Jornalista: que formação?

O debate sobre a obrigatoriedade da exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão ganhou força no último período, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) anunciou o julgamento do mérito do processo que se arrasta há anos.

No meu entendimento, um debate que não pode ser encerrado pelos sindicalistas da CTB. Ao contrário, deve ser feito sob a luz do tipo de comunicação que queremos no nosso país e levando em conta a tradição da esquerda mundial de formar intelectuais do povo, que pelas vias tradicionais (fundamentalmente acadêmica) não tem oportunidades.

Apenas para lembrar, tanto a Lei de Imprensa, quanto a exigência do diploma foram atos do período de autoritarismo que vigeu no país. Trata-se, portanto, de uma contenda que não diz respeito aos jornalistas e veículos de comunicação, mas a toda sociedade, pois refere-se a liberdade de expressão. Cercear o propósito de uma comunicação verdadeiramente democrática e popular, não é papel da esquerda. Defender o acesso universal ao conhecimento, sim!

O jornalista é aquele que possui a capacidade de traduzir os acontecimentos relevantes em informação, respeitando os preceitos da linguagem e da escrita, estes sim, estabelecidos por regras da ortografia. Tal aprendizado pode ser adquirido na academia. Mas também pode ser adquirido na disposição e, principalmente, talento do profissional, que oferece informação e opinião de maneira plural e diversificada à sociedade.

A qualidade profissional e ética do jornalismo no país não está condicionada ao documento. Nem poderia, pois se há alguma escola que ofereça diploma de ética, deve imediatamente ser denunciada à polícia. Tampouco é possível afirmar que a ausência do certificado permite a ideologização do jornalismo. Seria afirmar que o diploma é garantia de uma imprensa neutra e imparcial, o que definitivamente não existe. Aliás, na própria academia, os professores mais sérios afiançam isso.

A limitação do exercício do jornalismo apenas para quem tem o diploma universitário do curso evita que talentos de variadas procedências possam informar a coletividade e precisa ser vista dentro do conceito de que a liberdade de expressão é uma virtude da sociedade democrática, pela qual, muitos de nós, fomos às ruas.

Não podemos e não devemos negar a importância da academia, mas não podemos acolher que só os que nela passam são capazes, qualificados, éticos. Exemplos não faltam para comprovar.

O que queremos é uma sociedade bem informada. O Brasil precisa ampliar a qualidade da comunicação, que passa obrigatoriamente pelo exercício de um jornalismo plural e diversificado, sob os mais variados matizes, enfoques, critérios de seleção, de interpretação da notícia. E não está condicionada a exigência do título, que acaba por ser uma posição excludente, corporativista e socialmente preconceituosa.


Sônia Corrêa é jornalista e assessora da CTB-RS

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