"Eles estão conspirando contra nossa gestão. Eles querem desestabilizar nosso governo", disse. As declarações do presidente levaram os principais jornais do país – ABC Color e Ultima Hora -, em suas edições on line, e a radio Ñanduti, líder de audiência, a informar que Lugo denunciara "um complô golpista".
"Como presidente, não permitirei que as Forças Armadas sejam utilizadas por interesses sectários. Peço à cidadania que esteja alerta diante de possíveis golpes. Não permitiremos que se atente contra a liberdade do nosso povo", disse o presidente.
Lugo convocou a imprensa, nesta segunda-feira, para fazer a denúncia, depois de ter sido informado sobre uma reunião realizada na véspera na casa de Oviedo.
Além de Oviedo e de Frutos, participaram do encontro o presidente do Congresso Nacional, senador Enrique González Quintana, o vice-presidente do Tribunal de Justiça Eleitoral, Juan Manuel Morales, o procurador-geral do Estado, Rubén Amarilla, e o general Máximo Díaz, que atua como elo entre as Forças Armadas e o Parlamento.
Frutos
Foi Díaz quem revelou o encontro à cúpula das Forças Armadas. Ele teria contado ainda que Oviedo convocou a reunião porque queria saber como os militares viam o clima político diante do impasse vivido nos últimos dias no Senado. Na semana passada, o presidente do Congresso empossou Duarte Frutos como senador eleito.
Mas políticos governistas questionaram a iniciativa, argumentando falta de quórum para que o ex-presidente assumisse a cadeira no Senado. A situação levou Lugo a declarar que Duarte Frutos deveria "ir pra casa" e se "conformar" com o cargo a que tem direito de senador vitalício por ser ex-presidente.
No fim de semana, em entrevista ao jornal ABC Color, Oviedo criticou Lugo por esta postura.
Nesta segunda-feira, Lugo fez as declarações que confirmaram o clima político tenso no país, menos de vinte dias após a sua posse como presidente.
"Conhecendo os antecedentes de Oviedo (ele foi acusado de tentar um golpe nos anos 90), a denúncia de Lugo parece concreta", afirmou o diretor de jornalismo e articulista do jornal Ultima Hora, Oscar Ayala Bogarín. O analista político observou que era esperado que Lugo enfrentasse dificuldades políticas para governar.
"Mas a crise chegou antes do que todos esperávamos", afirmou, por telefone, de Assunção. Lugo depende dos votos do partido de Oviedo, o UNACE (União Nacional de Cidadãos Éticos), e de setores do Partido Colorado – derrotado pela primeira vez em 61 anos, nas últimas eleições de 20 de abril. Mas este apoio, que tinha sido declarado por Oviedo, pode ter sido arquivado com esta disputa.
Programa de governo
Ao mesmo tempo, Lugo foi eleito com uma aliança que ainda não "afinou" seu discurso e ainda não tem um programa único de governo.
Esta frente, chamada de Aliança Patriótica para a Mudança (APC, na sigla em espanhol), reúne desde o PLRA (de centro-direita) a movimentos de esquerda. "O UNACE, de Oviedo, é fundamental para que o governo Lugo mantenha sua governabilidade. Mas essa governabilidade já está mais fraca desde a semana passada, com o episódio de Duarte Frutos", afirmou Bogarín.
"Essa governabilidade começou a ficar fraca a partir do momento que o presidente Senado, que é oviedista, empossou, por ordem de Oviedo e de forma individual, o ex-presidente no Senado".
O analista ressalva que apesar das denúncias o presidente não informou que convocará a Justiça, o que teria direito. O Paraguai não tem tradição de governar com alianças.
A eleição de Lugo foi inédita também por essa razão, já que durante mais de seis décadas o Partido Colorado governou praticamente sozinho.
Marcia Carmo – De Buenos Aires para a BBC Brasil