Luiza Bezerra: Realizar o 1º de maio unificado pelo segundo ano consecutivo mostra a força das entidades sindicais unidas em defesa dos direitos

Por Railídia Carvalho

Fortalecer a unidade das Centrais Sindicais e dialogar com amplos setores da sociedade é uma combinação fundamental para a resistência dos trabalhadores em meio ao conjunto de crises potencializadas pela pandemia do coronavírus. A opinião é da bancária e socióloga Luiza Bezerra, que é secretária de Juventude da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). “A gente sabe que em momentos assim uma das parcelas mais atingidas são justamente os mais jovens e as mulheres”, afirmou ao Portal CTB. “Tem ficado claro que quem gera a riqueza é o trabalhador”.

Confira abaixo a entrevista na íntegra: 

Portal CTB: Como você avalia o cenário do 1º de maio deste ano e qual será o espírito das atividades via internet programadas para o dia?

Luiza Bezerra: A gente vive um momento tenso em que a crise sanitária, causada pela pandemia, se une às demais crises já em curso (econômica, social, política). A gente sabe que em momentos assim uma das parcelas mais atingidas são justamente os mais jovens e as mulheres. Ao mesmo tempo, tem surgido várias iniciativas de solidariedade e tem ficado claro que quem gera a riqueza é o trabalhador. Isso abre espaço pra disputarmos a narrativa do atual momento. E o 1º de maio acontece no meio dessa conjuntura. É uma excelente oportunidade para nos reinventarmos e chegar a um número maior de trabalhadores e trabalhadoras, espalhados pelo país. Então o espirito tem sido de muita unidade, esperança e resistência pra barrar os retrocessos e retomar o desenvolvimento inclusivo do país.

Portal CTB: Que comparações a gente pode fazer com as lutas atuais e as lutas históricas do primeiro de maio. O que mudou ou retrocedeu?

Luiza Bezerra:A gente vive hoje o maior ataque aos direitos trabalhistas da nossa história. A todo momento surge uma tentativa nova de retirar nossos direitos. Semana passada tivemos uma vitória importante quando a MP 905, da carteira verde amarela, caducou. Seria um retrocesso gigante, em especial pra juventude que iria iniciar sua trajetória laboral com menos direitos. Este ano a forma de luta está diferente do que estamos acostumados, mas o conteúdo e a combatividade seguem presentes pra defender os direitos da classe trabalhadora, tão atacados no governo Bolsonaro.

Portal CTB: O golpe de 2016 abriu o caminho para a conjuntura de retirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras que vem se fortalecendo até os dias de hoje assim como o ataque aos sindicatos?

Luiza Bezerra: Sim, o golpe de 2016 tinha como objetivo implantar esse projeto de redução do Estado e retirada de direitos. Não à toa foi no governo Temer que se aprovou o Teto de Gastos, congelando investimentos em setores estratégicos como saúde e educação e que hoje tem dificultado uma resposta mais efetiva do setor público no enfrentamento à pandemia. Foi também no governo Temer que se implantou a Reforma Trabalhista, que retirou direitos, liberou contratos precários de trabalho, dificultou o acesso à justiça do trabalho e enfraqueceu os sindicatos. A gente percebe que o governo de Bolsonaro intensificou essa agenda. Além de projetos que visam retirar direitos trabalhistas, está em curso no Congresso uma proposta de reforma sindical, que visa acabar de vez com a representação dos trabalhadores e trabalhadoras. Nossa luta deve ser redobrada no próximo período para que não retrocedamos em nossas conquistas.

Portal CTB: Quais os caminhos que as Centrais apontam nesta resistência em defesa dos direitos da classe trabalhadora e da democracia?

Luiza Bezerra: O principal é a unidade. É uma grande vitória estarmos realizando pelo segundo ano consecutivo esse 1º de maio unificado, mostrando para a classe trabalhadora que estaremos juntos lutando por nossos direitos. A outra questão é a amplitude. Precisamos seguir buscando ampliar o diálogo com setores mais amplos da sociedade, que podem ter divergências em determinadas pautas, mas que prezem pela democracia e pela valorização das instituições. Sem liberdade democrática a gente não consegue realizar nossa luta sindical e pelos direitos, por isso ela é uma das principais batalhas do próximo período. Além da unidade, amplitude, diálogo e luta, acrescentaria sermos solidários neste momento de pandemia. Muitos trabalhadores e trabalhadoras estão com dificuldade de garantir o básico e o governo não tem dado o auxílio no montante e agilidade necessários. Precisamos estas juntos para vencer esse difícil momento.