O domingo, 10 de agosto, reservou uma notícia alvissareira para a classe trabalhadora e as forças progressistas na América Latina. A vitória de Evo Morales no referendo revogatório, em que colheu o apoio de mais de 60% do eleitorado, é um alento para as forças progressistas, pois reforça o processo de mudanças em curso na região, ao mesmo tempo em que significa mais um revés para a direita neoliberal e o imperialismo hegemonizado pelos EUA.
A exemplo da revolução bolivariana na Venezuela e de outras iniciativas das forças progressistas latino-americanas, o projeto de transformação social liderado pelo presidente Evo Morales na Bolívia confronta-se com uma feroz resistência da grande burguesia local e das transnacionais, respaldadas pelos governos das potências capitalistas, em especial dos EUA.
As elites racistas e reacionárias do país vizinho nunca se conformaram com a ascensão de um índio à Presidência da República por força da vontade popular consagrada nas urnas em dezembro de 2005 e reiterada com maior ênfase no referendo de domingo. Morales ampliou em 17% o percentual de votos que conquistou na eleição presidencial.
Compromisso com a mudança
Uma vez eleito, o presidente boliviano não esqueceu as promessas nem transformou seu programa de governo em letra morta. Passando das palavras à prática, alterou radicalmente os rumos da economia e da política em seu país, rejeitando as receitas neoliberais que tantos males causaram no continente americano. Por isto, pesquisas recentes revelaram que ele conta com forte apoio da classe trabalhadora e da maioria indígena.
Reafirmou seu compromisso com a reforma agrária, nacionalizou a exploração dos hidrocarbonetos e expandiu consideravelmente os investimentos e gastos sociais graças aos novos e ampliados tributos recolhidos na exploração das riquezas energéticas e minerais da Bolívia. Com isto, despertou a ira das multinacionais, que ainda não se conformaram com o aumento dos impostos (subtraídos dos seus formidáveis lucros), do imperialismo e da direita local e internacional.
Ânimos acirrados
Por aqui mesmo, conforme revelou o presidente Lula, não faltaram recomendações para que o Brasil fosse “mais duro” com o governo Morales ou mesmo invadisse as fronteiras do vizinho mais fraco em nome dos interesses das nossas empresas (Petrobrás), dos nossos fazendeiros e do gás barato que até então fluía do país andino. Os conselheiros, no caso, são os mesmos que sempre defenderam uma posição subalterna frente às potências capitalistas, preferem a ALCA ao Mercosul e portam-se como testa de ferro dos EUA.
A determinação de Morales e do seu Movimento ao Socialismo (MAS) de levar adiante um novo projeto de desenvolvimento e fundado nos interesses da maioria indígena e do povo trabalhador, confrontando as multinacionais e a grande burguesia local, acirrou os ânimos políticos. A direita neoliberal desencadeou uma ofensiva reacionária de desobediência e confronto, com iniciativas separatistas nas províncias mais ricas (ainda sob seu domínio) que ameaçam retalhar a Bolívia em pedaços, com o apoio ostensivo dos EUA.
Resultados positivos
Para desapontamento dos ideólogos neoliberais, a mudança da orientação política e econômica dá frutos muito positivos e reconhecidos pela sociedade. Registrou-se, entre outras conquistas desses poucos anos em que Morales esteve à frente da Presidência, a elevação do ritmo de crescimento econômico, revertendo, no rastro das nacionalizações, a herança neoliberal de entreguismo e estagnação; a redução do nível de desemprego; o aumento do salário mínimo; o combate sistemático ao analfabetismo; a redistribuição da renda do petróleo e do gás a favor das famílias mais pobres, inclusive através de um programa similar à Bolsa Família do governo Lula.
O povo respalda a ousadia
A mensagem das urnas é clara e inequívoca. O povo está satisfeito com as mudanças e disposto a respaldar as iniciativas mais ousadas, corajosas e conseqüentes contra o neoliberalismo, que abrem caminho a um novo projeto de desenvolvimento nacional, anti-neoliberal e antiimperialista.
O neoliberalismo e o imperialismo foram mais uma vez rejeitados e derrotados. A CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) parabeniza o presidente Evo Morales, celebrando com ele o resultado de domingo e reitera sua ativa solidariedade às forças progressistas e aos projetos de mudança na Bolívia e em todo o continente americano.
Pela unidade da Bolívia e pela integração solidária das nações latino-americanas.
*João Batista Lemos, diretor adjunto da Secretaria de Relações Internacionais da CTB