Grupo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro retorna e divulga carta à nação contra a cultura do ódio

“O Brasil vive um momento especialmente dramático de sua história. Nas eleições mais conturbadas após o fim da ditadura civil-militar, assistimos à perigosa afirmação, por um dos candidatos à Presidência, de princípios antidemocráticos, expressos num discurso fundado no ódio, na intolerância e na violência”, diz trecho da carta das brasileiras em defesa da democracia (leia a íntegra da carta abaixo).

Depois de ultrapassar o número de 2 milhões de integrantes, em poucos dias, a página de Facebook Mulheres Unidas Contra Bolsonaro foi hackeada e o Facebook a tirou do ar para averiguar os acontecimentos (Saiba mais aqui). Depois dessa violência, começama surgir diversas páginas com o mesmo teor.

A página foi reativada no domingo (16). Além do ataque cibernético, pessoas ligadas ao candidato Jair Bolsonaro disseminaram fakes pelas redes sociais sobre o grupo. Eduardo, deputado federal e filho do candidato da extrema-direita, divulgou texto acusando o jornal britânico The Guardian de mentir sobre as integrantes do grupo e a sua procedência.

Além disso, o deputado afirmou que “uma página qualquer do Facebook tinha 1 milhão de seguidores quando foi vendida para a esquerda. Então, sem qualquer vergonha, eles mudaram o nome dela para ‘Mulheres Unidas Contra Bolsonaro’ e saiu alardeando por aí que havia uma onda de mulheres contra o presidenciável”, como mostra o jornal El País Brasil.

A página retornou às verdadeiras proprietárias agora como “secreta”, ou seja, para participar desse grupo somente recebendo convite ou indicação de alguém que já está. De acordo com uma das administradoras o hacker foi identificado. Usa o nome de Eduardo Shinok. A página dele no Facebook não está mais disponível. De acordo com essa administradora ele recebeu ajuda da namorada no hackeamento. A investigação prossegue.

Portal CTB

Leia a carta na íntegra:

Carta das brasileiras em defesa da democracia, da igualdade e respeito à diversidade

O Brasil vive um momento especialmente dramático de sua história. Nas eleições mais conturbadas após o fim da ditadura civil-militar, assistimos à perigosa afirmação, por um dos candidatos à Presidência, de princípios antidemocráticos, expressos num discurso fundado no ódio, na intolerância e na violência.

Se a posição deste  candidato era pública, tendo sido reiteradamente manifesta  ao longo dos 27 anos em que vem atuando na Câmara Federal, causa perplexidade a adesão a tais princípios por parte significativa da sociedade brasileira.

O tratamento desrespeitoso dirigido às mulheres, aos negros,  indígenas, homossexuais,  o culto à  violência, a   agressão contra adversários, a defesa da tortura  e de torturadores,  constituem  manifestações que devem ser combatidas por aqueles que acreditam nos princípios civilizatórios que possibilitam a existência de uma sociedade democrática e plural.

Neste contexto, nós, mulheres, vítimas  de agressões e desqualificações por parte deste candidato, viemos à público expressar nosso mais veemente repúdio aos princípios por ele defendidos, conclamando a população brasileira a se unir na defesa da democracia, contra o fascismo e a barbárie.

Somos muitas, para além de um milhão que integra este grupo. Defendemos candidatos e candidatas distintas, dos mais diferentes matizes político- ideológicos.  Temos experiências e visões de mundo diversas,  assim como são distintas nossas idades, orientação sexual, identidades étnico- raciais e de gênero, classe social,  regiões do país em que vivemos, posições religiosas, escolaridade e atividade profissional. Na verdade, nos constituímos como coletivo a partir de uma causa comum, expressa nesta carta: a rejeição à prática política do candidato  e aos  princípios que a regem. Nos constituímos nas redes sociais, unidas  numa corrente crescente e ativa, pela necessidade de tornar pública nossa posição no exercício da cidadania e participação, a partir da identidade feminina que nos congrega. 

 Nós, mulheres, historicamente inferiorizadas e marginalizadas, sujeitas  a toda sorte de violência e  desrespeito,  recusamos hoje o silêncio e a submissão, herdeiras de uma luta  há muito travada por mulheres que nos antecederam.

Somos aquelas que constituem a maioria do eleitorado brasileiro, ainda que sub-representadas na política partidária. Somos aquelas que, gestando  e alimentado  novas vidas, defendemos o direito de todos e todas  a uma vida digna. Somos aquelas que, temendo pelas  nossas vidas, pelas vidas de nossos filhos, filhas,   companheiros e companheiras, diante da violência que assola e corrói  a sociedade brasileira,  somos contra a liberação do porte de armas, que  só irá piorar o já dramático quadro atual.

Somos aquelas que, recebendo salários inferiores, com menor chance de contratação e progressão nos espaços de trabalho,  entendemos que cabe  aos governantes, à semelhança do que já ocorre em muitos países, construir políticas de igualdade salarial entre homens e mulheres.

Somos aquelas que , vítimas  de assédio, estupro, agressão e feminicídio, defendemos  o direito à liberdade no exercício da vida afetiva e sexual,  demandando do   Estado proteção e punição aos crimes contra nós cometidos 

Somos aquelas que protestam contra a perseguição e violência contra a população LGBTQ, porque entendemos que  cada ser humano tem direito a viver sua identidade de gênero e orientação sexual.

Somos aquelas que se insurgem contra todas as formas de racismo e xenofobia, que defendem um país   social  e racialmente mais justo  e igualitário, que respeite as diferenças e  valorize as ancestralidades.

Somos aquelas que combatem o falso moralismo e a censura às expressões artísticas, que defendem a livre manifestação estética, o acesso à cultura em suas múltiplas manifestações.

Somos aquelas que defendem  o acesso à informação e a uma educação sexual responsável, através de  livros, filmes e materiais que eduquem as crianças e jovens para o mundo contemporâneo. 

Somos aquelas que defendem  o diálogo e parceria com  escolas,   professores e professoras  na educação de nossos filhos e filhas, sustentados  na laicidade, no aprendizado da ética, da cidadania e dos direitos humanos.

Somos aquelas  que querem um país com políticas sustentáveis, que respeitem e protejam o meio ambiente e os animais, que garanta o direito à terra pelas  populações tradicionais que nela vivem e trabalham.  

Somos muitas, somos milhões, somos: 

#MulheresUnidasContraBolsonaro

Contra o ódio, a violência e a intolerância

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