EUA e os 5 Patriotas cubanos: dez anos de injustiça em Miami

A eleição presidencial dos EUA vem sendo acompanhada em todo mundo com os maiores espaços midiáticos. Mas nem todos os assuntos estão sendo abordados como deveriam. Há quem crie ilusões de que uma vitória de Barack Obama poderá trazer grandes mudanças no cenário internacional. Pode ser que os setores que ascendam à Casa Branca com a vitória do primeiro candidato afro-americano decidam até tirar o dedo do gatilho, tática preferida de George W. Bush depois do 11 de setembro. Se der McCain, tudo continuará como agora. A vice Sarah Palin, fazendo o gênero durona, repetirá o refrão de que a guerra é uma ''missão divina'' dos EUA ou que é possível uma guerra com a Rússia.

Por Mário Augusto Jakobskind, para o Direto da Redação

Mas um tema está bem distante das discussões e diz respeito às relações Estados Unidos/Cuba. A própria opinião pública estadunidense praticamente ignora o tema, que para sair na imprensa só mesmo como matéria paga.

Para se ter uma idéia, nesta sexta-feira passada, 12 de setembro, fez dez anos de uma das maiores injustiças jurídicas que se tem notícia nos últimos tempos. Estão presos, desde setembro de 1998 nos Estados Unidos, cinco cubanos condenados pela (in)Justiça de Miami a sentenças que variam entre prisão perpétua, 15 e 20 anos de detenção.

É uma história longa e envolve questões que o presidente Bush e agora o seu candidato preferencial falam a toda hora, ou seja, terrorismo. E quais os ''crimes'' que Gerardo Hernández Nordelo, Ramón Labañino Salazar, Antonio Guerrero, René González e Fernando González cometeram? Absolutamente nenhum. Os cinco foram acusados de serem espiões, quando na verdade nunca cometeram tal delito. Eles simplesmente encontravam-se nos Estados Unidos, de olho em grupos de exilados cubanos que vivem em Miami e praticam terrorismo na pura acepção da palavra. Não é de hoje que, de dentro de alguns grupos da comunidade cubano-americana de Miami, planejam-se atentados que têm por objetivo a derrubada do regime vigente na ilha caribenha. A história está plena de registros nesse sentido nos quase 50 anos. Segundo cifras que constam em documentos oficiais estadunidenses, atentados terroristas promovidos por grupos de extrema direita de Miami contra Cuba mataram 3.478 cubanos e 2.099 ficaram inválidos.

História longa e cheia de meandros

A história dos cinco presos cubanos na Flórida é longa e cheia de meandros. Em junho de 1998, portanto, em pleno mandato de Bill Clinton, o governo de Cuba entregou ao FBI uma farta documentação, mostrando com evidências as atividades terroristas planejadas por grupos anticastristas. Quase três meses depois, em 12 de setembro, as autoridades estadunidenses em vez de desativarem esses grupos, decidiram prender os cinco cubanos.

Os ''criminosos'' foram julgados por um suspeito Tribunal de Miami, saindo a absurda sentença. Na verdade, ocorreu um julgamento entre aspas, de cartas marcadas. Foram vistas no recinto do Tribunal figuras notórias do terror anticastrista. Agora, os advogados dos cinco cubanos estão tentando realizar um novo julgamento em um Tribunal de outro Estado, longe das pressões diretas da extrema-direita cubana de Miami, para que se faça justiça na verdadeira acepção da palavra. Um Tribunal de Atlanta, onde os advogados ingressaram com uma apelação confirmou a sentença, mas agora resta o remédio de apelar à Corte Suprema dos Estados Unidos. Na passagem dos 10 anos de prisão dos cinco foi lançada uma campanha mundial para que façam justiça e sejam libertados.

Em tempo de combate ao terrorismo, a bandeira de Bush e agora de McCain-Pallin, o silêncio em torno da questão dá bem uma idéia de como é absolutamente contraditória (será redundância em se tratando de Bush?) a política dos EUA, neste campo. George W. Bush e os seus falcões fazem discursos diários alertando sobre as mazelas do terrorismo, mas aceitam como fato consumado a injustiça contra os cinco cubanos que agiam apenas com o objetivo de evitar mortes e destruição.

Qualquer questionamento da injustiça cometida é respondido raivosamente pela comunidade cubano-estadunidense. Os candidatos acompanham o refrão e até preferem que o tema seja mantido longe da pauta das discussões.

Como se tudo isso não bastasse, os Estados Unidos não concedem vistos a familiares dos presos políticos cubanos, mas permitem que na Flórida circule na maior tranqüilidade o notório terrorista, Posadas Carriles, um dos responsáveis pelo atentado, em 1976, contra um avião comercial da Cubana de Aviação, nos céus da Venezuela, que resultou na morte de dezenas de jovens atletas cubanos que voltavam de uma competição desportiva em Barbados. Os Estados Unidos se negaram a atender a pedido da Venezuela em deportar Carriles, que com a ajuda da CIA, tinha fugido de uma prisão venezuelana, onde cumpria pena nos anos 80.

Se nos Estados Unidos a opinião pública não é praticamente informada sobre uma questão tão relevante como a prisão injusta dos cinco presos políticos cubanos, que dirá nos países onde a mídia conservadora é absolutamente majoritária.

Em tempo: até os postes de La Paz sabiam que o embaixador dos Estados Unidos na Bolívia, Philip Goldberg, foi nomeado para o cargo com o objetivo de ajudar os separatistas, como já fez na antiga Iugoslávia no final dos anos 90. Na Bolívia, Goldberg se intrometia em questões internas dando apoio a grupos de extrema direita da chamada meia-lua. Portanto, a expulsão ordenada por Evo Morales, ao contrário do que disse o governo Bush, não foi um ''ato de desespero'', mas uma medida de profilaxia. Na Venezuela, o embaixador estadunidense Patrick Duddy não agia diferente. Por isso, e por solidariedade a Morales, Hugo Chávez mandou também embora o representante de Bush.


Por Mário Augusto Jakobskind, para o Direto da Redação

 

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