Olimpíadas Rio 2016: racismo e machismo contra Bárbara, goleira da seleção de futebol

Os Jogos Olímpicos Rio 2016 trazem a atenção de bilhões de pessoas para o Brasil. Com isso, a mídia internacional vem denunciando a ditadura em consolidação no país, através de um processo de impeachment fajuto (leia aqui).

Mas outras mazelas da sociedade brasileira também entram em cena. Ao ganhar a medalha de ouro na categoria até 57 quilos, Rafaela Silva (negra e pobre) trouxe à tona as ofensas racistas que sofreu nos jogos de Londres 2012, quando perdeu a possibilidade de medalha.

Agora, a postagem de um internauta em uma rede social, consegue cometer dois crimes de uma só vez. E a sua argumentação para justificar o que escreveu só faz piorar ainda mais. O membro do Conselho Federal de Administração Marcos Clay escreveu: “Eu odeio preto, mas essa goleira do Brasil tinha chance”.

A goleira em questão é Bárbara Micheline do Monte Barbosa, da seleção brasileira de futebol feminino. “É muita cara de pau. A pessoa escrever isso e depois dizer que foi brincadeira”, afirma Mônica Custódio, secretária de Promoção da Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Ao G1, da Globo, Clay, disse que “foi uma brincadeira de mau gosto… Uma brincadeira que infelizmente algumas pessoas se ofenderam, mas não era minha intenção. Tanto é que minha esposa é negra, todo mundo sabe disso. Quem me conhece sabe que eu não sou racista, tenho vários amigos que são negros, não tenho problema com isso”.

monica custodio 2014Para Custódio, esse tipo de argumentação é muito comum. Porém, “escrever ‘eu odeio preto’, significa o que? Brincadeira? Que tipo de brincadeira é essa? E aí a emenda fica pior do que o soneto, quando diz que a Bárbara ‘tinha chance’. Chance de que? Quem disse que ele tem alguma chance com ela?”

Isso mostra, afirma a sindicalista da CTB, que em “pleno século 21”, além de “racista esse rapaz é um tremendo de um machista” e reforça a proposta da ativista Nana Queiroz que lançou o “Guia Prático e Didático da Diferença entre Paquera e Assédio”, durante o carnaval, para ensinar os homens como paquerar, sem agredir (leia aqui).

“Essa é mais uma postagem racista na internet e é necessário ir fundo na questão e, dentro da lei, punir todos as postagens racistas e discriminatórias para acabar com esse tipo de atitude”, reforça Custódio.

Ela lembra ainda que a prática de racismo é crime inafiançável e imprescritível, mas que “dificilmente alguém é punido, porque a própria Justiça age com racismo, infelizmente”.

Clay tenta se defender. “Uma pessoa pegou meu post e republicou dando uma conotação de racismo. Deve ter alguma coisa contra mim. Já fiz uma retratação dizendo que era uma brincadeira. O povo de hoje está muito melindrado, ninguém pode mais falar nada nas redes sociais que vira polêmica”.

“Parece que as pessoas perderam completamente o bom senso, principalmente após o afastamento da presidenta Dilma e querem expressar toda a sua animalidade nas redes sociais”, afirma Custódio.

Para ela, “somente organizados e unidos, os afrodescendentes brasileiros conseguirão combater com mais tenacidade a chaga do racismo”. Ela convoca todos à luta porque “combater o racismo é defender o processo civilizatório brasileiro e o desenvolvimento da humanidade”.

Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

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