Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), seção Rio de Janeiro, mostra que a proporção de acordos e convenções trabalhistas com ganhos reais, acima da inflação, foi de 73% das negociações no primeiro semestre deste ano. Em 2007, esse índice foi superior a 80% das negociações.
Em contrapartida, foi ampliada a proporção dos trabalhadores que não conseguiram recuperar as perdas inflacionárias. Segundo o supervisor do Dieese no Rio, Paulo Jager, em 2007, esse patamar era de 3,5% e passou para 14%, entre janeiro e junho de 2008. “Cresceu de tamanho. Há uma menor proporção de acordos e convenções com resultados acima da inflação, ou seja, com ganhos reais”, relatou.
Ganhos reais
O economista do Dieese destacou, entretanto, que não significa que as negociações pioraram. Desdobrando os números por faixas mais detalhadas, chega-se à conclusão, de acordo com ele, que existe uma concentração de acordos e convenções acima da inflação.
Os reajustes salariais que tiveram ganhos reais sobre a inflação, no primeiro semestre, estão na faixa da reposição até 1,5% de ganho. Alguns acordos atingiram 5% de ganho real. A referência é o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC). Em 2007, houve maior número de documentos em faixas mais elevadas.
Segundo Jager, tem havido ganho real em diversos setores da atividade econômica, “ainda que em proporção muito aquém do que deveria ser”.
Percentual baixo
Conforme o também economista do Dieese/RJ, Jardel Leal, isso significa que os ganhos reais não estão sendo percebidos pelos trabalhadores como uma vantagem. Para ele, o motivo é o fato do percentual de reajuste para alcançar a inflação ser muito baixo. “Eles não chegam a sentir a melhora que isso representa”, disse.
Com base no critério de arredondamento do INPC – que leva em conta variação de 0,4% para cima ou para baixo do índice – verifica-se que 52,4% dos reajustes ficaram acima da inflação, 41,7% se igualaram e 5,8% não conseguiram recuperar as perdas.
Já levantamento do Dieese São Paulo mostrou que das 309 categorias com data-base no primeiro semestre, 86% conseguiram reajustes que asseguraram a recomposição da inflação.
Os dados indicam que 4% das categorias tiveram reajustes insuficientes para recuperar o poder de compra dos salários em relação à data-base anterior.
Setores
Os setores que apresentaram maior concentração de reajustes salariais acima da inflação foram a indústria e comércio, com 81,3% e 80%, respectivamente, em relação às negociações efetuadas.
No setor de serviços, o índice foi de 64% de ganhos reais dentre as negociações. As regiões onde ocorreram os melhores reajustes foram a Sul (85,7%) e a Centro-Oeste (84,6%), seguidas do Nordeste (69,7%), Sudeste (68,3%) e Norte (62,5%).
O coordenador de Relações Sindicais do Dieese/SP, José Silvestre, disse que, desde 2004, vem ocorrendo uma melhora do poder de compra dos salários do trabalhador. “O que tem ocorrido é que, como a economia tem crescido e melhorado desde o último trimestre de 2003, isso tem permitido aos sindicatos fazer uma negociação no campo salarial de recuperação de suas perdas, nesses períodos, e também do ganho real”, explicou.
Produtividade
Silvestre acredita que ainda haja espaço para elevação dos salários já que, na avaliação dele, não é a remuneração do trabalhador que pressiona a inflação, que, para ele, tem influência da economia mundial e é focada em alimentos e commodities minerais.
O economista da Força Sindical, Marcos Perioto, reforçou que o os trabalhadores representados pelos sindicatos foram a maior parte dos que conquistaram as reposições. “Queira ou não os sindicatos representam os trabalhadores que têm carteira assinada”, afirmou.
Já o secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Carlos Alberto Cordeiro da Silva, alegou que a produtividade dos setores é maior do que os reajustes salariais concedidos aos trabalhadores, o que derruba o argumento dos empresários que dizem que o aumento do salário pode causar inflação.
“Ao contrário. Nós queremos é incorporar parte da produtividade de todos os setores nos salários. Nós precisamos ampliar a renda dos trabalhadores no PIB [Produto Interno Bruto]”, disse.
Elias Bernardino da Silva Junior é Secretário de Saúde e Segurança do Trabalho da CTB
*Elias Bernardino da Silva Junior é Secretário de Saúde e Segurança do Trabalho da CTB