Formação sindical do CES – uma atualização necessária

(Segunda e última parte)

Anos 2002 – 2017: da CUT à CTB, ressurgimento da formação sindical classista (Período Lula – Dilma)

A eleição de Lula em 2002 trouxe certa diferenciação para o movimento sindical quanto a situação política: encerrou-se o período neoliberal de FHC, assim como as taxas de desemprego caíram. Porém o movimento sindical se deparou com outro tipo de problema: a pouca autonomia dos sindicatos frente ao governo popular e democrático recém-eleito. 

Para os sindicalistas oriundos da antiga CSC esse dilema aprofundou-se ao mesmo tempo em que a corrente majoritária no interior da CUT usava de instrumentos poucos democráticos de convivência interna. Findou-se pela saída dos sindicatos ligados à CSC no interior da CUT, em fins de 2007. Em dezembro de 2007 funda-se a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB por iniciativa da CSC.

Com a fundação da CTB dá-se o início de uma nova etapa na vida do CES. O CES passa a ser a entidade conveniada à CTB que irá elaborar e realizar toda política de formação sindical da CTB. O convênio com a CTB trouxe vida nova para o CES. Incrementou atividades formativas onde anteriormente não havia inserção política da CSC. A formação classista esteve presente nas vinte e sete unidades federativas do país.

No convênio com a CTB foi colocado uma cláusula de formação de formadores sindicais à semelhança do CNFM. Fato este que multiplicou a formação nas bases sindicais a partir das CTB’s estaduais.

Não foi possível manter a edição da revista Debate Sindical. Em novembro de 2006 foi editada a última publicação da revista. Foi encerrado um período rico de debate e aprofundamento de temas relacionados ao mundo do trabalho, do sindicalismo e da política do país, através de publicação sindical impressa.

A firmação de convênio da CTB com o CES foi promissora. Os pressupostos de fundação do CES, em 1985, de ajudar a construir um sindicalismo forte e democrático, foram consolidados no interior da central. Hoje a CTB é forte, de luta e defende com ênfase a democracia. Tanto a democracia interna, no âmbito sindical, como um país democrático. Ao longo de dez anos de intensa e ininterrupta formação sindical o CES formou lideranças sindicais da CTB em todo o país. O convênio, porém, foi suspenso em janeiro de 2018.

A situação política nacional quanto aos governos do PT (Lula e Dilma) se esgarça. Em junho de 2013 inicia-se um período de contestação às políticas do governo federal, assim como aos gestores estaduais e municipais. Essa contestação cresce como movimento de massa e ocupa as ruas. Aos poucos vai assumindo um discurso conservador e o movimento ganha cada vez mais adeptos na sociedade. Apesar da quarta vitória do campo petista na presidência da república em 2014 o desfecho da onda conservadora é o golpe da presidenta Dilma em abril-agosto de 2016 e a implantação de um projeto político ultraconservador e de retirada de direitos sociais e trabalhistas para governar o país.

2018: novo projeto para a formação sindical classista (Brasil pós golpe)

Sacramentado o golpe em agosto de 2016 com o afastamento definitivo da presidenta Dilma, inicia-se uma perseguição jurídica midiática contra o ex-presidente Lula. Esse processo termina no ano de 2018 com sua condenação e prisão.

Concomitante, na sociedade brasileira, se projeta uma onda conservadora com manifestações de fascismo. As instituições, tanto públicas como privadas, também acompanham essa onda conservadora.

Aprova-se no Congresso Nacional a Emenda Constitucional nº 95 que congela por vinte anos os recursos públicos nas áreas sociais. Aprova-se também a contra reforma trabalhista e um devastador processo de privatizações e vendas de ativos de empresas estatais.

Uma nova realidade também ocorre no mundo do trabalho no cenário internacional e no Brasil: a chamada 4ª Revolução Industrial, ou revolução 4G. Essa revolução prevê, entre suas medidas mais drásticas, a substituição da mão de obra humana por computadores no processo produtivo.

A maior experiência formativa do CES foi o convênio com a CTB. Uma parceria que ajudou não só na formação sindical da central, mas também o processo de organização da CTB e o processo de debate político de construção do Projeto Nacional de Desenvolvimento com valorização do Trabalho.

A partir dessa realidade proponho um novo projeto para o CES relacionado na seguinte ordem de importância: 1 – Apoiar, assessorar e implementar a Política Nacional de Formação – PNF da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB; 2- Incluir na grade curricular do CES a 4ª Revolução Industrial onde se incluam as causas, consequências, efeitos dessa revolução no mundo do trabalho. Com isso relacioná-la no novo perfil dos Estados nacionais e nas organizações sindicais; 3 – Incluir na grade curricular do CES o papel dos novos movimentos sociais surgidos a partir do surgimento da globalização, das crises da década de 1970, 1980 e de 2008 e do surgimento do precariado no início dos anos 2000; 4 – Incluir na grade curricular do CES, a partir do novo cenário político internacional e nacional dos movimentos sociais, a centralidade do trabalho, do papel relevante da classe proletária, tendo à frente os sindicatos como seus representantes.

Os desafios políticos da formação sindical classista, que serviu de base teórica e ideológica na sua formação no ano de 1985, são enormes na atualidade. Na data da comemoração dos 33 anos o Centro Nacional de Formação Sindical – CES está diante de mais uma peleja de caráter político sindical formativo.

Carlos Rogério de Carvalho Nunes é membro do Conselho Fiscal da CTB Nacional, coordenador adjunto do CES e pós-graduando em Serviço Social PUC-SP

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor

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