Goiás. Lá, ainda hoje se encontram populações que mantêm viva a cultura retratada no livro. Há oito anos, estes povos celebram as riquezas de seu sertão no Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas, que este ano aconteceu nos dias 09 a 12 de julho, no município de Chapada Gaúcha.
Durante quatro dias, o município foi ocupado por batuqueiros, foliões, artesãos, produtores rurais, catireiros e visitantes da região norte e noroeste de Minas Gerais e de todo o Brasil. Com o tema "Parque Nacional Grande Sertão Veredas – 20 anos", o encontro teve como objetivo valorizar as manifestações culturais das populações tradicionais que habitam o entorno do Parque e possibilitar a troca de experiências destas populações.
O evento contou com feira de produtos artesanais, comidas típicas, apresentações culturais, mesas de debates e oficinas. Além de ambientes que tinham a proposta de resgatar e valorizar a cultura local, como o Corredor da História, a Casa Sertaneja, Vendas Sertaneja, entre outros.
Para a Irmã Elsi Terhorst, da Cáritas Diocesana de Bom Jesus da Lapa, este é um momento em que os pequenos têm vez e voz. Pela quinta vez ela participa do encontro e acredita que esta é uma das maiores valorizações da cultura e do saber do povo sertanejo. "A gente tem que conservar a riqueza do povo, não levar ao povo uma cultura que não é dele", afirma a Irmã. Ela conta que é um sacrifício chegar até o município, mas afirma: "não tem cansaço, quando sei que está na hora de chegar na Chapada".
José Gonçalves de Souza, conhecido por Zé Vito, é capitão do Terno de Reis no município de Arinos, em Minas Gerais. Ele conta que é a primeira vez que participa do encontro e espera retornar nos próximos anos. "A gente vai aprendendo e vai passando o que sabe para os outros", afirma Zé Vito.
Rosemeire Magalhães, Secretária Municipal de Turismo de Chapada Gaúcha, reforça que os principais objetivos do evento são estimular a geração de renda através da comercialização dos produtos artesanais e a valorização e resgate cultural. Ela lembra que nos primeiros encontros muitos grupos tinham vergonha de apresentar a cultura da comunidade. "Hoje eles têm o maior orgulho e percebem que as pessoas gostam de ver as apresentações", afirma.
Durante o encontro, foi inaugurado o Banco Chapadense, um banco local, com moeda própria, que visa gerar recurso no município. "Este é o primeiro banco comunitário no estado de Minas Gerais e tem o intuito de fazer a riqueza circular no município", conta José Raimundo Ribeiro Gomes, prefeito de Chapada Gaúcha. Ele explica que o banco comunitário vem na proposta da economia popular solidária e teve grande apoio da comunidade, da Câmara Municipal e dos comerciantes locais. "O nome do banco foi discutido em assembléia e a moeda vai se chamar veredas", conta o prefeito. Os principais parceiros para a fundação do Banco Chapadense são o Instituto Palmas e a Fundação Banco do Brasil.
Parque Nacional Grande Sertão Veredas
No ano em que o Parque completa 20 anos, o VIII Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas traz este tema como enfoque principal. "O Encontro foi criado por causa do Parque, o próprio nome já diz, é o Encontro dos povos do entorno do Parque", conta Rosemeire Magalhães.
Para a organização do evento, foi importante debater o tema e as questões ligadas à preservação e ao turismo sustentável na região. O debate aconteceu em uma mesa redonda com a presença do prefeito e representantes do poder público municipal e municípios vizinhos, de organizações não governamentais e do presidente e representantes do Instituto Chico Mendes.
"Não adianta criar Unidade de Conservação e não conservar essa unidade", provoca a Secretária de Turismo Municipal. Rosemeire reafirma a força da questão cultural na região. "As pessoas que nos visitam, vêm procurando algo que Guimarães Rosa retratou no seu romance Grande Sertão Veredas", conta.
Portal CTB com Lívia Bacelete, Comunicadora popular da Cáritas Diocesana de Januária