Divanilton Pereira: Neste 1º de maio a unidade do movimento sindical reforça a causa democrática

Por Railídia Carvalho

O cenário de grave desemprego, crescimento da miséria e escalada autoritária foi potencializado pela pandemia do coronavírus que atingiu o mundo e se manifesta com forca no Brasil. “Estamos sob a égide de um governo de extrema-direita no país e que revela a cada dia seu objetivo pelo autoritarismo. Mesmo com o seu relativo isolamento político, devemos prosseguir denunciando-o e acumulando forças para derrotá-lo”, reiterou Divanilton Pereira, vice-presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)e membro do secretariado da Federação Sindical Mundial (FSM).

Em entrevista ao Portal CTB sobre o 1º de maio, que acontece nesta sexta-feira, o dirigente afirmou que “o movimento sindical unitariamente pode reforçar a causa democrática, incorporando a defesa da soberania nacional, do trabalho e dos direitos sociais dentro de amplas frentes políticas pelo país”. 

Divanilton reiterou o simbolismo histórico e político da data e pediu atenção ao legado que o atual contexto de articulação e movimentação sindicais vai gerar. “A jornada unitária e nacional envolvendo as Centrais Sindicais via internet não deixa de ter o seu simbolismo político. A profusão do uso dos meios digitais gerará um legado importante, apesar dos seus limites. Espero que após a pandemia essa mesma unidade possa se concretizar nas ruas”. 

As atividades do 1º de maio deste ano serão realizadas através de lives com a participação de onze centrais sindicais brasileiras. O tema é “Saúde, Emprego, Renda: Um novo mundo possível com solidariedade”.

Confira a entrevista na íntegra:

Portal CTB: Como você avalia o cenário do 1º de maio deste ano e qual será o espírito das atividades via internet programadas para o dia?


Divanilton Pereira: Este primeiro de maio será o 129º que teremos desde a sua formalização pela Segunda Internacional em 1891 e o 134º da histórica greve que o fez surgir em 1886. 

O cenário atual, em particular sobre a crescente centralidade da geopolítica, deve ser considerado levando em consideração o antes e depois da pandemia do COVID-19. As condições anteriores eram de uma ultrafinanceirização liberalizante que fragilizaram os Estados nacionais, promoveu o crescimento do conservadorismo fascistizante e um brutal ataque sistêmico e contínuo contra o trabalho vivo. Tudo isso determinado por uma maioria política liberal e anti-trabalho.

A resultante é o crescimento do desemprego, da miséria, dos imigrantes e do autoritarismo. Agora, com o advento de crise sanitária a realidade de outrora foi potencializada em todas essas múltiplas dimensões.  

Apesar de hoje os defensores do estado mínimo e da plena desregulação e plataformização do trabalho recorrerem aos Estados em busca de novos socorros e de políticas sociais protetivas, não creio que isso signifique que no pós-COVID 19 tenhamos uma nova ordem. Hábitos, novos cuidados e até mesmo uma proteção social mínima, em particular na saúde pública, não alterará a atual correlação de forças global. 

A jornada unitária e nacional envolvendo as Centrais Sindicais via internet não deixa de ter o seu simbolismo político. A profusão do uso dos meios digitais gerará um legado importante, apesar dos seus limites. Espero que após a pandemia essa mesma unidade possa se concretizar nas ruas. 
 
Portal CTB: Que comparações a gente pode fazer com as lutas atuais e as lutas históricas do primeiro de maio. O que mudou ou retrocedeu?

Divanilton Pereira: O dia 1º de maio de 1886 teve como reivindicação principal a redução das extensivas jornadas de trabalho. Passado mais de um século, essa mesma bandeira é uma exigência do novo tempo. Sob a hegemonia capitalista, desde então cresceram os ganhos de produtividade, sobretudo em função das inovações tecnológicas – como a recente indústria 4.0 – gerenciais e a redução do custo da força de trabalho.  Contudo, tais ganhos estão apropriados por uma minoria em detrimento da deterioração das condições de trabalho e do próprio emprego. 

O legado da greve de 1886 teve um sentido estratégico para as lutas futuras e a consciência da classe trabalhadora em nível mundial. O assassinato contra os seus líderes foi uma frustrada tentativa de apagar aquela jornada.

De lá até aqui passamos pela revolução de 1917, da qual destaca-se o legado da agenda social no mundo, e a sua derrota de sentido estratégico nos anos 90. A resultante desse recuo foi uma nova correlação de forças desfavorável a civilidade e ao trabalho que sofremos até hoje. 

Portal CTB: Quais os caminhos que as Centrais apontam nesta resistência em defesa dos direitos da classe trabalhadora e da democracia?

Divanilton Pereira: Primeiramente estarmos ativos, unidos e articulados dentro da luta política mais geral no país, pois é ela quem determina, em última instância, as condições em que disputamos a nossa pauta classista e democrática. Contudo, para termos eficácia nessa arena política, é fundamental o exame concreto sobre realidade concreta. Sem essa premissa, poderemos incorrer em diagnósticos superficiais ou subestimados, provocando erros táticos açodados que podem retardar a conquista de nossos objetivos. 

O Brasil de hoje, do desgoverno Bolsonaro, o mensageiro da morte, é de tensões, de imensas contradições entre as frações que o compõe e de seríssimas medidas contra a vida de nosso povo. Mesmo com o seu relativo isolamento político, ele ainda mira o rompimento democrático rumo a um Estado autoritário-policialesco. Isso impõe às forças democráticas e populares um esforço por uma ampla frente de salvação nacional, na qual a vida das pessoas, o trabalho e a democracia tenham a centralidade.