Unila Resiste: em defesa da universidade latino-americana

“Guarda tua luz, ó! Pátria! Mantém tua dura espiga de esperança em meio ao cego e temível ar. Em tua remota terra desceu esta luz difícil, este destino dos homens, que te faz defender uma flor misteriosa, solitária, na imensidão da América adormecida.” (Pablo Neruda)

No próximo ano, 2018, teremos eventos comemorativos dos cem anos da Reforma Universitária de Córdoba (1918), referência na luta por um modelo de universidade comprometida com a integração, democratização e soberania dos países latino-americanos e caribenhos. Após um século, esta luta enfrenta grandes desafios frente aos ataques à universidade pública resultante da globalização neoliberal. A ameaça de extinção da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) é mais um episódio deste contexto de grave regressão educacional.

No Brasil, com a política externa adotada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, que priorizou alianças estratégicas com parceiros cujas histórias e culturas se identificam com as do Brasil, foi estabelecido acordo de cooperação com diversos países da America Latina e África criando condições favoráveis para as universidades públicas desenvolverem projetos de integração entre estes países.

Nesse contexto, foram criadas duas universidades públicas: a Unila e a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). A Unila, conhecida como Universidade de Mercosul, com sede na cidade da Foz do Iguaçu, estado do Paraná, foi criada com a missão de contribuir com a formação de profissionais de alto nível e integração latino-americana, com o desenvolvimento regional e com o intercâmbio cultural, científico e educacional da América Latina, especialmente no Mercosul. Seu compromisso com o destino das sociedades latino-americanas é voltado para a construção de sociedades sustentáveis no século XXI, fundadas na identidade latino-americana, na sua diversidade cultural. Como instituição federal pública brasileira promove pesquisas avançadas em rede a partir de seu Instituto Mercosul de Estudos Avançados (Imea), com cátedras regionais nas diversas áreas do saber artístico, humanístico, científico e tecnológico. (01)

A professora Layla Waltenberg avalia que experiências como a Unila, em que pese as dificuldades e limites, demonstram a possibilidade de consonância entre os objetivos acadêmicos e políticos e as agendas de cooperação sul-sul, rompendo com os modelos anteriores da cooperação tradicional (Norte-Sul). Além do que a internacionalização da educação superior, através da cooperação solidária sul-sul, se apresenta como uma perspectiva alternativa à transnacionalização da educação superior desenvolvida pelos grandes conglomerados do mercado educativo. (02)

No entanto a continuidade desse projeto está ameaçada pela emenda aditiva nº55 da medida provisória que versa sobre o Fies, de autoria do deputado federal Sergio Souza (PMDB/PR). Nessa emenda, a proposta é extinguir a Unila, transformando-a na Universidade Federal do Oeste do Paraná, desfigurando seu projeto acadêmico e político original. Entidades da sociedade civil organizada, instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais, uniram-se às categorias internas da Unila em repúdio a essa emenda. A equipe da reitoria abriu uma petição pública em defesa da autonomia universitária e colocou-se ao lado de todas as manifestações em defesa do projeto original presente na lei de criação da universidade (Lei n° 12.189/2010). Até o momento, a petição conta com quase 10 mil assinaturas de apoio. Essa petição reafirma que a Constituição brasileira estabelece que o país “buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.

Nessa perspectiva, a defesa da Unila como um projeto de Estado deve ser compreendida na sua inserção nas lutas de resistência em defesa da educação pública frente ao avanço neoliberal. A universidade latino-americana e caribenha cumpre papel importante na construção do projeto de desenvolvimento soberano, includente, sustentável e de integração do continente e do nosso país. A Frente Brasil Popular coloca na sua pauta a construção da unidade social em defesa da Unila, cabendo a todas as forças comprometidas com esse projeto se integrar ao movimento #unilaresiste, buscando impedir mais este golpe contra a nação brasileira.

Referências bibliográficas:

01- Waltenberg, Layla Magalhães. A Internacionalização da Educação Superior: um olhar sobre as estratégias de cooperação sul-sul da política externa brasileira. Artigo apresentado a Escola de Ciência Política para a disciplina de “Orientação Monográfica II”, com vistas à conclusão do curso de Ciência Política da Unirio. Rio de janeiro, 2013.

02- A vocação da Unila: acessível em https://www.unila.edu.br/conteudo/voca%C3%A7%C3%A3o-da-unila.

Maria Clotilde Lemos Petta é coordenadora da Secretaria de Políticas Internacionais da Contee, diretora do Sinpro Campinas e Região, da CTB e vice-presidente da CEA.

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