Fios e tramas do arco íris, trabalho e a LGBTfobia em tempos de fascismo

Nossos passos vem de longe!

Muitas de nós já foram queimadas em fogueiras!

Muitas de nós estavam na linha de frente como atiradoras de elite na Revolução Russa!

Muitas de nós como Aqualtune avó de Zumbi dos Palmares estavam dirigindo Quilombos, grandes espaços de luta e resistência!

Muitas de nós como Helenira estavam no Araguaia liderando guerrilhas!

Muitas de nós já foram estupradas nos porões da casa grande!

Muitas de nós perderam seus companheiros e companheiras, perderam seus filhos e filhas no terror da ditadura!

Uma de nós foi eleita a primeira presidenta do Brasil e sofreu impeachment sem crime de responsabilidade, sofreu machismo, misoginia, inúmeras violências como por exemplo um adesivo que incitava ao estupro, e foi afastada através de um golpe parlamentar que golpeou todo o povo brasileiro.

Lutamos para que não esqueçamos e que tudo isso nunca mais aconteça.

Os dias de chumbo da ditadura militar de 1964, nos lembram o período que estamos vivendo nos dias atuais.

Estamos atravessando uma crise política, institucional, midiática, jurídica e civilizatória, que é bem mais grave que uma onda conservadora, vivemos um Tsunami Conservador que considero a sala de espera do fascismo.
Forças de direita e extrema-direita estão em ascensão em vários países.

O golpe no Brasil tem muitas dimensões e acentua o acirramento da luta de classes, concentrando mais ainda a riqueza em prejuízo da classe trabalhadora. O Impeachment é um golpe, que esconde a verdadeira máscara dos interesses do capital que é exterminar os governos populares e progressistas da região que formaram um bloco anti-imperialista latino-americano que conseguiu barrar a Alca e avançou nos últimos anos mais do que nos últimos dois séculos através do Mercosul, da Unasul, do conselho de defesa Sul-americano, fortaleceram as relações regionais a nível político e econômico e articulações transcontinentais especialmente no caso da Venezuela e Brasil sendo o BRICS a expressão mais destacada deste tipo de aliança.

A vitória de Donald Trump no pleito presidencial dos EUA, é um atestado do declínio do império americano e dos impasses da globalização neoliberal, embaralhou a política externa do império, com iniciativas contraditórias como o fim da Parceria Transpacífico e a proibição da entrada de imigrantes muçulmanos no país, e acrescentou novas nuvens de incertezas num cenário que já se configurava crítico.

O cenário de fundo é a crise atual do capitalismo que promove os fascismos, como já aconteceu na história recente, em formato diferente, com Mussolini, Hitler, Franco e Salazar.
A crise do capitalismo nos últimos 10 anos mostra que a saída dos governos neoliberais, do capital financeiro e especulativo tem sido o arrocho e o aperto para cima dos trabalhadores e das trabalhadoras. A consequência é nítida: aumento da fome, pobreza, de guerras e conflitos em diversas partes do mundo.

O usurpador, Michel Temer, busca com o apoio do consórcio político, empresarial, midiático, jurídico que consumou o golpe – dar sobrevida ao governo ilegítimo até 2018. Para isso, procura dar seguimento em ritmo acelerado, tal como foi no ano passado, à aprovação e à efetivação da agenda ultraliberal e conservadora.

Assim, depois da EC 95 (Emenda Constitucional do Ajuste Fiscal) – que congela o orçamento obrigatório para a Educação, assistência social e a Saúde, por 20 anos, busca sucatear ainda mais a educação pública e acabar com o SUS, para assegurar os ganhos astronômicos dos rentistas e ter mais elementos para privatizar o Brasil.

Com a reforma trabalhista, as férias poderão ser parceladas em até 3 vezes. A jornada de trabalho pode ser de até 12 horas diárias. A jornada intermitente permite que o trabalhador e a trabalhadora atuem apenas alguns dias na semana, ou trabalhe apenas algumas horas por dia. Terá que ficar à disposição do patrão e só receberá o equivalente às horas trabalhadas. Ou seja, nunca saberá qual será o seu salário no final do mês. Direito a 30 minutos de intervalo e mulheres grávidas ou amamentando poderão trabalhar em ambientes considerados insalubres, dentre outras atrocidades.

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Estão vendendo o Brasil e depois do ataque ao regime de partilha do pré-sal que abriu caminho para a entrega dessa grande riqueza às multinacionais, Temer promete entregar agora uma joia há muito cobiçada pelo “mercado”: A reforma da previdência = morte sem aposentadoria, é um crime na vida do povo brasileiro, principalmente na vida das mulheres e das trabalhadoras rurais.

Na contramão do reconhecimento da sobrecarga de trabalho e responsabilidades historicamente imputadas às mulheres, foi apresentada pelo governo golpista de Michel Temer uma proposta de reforma da previdência que propõe igualar a idade de homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras rurais e urbanos para 65 anos, com 25 anos de contribuição. Dessa forma, as trabalhadoras rurais, por exemplo, que até agora se aposentavam com 55 anos, precisarão trabalhar pelo menos 10 anos a mais. Equiparar a idade de homens e mulheres para aposentadoria é desconsiderar a tripla jornada de trabalho das mulheres, que garantem a realização do trabalho doméstico e de cuidados, além da reprodução da força de trabalho.

Estas mesmas mulheres, que já cumprem uma dupla jornada de trabalho, recebem salários menores que os homens. Nos dados do IBGE de 2014, as mulheres recebem 27% a menos que os homens, e as mulheres negras ganham 40% a menos que os homens brancos. Não é à toa que essa diferença também vai se expressar na aposentadoria.
Um dos grandes desafios hoje é resistir à ofensiva de conservadores, reacionários e neoliberais na redução de direitos conquistados desde a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, na venda do patrimônio brasileiro ao mercado estrangeiro e o desmonte da indústria nacional dentro de uma cartilha entreguista.

A classe trabalhadora é quem mais sofre com a crise. O desemprego assume proporções devastadoras e já atinge mais de 200 milhões de trabalhadores e trabalhadoras no mundo.

O ataque à classe trabalhadora é sem dúvida uma arma letal que fere de morte o povo brasileiro, já que o trabalho é um elemento definidor do próprio ser. Segundo Marx e Engels, ontologicamente o trabalho é o definidor do ser humano, uma vez que gera condições reais de existência.

A dupla jornada de trabalho e a desigualdade salarial são dois dados chocantes da situação das mulheres trabalhadoras no Brasil que se completa com a triste constatação de que a precarização, a terceirização, o trabalho informal e o desemprego tem rosto de mulher e em sua maioria o rosto das mulheres negras.

A violência do racismo institucional segue matando e massacrando as mulheres negras que são 25% da população brasileira e tem em sua história social a marca da escravidão, dos estupros e da violência cotidiana imposta por uma sociedade racista e machista. As mulheres negras chegam a ter salário duas vezes menor do que os homens brancos e, em geral, ocupam lugares de trabalho muito precarizados.

Vivemos uma conjuntura de avanço do conservadorismo e de perda de direitos sociais e trabalhistas historicamente conquistados, seguido do aumento da violência e do controle sobre a vida e o corpo das mulheres, com o aumento do racismo, aumento do feminicídio, da lesbofobia, da homofobia, da transfobia, além da repressão, criminalização aos movimentos sociais e populares, criminalização do movimento sindical, das Centrais Sindicais e da desqualificação e perseguição das esquerdas.

O que o fascismo foi e é, um sistema de governo em conluio com grandes empresas, que favorecem economicamente com a cartelização do setor privado, os subsídios às oligarquias financeiras e econômicas. Quando as crises rebentam as pessoas humanamente interrogam-se sobre o dia de amanhã. A reação mais imediata e espontânea é o receio pelo seu futuro. Se num primeiro impacto os princípios da sociedade que os impôs são postos em causa, a seguir regressam em força, pela mão dos agentes mais violentos do capitalismo.

A face do conservadorismo da direita fascista – Onde grupos conservadores são maioria do Congresso Nacional, e retiram do Plano Nacional de Educação os conteúdos de igualdade de gênero, jogando todo o seu moralismo e atraso numa vala comum afirmando que queremos acabar com a família. Escancaram sua lesbofobia, transfobia e homofobia, mentindo e criando uma falsa polêmica sobre uma ideologia de gênero inventada por eles. A retirada do gênero dos planos municipais, estaduais e nacional de educação, faz parte da pauta conservadora em curso, que também se relaciona com a tramitação do Estatuto da Família que nega o direito a proteção do Estado às famílias LGBT e todas as outras famílias que fogem do padrão margarina: papai, mamãe e filhos e filhas.

No último censo IBGE, de 2010, foram apontadas 60 mil famílias LGBTs e 19 laços de parentescos. Multiplas familias, multiplas formas, jeitos, arranjos, amores…

No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels, além de afirmarem o papel da família na reprodução da opressão da mulher, indicam a possibilidade e a necessidade de transformar essa instituição.

Marx também faz uma análise crítica do conceito liberal de igualdade. Apresenta os limites da igualdade jurídica como instrumento de reversão da subordinação vivida pelas mulheres. Faz a distinção entre emancipação política formal que tem como objetivo a igualdade de direitos sem levar em consideração as desigualdades reais, apontando para o feminismo emancipacionista que persegue uma transformação das estruturas econômicas e políticas geradoras das desigualdades.

A contribuição da revolucionária russa Alexandra Kollantai (1873-1952) que é uma referência importante para as feministas marxistas, abordou os temas do amor e da sexualidade, temas até então bem pouco considerados por pensadores marxistas dando conseqüência à análise de Karl Marx e Friedrich Engels em relação à falsa moral burguesa e aos interesses que sustentavam a instituição familiar, Kollantai argumentou a favor de uma sexualidade livre das amarras morais e materiais.

Dentre as referências de mulheres feministas marxistas está a camarada Loreta Valadares (2007) que nos coloca um grande desafio: “Quando eu me for (se eu me for) vão até onde não fui”.

Acreditamos que este momento histórico que estamos vivendo está completamente ligado a esta afirmativa de Loreta, pois ela entendia que a opressão de classe interliga-se com a opressão de gênero, coincidindo historicamente e se desenvolvendo entrelaçadas no decorrer da história. A elas, entrelaça-se a opressão de raça. Também defendia que a luta contra a opressão de gênero se insere na luta contra todos os elos de opressão e pela conquista de uma sociedade radicalmente livre, sem discriminação de sexo/gênero, raça e de classe.

Ousamos afirmar: Uma sociedade radicalmente livre, sem opressão de classe, gênero, raça/ etnia, orientação sexual, identidade de gênero, geração, deficiências dentre outras. A luta por uma sociedade avançada e socialista e as lutas por direitos não são contraditórias, ao contrário, abrem possibilidades para nos aproximarmos cada vez mais das lutas e dos anseios do povo brasileiro.

A laicidade do Estado está garantida na Constituição brasileira, mas muitos se elegeram pastor disso e daquilo, e deu nisso, a direita saiu do armário e em parceria com a mídia golpista buscam fazer a cabeça do povo, mostrando o que querem, quando querem, enfim, exercendo seu poder em favor do golpe institucional e midiático em curso.

Os feminicídios estão acontecendo com requintes de crueldade e violência, e as mulheres LBT não aparecem nas estatísticas por estarem invisíveis, pois na maioria das vezes todas as mulheres são consideradas heterossexuais.

Segundo o “Relatório de Violência LGBT ano de 2011”, foram notificados 278 homicídios de LGBT no país. Ainda naquele ano, foram denunciadas à Secretaria Especial de Direitos Humanos 6.809 violações de direitos humanos envolvendo 1.713 vítimas. O mesmo relatório referente ao ano de 2012 contabilizou 310 assassinatos e 9.982 violações de direitos humanos envolvendo 4.851 vítimas (BRASIL, 2013).

O número de denúncias aumentou em 166% de um ano para o outro. Em 2013, segundo o mesmo relatório, em preparação para publicação, ocorreram 251 assassinatos e 3.398 violações de direitos contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais envolvendo 1.906 vítimas. Segundo balanço da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos divulgado em Janeiro de 2016, o ano de 2014 registrou 2.143 violações de direitos seguido de um total de 2.964 violações em 2015.

É importante salientar que esses números, bastante expressivos da violência que atinge a população LGBT, possivelmente não revelam a quantidade real de todas as violações de direitos humanos desse segmento, devido à subnotificação dos dados produzidos por uma cultura de negação da denúncia, da desconfiança e descrença de respostas efetivas dadas pelos órgãos públicos, da naturalização desse tipo de violência no cotidiano, e do desconhecimento dos canais de denúncia. Entretanto, acredita-se que o aumento no número de denúncias revela uma maior inserção do Disque 100 pelo país como também uma leve mudança na cultura das denúncias no Brasil.

A banalização da violência contra a população LGBT, como apontado, é um fator crucial que dificulta o seu enfrentamento. Enraizada na cultura e nas práticas sociais, essas violências acabam sendo assimiladas como comuns nas nossas relações. Tal assimilação produz subjetividades marcadas pela subalternidade e hierarquização entre sujeitos/as LGBTs e não-LGBTs. Esse processo cultural nos impõe o desafio de desnaturalizar as opressões e denunciar a forma como elas constrangem a humanidade por meio de novas práticas culturais e educativas – numa perspectiva freireana, libertadora.

Quando uma mulher desafia o papel que lhe é imposto, como é o caso das Lésbicas, Bis, e Trans ao transgredirem a norma heteronormativa, acabam sofrendo uma violência “diluída” que vem de diversas frentes. “As violações contra as mulheres trans, de forma geral, repetem o padrão dos crimes de ódio, motivados por preconceito contra alguma característica da pessoa agredida que a identifique como parte de um grupo discriminado, socialmente desprotegido, e caracterizados pela forma hedionda como são executados, com várias facadas, alvejamento sem aviso, apedrejamento, reiterando, desse modo, a violência genérica e a abjeção com que são tratadas as pessoas trans no Brasil. Historicamente, a população trans é estigmatizada, marginalizada e perseguida, devido à crença na sua anormalidade, decorrente do estereótipo de que o “natural” é que o gênero atribuído ao nascimento seja aquele com o qual a pessoa se identifica e, portanto, espera-se que ela se comporte de acordo com o que se julga ser o “adequado” para esse ou aquele gênero” .

O Brasil é o país que mais mata travestis e mulheres trans no mundo, de acordo com pesquisa do instituto TransEurope. Sendo assim, toda a população LGBT fica vulnerável a tamanha violência. Infelizmente os dados são alarmantes. A cada 36 horas um LGBT é assassinado no Brasil.

E no mundo do trabalho a situação continua emblemática, 90% das travestis brasileiras estão fora do mercado de trabalho formal, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).

A associação de preconceitos resulta em graves violações de direitos humanos cometidas em larga escala. Por meio de seus diversos mecanismos de monitoramentos, historicamente, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) tem recebido informações sobre a vulnerabilidade da população LGBT a atos de violência sexual ou familiar e constatou que, em todo o continente americano, as mulheres LBT correm o risco particular de violência devido à misoginia e à desigualdade de gênero na sociedade.

Segundo a OEA, mulheres lésbicas ou identificadas desta forma foram vítimas de “estupro corretivo”, ou estupro para puni-las, com a intenção de “mudar” sua orientação sexual; de espancamentos coletivos por causa de manifestação pública de afeto; de ataques com ácidos; e de entrega forçada a centros que se oferecem para “converter” sua orientação sexual.
Sempre foi proibido desejar outra mulher, e ainda hoje, a sociedade e os “moralistas de plantão” consideram o amor entre duas mulheres um “pecado”, um “desvio”, uma “anormalidade”, um desejo proibido.

Nos dias de hoje, os fundamentalistas que estão representados no Congresso Nacional pelas bancadas do Boi, Bala, Bíblia (BBB), ainda afirmam que o divórcio é uma praga, que o aborto é um crime e entendem que o grande papel da mulher é procriar e cuidar da família, e que as Lésbicas, as Bis, as Travestis, as Transexuais e os Gays são pessoas que necessitam de “ajuda” da medicina, dos exorcistas ou da polícia.

A questão não é ser Lésbica mas, sim, a lesbofobia que enfrentamos a cada dia, nessa sociedade regida pelo heteropatriarcado, pelo sexismo, pelos fundamentalismos que excluem e tão brutalmente destroem vidas e sentimentos, impedindo que nos expressemos livremente. É preciso considerar o processo de exclusão existindo a partir de determinadas opções ideológicas, de classe social, gênero, raça/etnia, livre orientação e expressão sexual, identidade de gênero, condições sociais e individuais exigidas para atingir as suas necessidades. Portanto, é um processo múltiplo que se compõe de situações de apartação de condições de classe, qualidade de vida, dignidade e igualdade de direitos.

29 de Agosto – Dia Nacional da Visibilidade Lésbica

A história de mulheres que amam outras mulheres não representa nenhuma novidade em nossa sociedade, já que a origem do termo lésbica, provém da ilha de Lesbos, ilha grega da Ásia Menor, marcada pela presença de Safo (século VII a.C), poetisa de talento excepcional cuja inspiração era insuflada pela paixão e desejo por mulheres. Sua obra foi queimada e reduzida a fragmentos, por sua orientação sexual e pela devoção às deusas gregas. As mulheres nascidas em Lesbos, eram chamadas de lésbicas.

No Brasil, no século XVI, Felipa de Souza foi denunciada ao tribunal do Santo Ofício, na Bahia, por “práticas diabólicas”. Entre essas práticas, fazer amor com mulheres. Sua punição foi severa: a humilhação e o açoite públicos seguidos pelo exílio e morte.

Hoje, no século XXI, pode-se dizer que muita coisa mudou, em decorrência da ação do movimento pelos direitos sexuais. As mulheres lésbicas e bissexuais brasileiras não são açoitadas em praça pública e não podem ser legalmente punidas por suas escolhas afetivas e sexuais. No entanto, o preconceito e a consequente discriminação seguem impedindo o exercício de liberdades fundamentais e violando os direitos humanos das mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais.

O movimento organizado e politizado em torno da população LGBT surge, no Brasil, no final dos anos 1970, no período de abertura política. A organização lésbica marca os idos dos anos 1979, quando lésbicas, predominantemente feministas, começam a marcar presença e visibilidade no primeiro grupo de afirmação homossexual do país, o Somos, em São Paulo.

A organização lésbica no Somos se desenvolve através da formação de um subgrupo que agregou várias denominações: facção lésbica-feminista, subgrupo lésbico-feminista, ação lésbica-feminista.

Em maio de 1980, em resposta ao machismo e ao patriarcado presentes no movimento gay, surge o primeiro grupo só de lésbicas, denominado Grupo Lésbico-Feminista, ou simplesmente LF. No final dos anos de 1980, as lésbicas do Grupo Lésbico-Feminista se dividem em dois caminhos: algumas saem da militância, outras ocupam diferentes espaços de organização coletiva (de natureza feminista e/ou de natureza lésbica ou outros movimentos). Em outubro de 1981, as lésbicas que optaram por consolidar a militância especificamente lésbica e feminista fundam o Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF) que permaneceu atuante durante praticamente toda a década de oitenta (1981-1989).

Se a década de 1980 é marcada por uma presença ainda tímida de grupos lésbicos, a partir de 1990, a organização do segmento começa a ocupar o cenário brasileiro de forma menos isolada, através da criação de outros grupos compostos somente de lésbicas, ou do fortalecimento de núcleos de lésbicas atuantes nos grupos mistos ou por meio de ativistas independentes/autônomas que militam em fóruns, redes e articulações. Dessa forma, no Brasil, os grupos de lésbicas vão se multiplicando e, aos poucos, conquistando maior visibilidade.

Um momento significativo para a organização lésbica brasileira foi a construção do Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE).

O SENALE surgiu da necessidade de se ter um espaço onde as especificidades das lésbicas pudessem ser discutidas de uma forma mais ampla e democrática, já que nos encontros mistos esse espaço era e continua sendo machista e insuficiente.

Em 1996, o Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro – COLERJ e o Centro de Documentação e Informação Coisa de Mulher (RJ) realizaram naquele mesmo ano, o I SENALE, entre 29 de agosto e 01 de setembro, no RJ. O evento contou com a participação de aproximadamente, 100 lésbicas e teve como tema central “Saúde, Visibilidade e Organização”.

dia nacional visibilidade lesbica

Neste SENALE foi escolhido o 29 de agosto, como Dia Nacional pela Visibilidade Lésbica. A data adveio da necessidade coletiva de tornar público um segmento que, historicamente, ocupou o espaço da invisibilidade. Nesse horizonte, a expressão pública desponta como uma das estratégias centrais para romper com os estigmas sociais. Trata-se, ainda, de um instrumento para o fortalecimento político das mulheres que se relacionam com mulheres, sendo muitas delas, vítimas de violência psicológica, física e sexual em razão do machismo e dos preconceitos impregnados na sociedade.

A Lesbofobia, Bifobia e Transfobia no Mundo do Trabalho

Antes restrita a poucas categorias, a concessão de direitos a trabalhadores e trabalhadoras LGBT tem se espalhado nos últimos anos por diferentes convenções coletivas. Grupos como o dos químicos, bancários e, mais recentemente, de metalúrgicos e agricultores têm incluído em seus acordos cláusulas que vão da extensão de benefícios aos parceiros à licença casamento e licença adoção.

O acesso dos trabalhadores e das trabalhadoras a esses direitos, contudo, ainda é bastante limitado em algumas áreas, de acordo com as entidades sindicais. O machismo, o preconceito e a falta de instrumentos dentro das empresas que resguardem os direitos dos funcionários e das funcionárias muitas vezes inibe pedidos de inclusão dos benefícios.

Esse é o caso dos aeroviários de Porto Alegre. Diante da resistência das entidades patronais, a categoria recorreu ao Tribunal Superior do Trabalho (TST) para assegurar, em 2011, a inclusão das cláusulas que garantem, além da participação do dependente no convênio médico, o direito aos parceiros de usufruir dos descontos em passagens aos quais os funcionários das aéreas geralmente têm direito. Nos últimos quatro anos, contudo, apenas três trabalhadores da base do sindicato entraram com pedido de inclusão do companheiro, demonstrando que temos muito trabalho pela frente para que a população LGBT tenha condições de viver com igualdade de direitos e oportunidades no mundo do trabalho.

O estigma e a discriminação vivenciados pela população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) têm resultado em graves violações de direitos humanos, dificultando a erradicação da violência e de doenças como a aids. No mundo do trabalho, o estigma e a discriminação influenciam os níveis de eficiência e produção, o bem-estar laboral e o próprio acesso ou permanência em um trabalho decente.

Considerando que apoiar a promoção dos direitos humanos é uma das principais missões das Nações Unidas no Brasil, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) e seus parceiros promoveram a iniciativa “Construindo Igualdade de Oportunidades no Mundo do Trabalho – Combatendo a Homo-lesbo-transfobia”. Com base no texto da “Recomendação nº 200 da OIT sobre HIV/aids e o Mundo do Trabalho, 2010.

Um trabalho decente é direito de todos os trabalhadores e trabalhadoras, bem como daqueles ou daquelas que estão em busca de trabalho, representando a garantia de uma atividade laboral em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana.

Sabemos que a Reforma Trabalhista acaba com a CLT e, portanto, o negociado vale mais que o legislado. Imaginem que o exército de desempregados e desempregadas aumentará cada vez mais e sem dúvida as mulheres, negros e negras, LGBTs, deficientes serão cada vez mais excluídos do mundo do trabalho. O Brasil será um país de “biscateiros”.

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos enuncia a Declaração Universal dos Direitos Humanos, estabelecendo que o valor como pessoa é igual para qualquer ser humano, não importando sua raça, sexo, religião, orientação sexual, identidade de gênero, idioma, ou qualquer outra condição.

Precisamos acreditar na nossa capacidade de construir, transformar, revolucionar esta sociedade, que continua oprimindo, quem se atreve a “sair da caixinha”… “fugir da regra”… sair do armário…

Nossa cidadania existe, porque, lado a lado com a luta de classes, nos organizamos e nos constituímos enquanto sujeitos políticos coletivos, como lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, em torno do direito à participação política, ao trabalho, à educação, à saúde, à cultura e às artes, aos esportes, a decidir pelo uso do próprio corpo, à subjetividade de desejar, amar e amar de novo, enfim, termos o direito de ter direitos. Já tivemos inúmeras conquistas, mas ainda temos muito que conquistar!

A agenda conservadora que vem sendo imposta pelo conjunto de valores que ganham muita força com este governo ilegitmo, sem voto popular que representa e fortalece o patriarcado, a misoginia, o feminicídio, a cultura do estupro e a violência contra as mulheres: negras, lésbicas, bissexuais, transexuais, prostitutas, ciganas, deficientes, enfim, todas as mulheres com suas diversidades e especificidades, precisa ser combatida.

O Fascismo não combina com direitos humanos, e democracia não combina com este projeto ultraliberal e conservador de Michel Temer e sua turma.

Resistir e lutar é o que precisamos continuar fazendo, ocupando as ruas e dialogando cada vez mais com o povo, para que juntas e juntos possamos atravessar este período de acirramento da luta de classes e retirada de direitos.

Neste momento de resistência e luta o principal desafio dos movimentos sociais e populares, movimentos sindical, é elevar a consciência política da classe trabalhadora, ganhando sobretudo corações e mentes da juventude trabalhadora na luta para derrotar o golpe, afastar o presidente golpista, conquistar novas eleições diretas e retomar a agenda da classe trabalhadora por um novo projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho, democracia e soberania nacional.

Fora Temer! Diretas Já!

“Alguém é homo, lés, bi, trans, travesti ou heterossexual à revelia de qualquer pré determinação? Mas podemos dizer que somos bichas, sapas, thildes [acréscimo meu], e/ou queer porque ao sermos interpeladas no lugar de abjeto (ignóbeis, bizarras, desprezíveis, inumanas) nos vimos diante de uma possibilidade: sermos assujeitadas e/ou de ressignificarmos nossas vidas” (Pocahi, 2007).

“Alguém, creio, lembrará de nós no futuro” (Safo, 640 a.C.)

Silvana Conti – Professora aposentada da RME/POA. Lésbica/Feminista. Secretária de Mulheres do PCdoB/RS. Vice – Presidenta da CTB/RS. Membro da direção da UBM Nacional. Militante da UNALGBT.

Referências Bibliográficas:

ENGELS, Friederich. O papel do trabalho na transformação do macaco em homem,1876.

Documento Base do 4° Congresso Nacional da CTB\2017

Documento construído durante o Fórum das Resistências 2017 pela Frente Gaúcha da Escola Sem Mordaça. Fonte:http://www.umoutroolhar.com.br. Por Camila Veras Mota

Manifesto 08M Unificado 2017.

POCAHI, Fernando. Um mundo de injúrias e outras violações: reflexões sobre a violência heterosexista e homofóbica a partir da experiência do Centro de Referência em Direitos Humanos. Rompendo o silêncio. Nuances, 2007.

Promoção dos direitos humanos de pessoas LGBT no mundo do trabalho: OIT. UNAIDS.PNUD.Ano:2015, 2. ed. revista e ampliada

Programa Socialista e Estatuto do Partido Comunista do Brasil,2009.

VALADARES, Loreta. As faces do feminismo.Ed.Anita,2007.

KOLLONTAI, Alexandra. A nova mulher e a moral sexual. Global, 1978.

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