As mulheres que ousam sair do armário

Enganam-se as pessoas que ainda pensam que nós, lésbicas feministas emancipacionistas, nos tornamos cidadãs fazendo apenas as nossas lutas especificas, por conquistas de direitos civis, sociais e políticos para as mulheres.

Nossa luta pela conquista da cidadania passou e passa pela nossa participação protagonista nos movimentos democráticos pela Independência do país, contra o crime brutal da escravatura, pela República, contra o Estado Novo, pela paz. Contra a ditadura militar, pela Anistia, contra a carestia, pelas Diretas Já. Pela igualdade racial, pela Constituinte, pelo impeachment de Collor. Contra a privatização do Estado, pelas reformas agrária, da mídia, política e da educação. Pela criminalização da homofobia, contra o Estatuto da Família, contra o Estatuto do Nascituro, pela descriminalização e legalização do aborto, contra a LGBTfobia, pela laicidade do Estado. Pela democracia, pela soberania nacional, pela Petrobras, pelo pré-sal. Pela escola sem mordaça, pela não redução da maior idade penal, pela manutenção da questão de gênero na educação em todos os níveis e modalidades de ensino. Contra a Emenda Constitucional 95, pela autonomia dos movimentos sociais, pelos direitos da classe trabalhadora, contra a terceirização, a reforma trabalhista e da Previdência. Contra o impeachment da presidenta Dilma — que não cometeu nenhum crime de responsabilidade — que levou à instauração do golpe, jogando o povo brasileiro numa profunda crise política, econômica e institucional.

Hoje, mais do que nunca, precisamos continuar lutando. Afinal, vivemos uma conjuntura de avanço do conservadorismo e de perda de direitos sociais e trabalhistas historicamente conquistados, com aumento da violência e do controle sobre a vida e o corpo das mulheres, o crescimento do racismo, do feminicídio, da lesbofobia, da homofobia, da transfobia, além da repressão e criminalização da política e dos movimentos sociais, populares e sindicais.

A cultura do estupro na ordem do dia

Mas, não é “só isso”. Neste momento, em que as forças reacionárias fascistas cravam suas garras no povo brasileiro, nos sentimos violentadas e estupradas todos os dias.

A cultura do estupro está na ordem do dia. Um estupro acontece a cada 11 minutos no Brasil, de acordo com o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, cujos dados mais recentes são de 2014. Segundo informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 67% dos casos de violência contra a mulher são cometidos por parentes próximos ou conhecidos da família; 70% das vítimas de estupro são crianças e adolescentes e apenas 10% dos estupros são notificados. A esmagadora maioria dos agressores não é punida, o que mostra a face mais cruel de uma cultura misógina, patriarcal, racista, lesbofóbica, bifóbica e transfóbica que continua nos atingindo brutalmente.

Agenda ultra-liberal do golpe

Estamos vivendo dias que valem por anos e, a cada dia, lutamos para garantir nossos direitos. A Constituição brasileira foi rasgada; o golpista usurpador, Michel Temer, busca, com o apoio do consórcio político-empresarial-midiático-jurídico, dar prosseguimento, em ritmo acelerado à aprovação e à efetivação da agenda ultra-liberal do golpe.

Assim, depois da Emenda Constitucional 95 — que acabou com as dotações orçamentárias obrigatórias para as políticas sociais com destaque para a educação e a saúde a fim de assegurar os ganhos astronômicos dos rentistas —, vieram o ataque ao regime de partilha do pré-sal — que abriu caminho para a entrega dessa grande riqueza às multinacionais — e a desastrosa aprovação da reforma trabalhista. Agora, Temer ainda quer aprovar a reforma da Previdência, ou seja, a morte sem aposentadoria!

Luta das mulheres neste cenário

Desde 2015, na Marcha das Margaridas e na Marcha das Mulheres Negras, expressamos nossa indignação, resistência e luta contra a retirada de direitos das mulheres e da classe trabalhadora e contra os retrocessos nas políticas sociais. Bradamos, em alto e bom som, o “Fora Temer”, denunciando o golpe, e defendemos, com unhas e dentes o Estado democrático de direito como ponto de partida para que tenhamos uma vida digna, justa e mais feliz.

No 8 de Março de 2017, protagonizamos uma grande manifestação nacional das mulheres em todos os cantos do Brasil em defesa da democracia e contra a reforma trabalhista e da Previdência. Consideramos que nossa articulação e mobilização nacional fortaleceram as greves gerais e os grandes atos que ocuparam as ruas no ano passado.

Neste 8M de 2018, continuaremos nas ruas com a importante e significativa unidade das mulheres e em parceria com os movimentos sociais, centrais sindicais, partidos políticos, artistas, intelectuais, e todas e todos que desejam construir um novo projeto de nação.

Acreditamos que o caminho para enfrentarmos os grandes desafios que estão colocados e retomarmos as rédeas do Brasil, é seguirmos na construção de uma política de frente ampla, mantendo a unidade na luta, buscando elevar a consciência política da classe trabalhadora, ganhando, sobretudo, corações e mentes das mulheres e da juventude trabalhadora para derrotarmos o golpe, garantirmos a soberania do voto popular e retomarmos a agenda da classe trabalhadora por um novo projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho, democracia e soberania nacional.

Por um projeto de nação democrático, soberano, igualitário, equânime e justo!

Pela vida das mulheres!

Em defesa da democracia!

Contra a reforma trabalhista e da Previdência!

Silvana Conti é professora aposentada da rede pública de Porto Alegre; vice-presidenta da CTB-RS e membro da Executiva Nacional da UBM na pasta LBT.

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

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