“Ser sindicalista é muito perigoso na Colômbia”.

P- Como você avalia o sindicalismo colombiano hoje?

R- As políticas neoliberais debilitaram o movimento sindical colombiano. Ser sindicalista na Colômbia é muito perigoso. Hoje, os sindicatos contam apenas com 4,6% de associados dentro de população economicamente ativa. Além disto, o sistema de contratação é hoje predominantemente flexível, com menos de um ano de duração ou mesmo por horas, com a atuação de intermediários no aluguel de mão-de-obra e de cooperativas de trabalho. Não há salários, mas participação.

Há uma estigmatização muito negativa do sindicalismo por parte do governo, por isto somos tão frágeis. Todavia, temos revelado capacidade de convocação e mobilização, por exemplo contra o Tratado de Livre Comércio proposto pelos EUA e a União Européia, que na realidade não são de livre comércio. Temos mobilizado por paz com justiça social e por uma saída negociada para os conflitos armados e acordos humanitários entre a insurgência e o governo, com troca de prisioneiros.

P- Qual a relação dos movimentos sociais com o governo Uribe?

R- As relações não são nada boas. O governo nos trata à base da repressão, não tem diálogo. Temos hoje na Colômbia 2700 presos políticos, inclusive sindicalistas. Cerca de 2900 sindicalistas foram assassinados nos últimos 20 anos, computamos 1700 exilados, 150 desaparecidos e só neste ano foram assassinados (até o início de maio) 24 sindicalistas e somamos mais um desaparecido. Há pouco mais de duas semanas o presidente da União Sindical Obreira (dos petroleiros), Jorge Gamboa, sofreu um atentado.

Os presidentes das centrais sindicais não são de esquerda e tem uma relação de maior diálogo com o governo. Porém, o governo não cumpre acordo. Com a esquerda não há diálogo. Temos um governo mafioso.

P- As pesquisas indicam, porém, que Uribe goza de muita popularidade. Como se explica isto?

R- As pesquisas são realizadas por institutos associados aos grandes meios de comunicação, controlados pela oligarquia. Não são confiáveis. No Congresso, que goza apenas de 27% de popularidade, temos 65 parlamentares envolvidos com o crime organizado, 31 foram presos. São os mesmos que elegeram Uribe.

Temos motivos para desconfiar que as pesquisas são manipuladas para favorecer a imagem de Uribe, que conta com total respaldo do governo Bush e do imperialismo. Uribe transformou a Colômbia em cabeça de praia para a política de guerra do governo estadunidense. É um cachorro do império.

P- Qual o julgamento que você faz das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARCs?

R- Os imperialistas qualificam de terroristas não só as FARCs como todo e qualquer movimento que se oponha aos seus interesses, ao seu modelo intervencionista. Porém, na realidade, o governo Bush é o maior terrorista do mundo. Consideramos as FARCs como um grupo guerrilheiro, insurgente, que colocou uma agenda de 12 pontos para o diálogo de Cancun, que infelizmente nunca foi efetivado. Os pontos em questão têm de ser objeto de discussão em uma Constituinte, preferencialmente. A insurgência tem de fazer parte do diálogo constitucional, é este o caminho para a paz, a justiça social, o desenvolvimento.

Creio que o pólo democrático alternativo, que agrega diferentes organizações de esquerda, é uma força eleitoral crescente, como o PT no Brasil e o PDN no México. Aspiramos ser governo em 2010 ou no mais tardar em 2014.

P- E as centrais sindicais?

R- Temos três centrais sindicais na Colômbia, com participação de correntes liberais, sociais democratas e comunistas. A CUT é a mais forte.

P- Fale sobre o Encontro Sindical Nossa América

R- Desde setembro do ano passado, quando demos os primeiros passos para a realização deste encontro, temos consciência da importância desta reunião, que tem caráter inclusivo, apelando a todas as forças e organizações democráticas para a unidade em defesa das mudanças em curso na América Latina, contra o imperialismo e a possibilidade de retrocesso neoliberal. Reunimos aqui em Quito representantes de 20 países para defender a revolução cubana, a revolução bolivariana, a integração solidária dos povos, os processos alternativos ao neoliberalismo, rechaçando as injustiças, a fome e a miséria. Pleiteamos a soberania alimentar e a defesa do meio ambiente.

Elaboramos uma Carta de Quito que reflete o pensamento coletivo unitário e aponta para um plano mínimo de ação. Não tenho dúvidas que foi um encontro exitoso. O próximo será realizado no Brasil. Manifestamos nosso firme apoio aos governos progressistas, como o de Chávez na Venezuela, Correa no Equador, Morales na Bolívia, entre outros. Identificamos nosso grande desafio, que é o de trabalhar no sentido de unir a classe trabalhadora e elevar o seu protagonismo nas lutas políticas que sacodem a América Latina. Vemos, por exemplo, que líderes como Chávez e Correa procuram se apoiar mais nas Forças Armadas que nos movimentos sociais, enquanto Morales mobiliza os indígenas. Isto que reflete nossas debilidades. O apoio dos militares é importante, porém é fundamental a participação mais ativa e decisiva da classe trabalhadora neste processo. Se a classe operária não assumir a vanguarda da luta política pela transformação social, as oligarquias, que continuam fortes, seguirão dominando e não conseguiremos abrir caminho a mudanças mais profundas. 

 

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