Monocracia de mercado

Ao longo da história, o mercado sempre desfrutou de muito poder. Se teve capacidade de influir, decisivamente, na desestruturação do modelo de economia planificada do socialismo, no modo de produção capitalista tem se constituído, cada vez mais, em um fenômeno onipresente, onipotente e onisciente que orienta toda a vida em sociedade.

O conceito de democracia, que no Ocidente prosperou justamente quando da afirmação do liberalismo econômico e político, sempre buscou a criação de mecanismos para proteger o conjunto da sociedade dos abusos do Estado e do poder econômico. Aos trancos e barrancos, foi possível manter o que ficou conhecido como Estado democrático de direito por um bom tempo.

Mas, ultimamente o capitalismo, diante das seguidas crises próprias da natureza do sistema, assumiu novas formas de fluxo e reprodução do capital. O formato centrado na indústria e no comércio cedeu lugar à implacável hegemonia do sistema financeiro. A financeirização passou a subjugar a  produção. A economia ganhou um caráter parasitário, no qual prevalece o rentismo, a maximização dos lucros via mercado de capitais, sob o disfarce da globalização. Uma aberração capitalista que só tem feito concentrar escandalosamente a riqueza, espalhar e ampliar a miséria. Combinação altamente perigosa.

Esse modelo, denominado de neoliberalismo, que ganhou corpo globalmente a partir dos anos 70, em especial nos Estados Unidos e Inglaterra, minando as experiências européias do chamado Estado de bem-estar social, chegou ao Brasil no início dos anos 90 com Collor. Depois sofreu um recuo em escala mundial e agora recrudesce com toda a força, no rastro da mais longa crise do capitalismo, iniciada em fins de 2008.

Como país dependente, periférico, o Brasil tem sido um grande laboratório para o neoliberalismo, que impõe Estado mínimo para o povo e máximo para o capital. A sociedade perde proteção, as leis são manipuladas para atender prioritariamente os interesses do poder econômico, que assume as funções do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e da mídia. Dominação total.

Um modelito que o grande capital tenta hegemonizar no mundo capitalista. No Brasil, Bolsonaro, Moro, Dallagnol e companhia são consequências da estupidez neoliberal, que violenta o Estado democrático de direito para impôr a monocracia do mercado. Uma agressão à dignidade humana, uma ameaça à paz mundial.

* Rogaciano Medeiros é jornalista.   


 

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