EUA prontos a tudo para impedir mudanças

COM A AJUDA DE SEUS LACAIOS LATINO-AMERICANOS

Aqueles que ainda tinham dúvida, penso que agora se tenham esclarecido. O imperialismo norte-americano, representado nesta ocasião pela fundamentalista administração republicana de George W. Bush está pronto a tudo para impedir a consolidação dos processos nacionais e libertadores que têm lugar cada vez com maior força na América Latina e no Caribe.

A Venezuela, Bolívia, Equador, Paraguai e Nicarágua estão na mira de Washington, que impedido pelo cenário regional — não esquecer o Brasil, Honduras, Chile, Uruguai e Argentina — de utilizar diretamente suas tropas militares como tantas vezes fez no passado, agora lança mão do intervencionismo mais insolente e do milionário apoio às desprestigiadas, porém ainda poderosas forças políticas e econômicas que, nessas nações, por decisão da maioria, foram tiradas dos governos. Pontas de lança com que os interesses imperiais pretendem penetrar o coração desses povos.

Criar o caos, tornar ingovernável a região, amedrontar as massas com planos de magnicídio, comprar todos aqueles que ainda não compreenderam o alcance dos processos de mudanças, quer seja por sua posição de classes, quer seja pela manipulação e deturpação da realidade por parte do poder da mídia privada e multinacional, são algumas das armas escolhidas por Washington num conflito em que nesta altura da situação tem conseqüências imprevisíveis.

Tampouco podemos ignorar o rearmamento de grupos paramilitares de tipo fascista e racista que, como na Bolívia, deixaram um saldo de dezenas de mortos e perdas materiais consideráveis, provocando o repúdio enérgico das maiorias que nesta ocasião não poderão enganar, pois sabem que o objetivo desta guerra é afastá-las das decisões e dos benefícios que durante séculos lhes negaram e que agora conquistaram após longos anos de luta.

Estes adversários crioulos dos camisas pardas são protegidos pela 4ª Frota ianque, que navega impunemente pelos mares que bordejam as referidas nações com ares de bravura e ameaças.

Além disso, esta é uma guerra onde — como acabo de ler em outro comentário de imprensa — “as classes dominantes locais mais reacionárias, como aconteceu no Chile de Salvador Allende, são a infantaria de Washington, dirigida por controle remoto”.

As embaixadas diplomáticas estadunidenses nas capitais desses países se converteram em covis e estados-maiores das forças antipatrióticas imperiais. Contudo, os países ricos observam calados as ações sujas e intervencionistas do governo dos Estados Unidos, que no fim de seu mandato não engana ninguém com sua retórica ambígua e sua dupla moral de defesa da democracia e da ordem constitucional.

O poderoso vizinho do Norte ignora com premeditação e aleivosia que os governos que aspira a derrubar na Venezuela, Bolívia, Equador, Paraguai e Nicarágua, são fruto genuíno da decisão do povo. Alguns deles foram relegitimados mais de uma vez nas urnas e com níveis de aceitação por parte do eleitorado jamais visto nesses países.

Tudo isso é prova de que o império sabe perfeitamente que o processo nacional e libertador que começa a consolidar-se e a estender-se na América Latina e no Caribe pôs em xeque o seu modelo de dominação e ameaça de derrotá-lo.

Estas são expressões fruto das particularidades de cada nação, onde a diversidade do panorama político-ideológico não constitui um obstáculo para a busca da unidade e do consenso entre elas. Ao contrário, o denominador comum que as identifica parte dos princípios bolivarianos e martianos fundacionais que procuravam na defesa da independência e da soberania a raiz de cada um dos nossos povos.

Há uns dias, e ainda antes de completar o primeiro mês como líder do povo paraguaio, o presidente Fernando Lugo denunciou publicamente que forças do partido Colorado organizavam um golpe de Estado contra ele. Quais as razões? O programa de governo do ex-bispo que contempla, no exterior, a inserção do Paraguai no novo processo de integração, cujas bases são a solidariedade e a cooperação com base no respeito às diversidades e na complementariedade econômica.

No plano interno, visa a novos contratos em Itaipu e Yaciretá que permitam ao Estado disponibilizar de uma maior renda derivada da exploração hidrelética e injetá-la nos programas de justiça social, assim como eliminar o latifúndio improdutivo, os subornos, o sistema de prebendas, a corrupção administrativa, política e judicial, os privilégios das elites em detrimento das maiorias excluídas. Aspirações que, mais cedo ou mais tarde vão chocar nos interesses dessa minoria exploradora que, durante 61 anos, enquistou-se no poder ou se fez representar por este e, atualmente, não se resigna a perdê-lo.

No Equador, as cartas foram postas. Ali, inclusive, utilizaram provocações dos vizinhos, aliados de Washington, para tolher o processo de mudanças. Ali, como na Bolívia, os ianques apostam no separatismo antipatriótico. Não perdoam o presidente Rafael Correa que não prorrogou o contrato para continuar operando na base de Manta, centro de espionagem contra a região, e que abertamente fale da viabilidade do socialismo do século 21.

Na Nicarágua, tentam fazer o mesmo. Não deixam passar o fato de que o triunfo sandinista está abrindo uma brecha na até a pouco dócil América Central, onde o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, há apenas uns dias, em solidariedade com o da Bolívia, pospôs a aprovação do novo representante dos EUA em Tegucigalpa, atitude, sem dúvida, à qual Washington responderá. Segundo parece, Zelaya está disposto a correr o risco de defender sua posição soberana.

Neste cenário também estão presentes governos como os do Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, que, com suas peculiaridades, aderem a este processo de mudanças dentro da integração, com a clara decisão política de forjar a União das Nações do Sul, para responder às ameaças e aos perigos que maculam este momento histórico da América Latina e do Caribe.

Como conseqüência do agravamento do conflito boliviano, estas nações se reuniram na capital chilena para adotar uma posição comum face às ações ilegais dos prefeitos separatistas da Meia Lua, com base no respeito à soberania e à autodeterminação dessa república irmã e ressaltando o reconhecimento sem condicionamentos do governo do presidente Evo Morales. É alentador o fato de que para expressar essa solidariedadese tenha encontrado outro âmbito que não seja o da OEA.

Atitudes como essas foram rejeitadas pelo império, que tenta criar um fosso entre eles, estimulando a velha política de “dividir e reinar”. Deste jeito, reavivam o fantasma do suposto hegemonismo brasileiro e urdem outras patranhas como a das diferenças entre os presidentes Hugo Chávez e Luiz Inácio Lula da Silva. No interior desses países, a mão de Washington também tece os fios do descontentamento em setores-chave da sociedade. A disputa entre o governo argentino e os agroindustriais da soja ou as manifestações de reivindicações no setor da educação no Chile, são prova disso.

ONDE O ROSTO DO FASCISMO JÁ NÃO MAIS SE ESCONDE

Também devemos destacar a Venezuela e a Bolívia, objetivos priorizados do império, contra cujos presidentes se reativam planos de magnicídio e se estimulam ações de guerra aberta.

Na Venezuela, temem um novo fracasso nas urnas em 23 de novembro próximo, nas eleições regionais, onde estarão em jogo todos os governadores do país e várias centenas de prefeituras e outras instâncias da estrutura governamental.

E na Bolívia, temem porque, em 10 de agosto, o presidente Evo Morales ficou mais fortalecido com o referendo revogatório, com uma votação de 67,41% em nível nacional. Nesta ocasião tampouco puderam “derrubar o índio”, como costumam dizer.

Há uns dias, a Venezuela denunciou uma conspiração, em que alguns dos envolvidos estão sendo processados pela justiça. Uma conspiração que coincide com o aumento de popularidade do presidente Hugo Chávez e de vários candidatos da Revolução para ocupar cargos importantes.

Mais uma vez, Washington utiliza militares aposentados e na ativa, mas sem comando de tropa para dar uma imagem ao mundo de que as forças castrenses não apóiam o processo.

Nesta ocasião, o programa La Hojilla, transmitido pelo canal Venezuelana de Televisão (VTV) apresentou gravações onde militares aposentados falam do plano, não só dum golpe de Estado, mas também de um magnicídio.

Os militares das conversas gravadas são o vice-almirante Carlos Alberto Millán Millán (ex-inspetor-geral da Força Armada Nacional); o general Wilfredo Barroso Herrera, ex-chefe do Estado-Maior da Guarda Nacional; e o general-de-brigada da aviação Eduardo Báez Torrealba, que também esteve envolvido no golpe de abril de 2002.

Segundo a fonte, um dos militares expressava: “Aqui o objetivo é apenas um: vamos tomar o Palácio de Miraflores, as televisões (…) dirigir todo o esforço contra o senhor (referem-se a Chávez). Se ele estiver em Miraflores, devemos dirigir todo o esforço para esse lugar”.

Entretanto, o ministro da Defesa, Gustavo Rangel Briceño, advertiu que um dos objetivos do plano é a suspensão das eleições de novembro e aparentar que existe deterioração dentro das forças armadas. “Querem nos dividir, afirmou, não nos querem ver como uma equipe, como um baluarte da Revolução Bolivariana que deseja um novo país, onde todos tenhamos as mesmas oportunidades”.

Diante disso, centenas de milhares de venezuelanos se uniram e saíram à rua para manifestarem o seu apoio ao presidente e à Revolução ao longo do país, ao passo que foram ativadas cinco Regiões Militares Estratégicas de Defesa Integral, que agrupam os diversos estados.

Logicamente, enquanto os golpistas e os contra-revolucionários sejam menos favorecidos com vista às eleições, maiores são os planos para impedi-las. Em meio a tais ações, a liderança de Hugo Chávez aumenta, não só no âmbito nacional, mas também no internacional. São fortalecidos os vínculos no interior da região, assim como se amplia a colaboração com a Rússia e com outras nações, prescindindo com fidalguia das relações com o governo dos EUA, promotor da desestabilização e da intervenção.

A Bolívia é o outro objetivo imediato do império e de seus lacaios domésticos. O separatismo ilegal que os prefeitos da rica e racista Meia Lua Oriental pretendem impor ganhou gravidade tal que o governo do Movimento ao Socialismo viu-se obrigado a responder com aplicação da lei e com novos chamamentos ao diálogo.

A chacina de Pando contra camponeses e indígenas, promovida e santificada pelo prefeito Leopoldo Fernández, pelo Comitê Cívico e por grupos paramilitares armados com o dinheiro de Washington, deixaram semana passada um saldo de 30 mortos e inúmeros feridos. As vítimas protestavam contra a violência gerada pela posição anticonstitucional das autoridades de Pando, resultando na tomada das instalações petroleiras e de outras entidades públicas.

O governo de Evo Morales decretou luto nacional pelo massacre e ordenou o estado de sítio nessa região.

O prefeito de Santa Cruz, Rubén Costa, acérrimo inimigo do processo de mudanças, após comprovar que a violência gerada por ele, pelo Comitê Cívico e pela Juventude Cruzense desse Departamento, estava fora de seu controle, ordenou a defesa das instituições depois do saque e de praticamente serem destruídas as sedes do Instituto Nacional da Reforma Agrária, o prédio da Empresa Nacional das Telecomunicações, e outros.

O terror, o fanatismo, o vandalismo e a violência são ingredientes que se somaram às ações desestabilizadoras na Bolívia por parte da oposição, estimulada e apoiada pela embaixada dos EUA em La Paz, razão pela qual o governo do MAS declarou ao embaixador Phillip Goldberg pessoa non grata.

No momento em que se redigia este artigo, os governos sul-americanos, integrados na União das Nações do Sul (Unasul), se reuniam para expressar seu apoio e solidariedade ao governo de Evo Morales, sintoma dos novos tempos, e o prefeito de Tarija aceitava dialogar.

A decisão de defender o mandato constitucional que o povo lhe conferiu fez crescer o prestígio do presidente boliviano, em meio a uma situação difícil e crítica, que se não for assumida de forma responsável e madura, vai provocar um banho de sangue.

Os dias seguintes serão testemunhas de novas provocações da oposição, que decidiu levar a cabo uma cruzada continental contra as forças da mudança, que são, em última instância, as forças da vida e da esperança.

Unidade, coerência e coragem deverão sustentar a decisão política e as ações daqueles que estejam determinados a lutar pela definitiva independência latino-americana.

Nidia Díaz é membro da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, de El Salvador

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