Por meio de nota, D'Decoto condenou "a categórica ação criminosa do Exército golpista de Honduras" e pediu "solidariedade com o presidente constitucional de Honduras". Zelaya foi acusado de violar a Constituição ao planejar realizar uma consulta popular sobre a reeleição presidencial.
Nesta segunda-feira, representantes dos 192 membros da assembleia da ONU devem se reunir em Nova York para debater o tema. Retirado de sua casa à força pelos militares, Zelaya viajou para a Nicarágua, onde participa da reunião da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), também convocada às pressas para avaliar o golpe.
Entenda a crise que levou ao afastamento do presidente de Honduras
As reações internacionais foram todas em apoio do presidente deposto. O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, convocou uma reunião urgente do Conselho Permanente do organismo para analisar a crise em Honduras e pediu que a comunidade internacional se una contra esta "grave alteração do processo democrático do continente".
O presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que as disputas internas desse país devem ser resolvidas de forma pacífica. "Quaisquer tensões e disputas existentes devem ser resolvidas pacificamente e através do diálogo, livre de qualquer interferência externa", declarou o líder americano Obama.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, apelou para que todos os partidos em Honduras respeitem as Constituições e as leis desse país. O embaixador americano em Tegucigalpa, Hugo Llorens, afirmou que "o único presidente que os Estados Unidos reconhecem em Honduras é o presidente Manuel Zelaya".
O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, condenou "de forma veemente" o episódio.
Golpe militar
O que começou com uma proposta de consulta popular sobre mudança na Constituição para permitir a reeleição no país (onde o presidente só pode exercer um único mandato de quatro anos) acabou com a ocupação militar das ruas. Em Tegucigalpa, tanques ocupavam várias partes da cidade, enquanto aeronaves sobrevovavam a região.
O enfrentamento no país só tomou essas proporções depois que o general do comando do Estado Maior das Forças Armadas, Romeo Vásquez, renunciou.
Nomeado presidente, o líder do Congresso, Roberto Micheletti, anunciou neste domingo um toque de recolher de pelo menos 48 horas a fim de que o país recuperasse a tranquilidade, no meio da crise causada pela abrupta saída de Zelaya. Segundo Micheletti, não houve golpe militar nem tomada de poder, porque o presidente renunciou.
Apoio popular
Esquerdista eleito em 2005, Zelaya bateu de frente contra outros segmentos do governo e líderes militares sobre a questão do referendo, declarada ilegal pelo Congresso, pela Promotoria e pela Justiça, sofreu forte oposição das Forças Armadas, da Igreja Católica e até de parte do governista Partido Liberal.
Ele queria apoio popular para instalação da chamada "quarta urna" nas eleições de 29 de novembro, simultaneamente presidencial, legislativa e municipal. Seria uma consulta sobre a reeleição de cargos executivos, entre eles a Presidência.
Zelaya rejeitou a renúncia e afirmou que foi alvo de um "sequestro brutal" arquitetado por uma parte do corpo militar. O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, disse que só continua vivo por "uma graça de Deus". "Nunca renunciei e nunca vou usar esse mecanismo caso eu tenha sido eleito pelo povo."
O líder venezuelano, Hugo Chávez, já anunciou que vai fazer "tudo o que tenha que fazer" para restituir Zelaya ao cargo. Ele ameaçou responder militarmente ao golpe em Honduras caso seu embaixador no país fosse sequestrado ou morto. Segundo Chávez, o representante venezuelano foi agredido, e o cubano, preso.
Micheletti rebateu dizendo que o Exército de Honduras está preparado para uma agressão. "Vejo com muita preocupação o que ele [Chávez] diz sem nem sequer uma reflexão. Que não venha ele nos ameaçar", disse, em declarações a uma rede de televisão local.
"Os militares foram usados para dar um golpe de Estado troglodita, como tantos que ocorreram na América Latina nos últimos cem anos, contra um povo e um presidente que só está buscando um consulta popular", disse Chávez.
O presidente nicaraguense, Daniel Ortega, afirmou que a ministra das Relações Exteriores do país caribenho, Patricia Rodas, e outros funcionários do governo do presidente Manuel Zelaya "estão desaparecidos".