O gabinete de estatísticas europeu, Eurostat, anunciou no último dia 14 que o conjunto dos 15 países da zona do euro registrou uma diminuição do Produto Interno Bruto de 0,2% em relação ao primeiro trimestre do ano. Trata-se do pior resultado registrado desde 1999. Embora tecnicamente a recessão só comece após dois trimestres consecutivos de redução do PIB, a verdade é que mesmo os especialistas da Comissão Européia reconhecem que "os sinais são negativos".
O pessimismo decorre sobretudo do fato de as grandes economias da região já terem entrado na zona vermelha. Entre abril e junho, a França (0,3%) e a Alemanha (-0,5%) registraram uma diminuição da atividade econômica. A Itália (-0,3%), Holanda (0,0%), Irlanda (-0,2%), Dinamarca (-0,6), Suécia (0,0%), Estônia (-0,9%) e Letônia (-0,5%) têm as economias estagnadas ou já em recessão.
Também a Grã-Bretanha (0,2%), está ameaçada de recessão segundo a previsão divulgada pela Câmara de Comércio Britânica. Esse organismo sublinha que a crise virá o mais tardar até ao início do próximo ano, mas o cenário poderá se agravar caso o Banco da Inglaterra não reduza as taxas de juros. O desemprego deverá afetar mais cerca de 300 mil pessoas nos próximos 18 meses, ultrapassando os dois milhões de desempregados, referiu a mesma entidade.
Quanto aos países restantes da UE, de acordo com o Eurostat, à exceção da Eslováquia (1,9%) e da Lituânia (1,1%), a variação do crescimento está apenas alguns décimao acima do zero, como é o caso da Espanha (0,1%) que apresenta o menor crescimento dos últimos 15 anos.
Com 0,4%, a ligeira subida da economia portuguesa face ao trimestre anterior
(-0,1%) não chega para afastar o perigo de recessão e torna praticamente impossível o alcance do objetivo de 1,5% fixado pelo governo para 2008.
Crise econômica e inflação recorde
Entre as razões da atual crise econômica, os analistas destacam o "desinvestimento" por parte das empresas e das famílias, cujo poder de compra tem sido sistematicamente reduzido pelas políticas de «contenção» salarial e sugado pelas subidas acentuadas das taxas de juro e dos preços dos produtos básicos, da energia e combustíveis.
Durante anos, os responsáveis do Banco Central Europeu limitaram o investimento público, apostaram na subida das taxas de juro e na moderação salarial, alegando a necessidade de controlar a inflação.
Em virtude dessas políticas, o euro disparou face ao dólar, dificultando as exportações européias; o consumo das famílias diminuiu e as empresas foram confrontadas com dificuldades acrescidas no acesso ao crédito.
Mas a maior demonstração da total falência das teses do BCE, apenas preocupado em defender os interesses do capital financeiro, está no fato de que, apesar da sua retórica, a inflação disparou para níveis nunca antes observados desde a criação da zona euro, ultrapassando os 4%, ao mesmo tempo que a economia se encaminhava para a recessão.
Agora, os gurus do BCE estão perante uma equação perigosa entre inflação e crescimento. Caso insistam na subida dos juros para travar a escalada dos preços, a economia mergulhará mais profundamente na recessão e dias ainda mais difíceis virão para os povos da Europa.
Resposta comum?
Alarmado com a degradação da economia, o primeiro-ministro francês, François Fillon, veio a público, na segunda-feira (18), reclamar "uma resposta coordenada dos diferentes países europeus à crise", considerando que cabe à França, que preside à União Européia atualmente, "suscitar o debate em torno da coordenação das políticas económicas".
"Numa Europa unificada no plano econômico, numa zona euro unificada no plano monetário, deve haver uma resposta coordenada", considerou o governante, sem fazer nenhuma proposta concreta, embora lembrando que "é a primeira vez desde a criação do euro que a mesma registra um resultado trimestral negativo".
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