A força da Educação e da cultura popular

O verde e amarelo é meu, é teu, é nosso.
Não é…
De nenhum coxinha
De nenhum reaça
De nenhuma mídia
De nenhum “plim plim”
De nenhum facista
De nenhum machista
De nenhum racista
De nenhum pastor, senhor, doutor, fundamentalista, capitão do mato, ditador, torturador, golpista
O verde e amarelo é teu, é meu é nosso
O verde e amarelo é do Brasil!

Neste carnaval 2018 mais uma vez as vozes se levantam e a força da arte e da cultura popular dão um exemplo de resistência e luta. Quem pensa que brincar o carnaval não é um ato eminentemente político está equivocado(a), já que a Escola de Samba Acadêmicos do Tuiuti deu um show de alegria, alegorias com uma forte crítica ao presidente temeroso e ao seu projeto político que pretende vender o Brasil e está de costas para cada brasileira e brasileiro.

A agenda conservadora e neocolonial que vem sendo imposta por este governo ilegitmo, sem voto popular, que representa e fortalece o patriarcado, o racismo, a misoginia, o feminicídio, a cultura do estupro e a violência contra as mulheres: trabalhadoras, negras, jovens, idosas, lésbicas, bissexuais, transexuais, prostitutas, ciganas, deficientes, e tantas outras, rasga a constituição brasileira e coloca em risco o Estado Democratico de Direito.

O caráter de classe da empreitada golpista transparece nas ações concretas e no projeto de feição conservadora e ultraliberal conduzido pelo governo ilegítimo. Trata-se de um golpe do capital contra o trabalho, feito para atender os interesses da aristocracia financeira internacional, da burguesia brasileira e dos latifundiários.

O golpista, usurpador, Michel Temer, busca com o apoio do consórcio político, empresarial, midiático, jurídico que consumou o golpe – dar sobrevida ao governo ilegítimo até às eleições deste ano. Para isso, procura dar seguimento em ritmo acelerado, tal como foi no ano passado, à aprovação e à efetivação da agenda ultraliberal do golpe.

O projeto “Ponte para o futuro” – que na verdade é uma ponte para o retrocesso – representado pela bancada BBB (Boi,Bala,Bíblia) e liderado por Temer e seu “machisterio”, significa retrocedermos séculos nos direitos da classe trabalhadora, significa a criminalização dos movimentos sociais, a criminalização do movimento sindical, a criminalização da política, o aumento das privatizações , o fim dos programas sociais, a retirada dos direitos das mulheres, retirada de direitos da população LGBT, o aumento do feminicídio principalmente entre as mulheres negras, o aumento do extermínio da juventude negra, potencializando cada vez mais a barbárie que vem sendo imposta pelo conjunto de valores que semeiam o ódio e a violência e vem ganhando muita força nesta quadra política que vivemos.

A violência do Racismo institucional segue matando e massacrando as mulheres negras que são 25% da população brasileira e tem em sua história social a marca do crime ediondo da escravatura, dos estupros e da violência cotidiana imposta por uma sociedade racista e machista. As mulheres negras chegam a ter salário duas vezes menor do que os homens brancos e, em geral, ocupam lugares de trabalho muito precarizados. São as principais atingidas com a terceirização e a reforma trabalhista.

A EC 95 – que congelou por 20 anos as dotações orçamentárias obrigatórias para a Educação e a Saúde, pretende acabar com o SUS, vale dizer o sistema que cuida da vida das pessoas e a Educação pública – as universidades e os institutos de pesquisa –, de imediato, já enfrentam as trágicas consequências do corte substancial de recursos.

Depois do ataque ao regime de partilha do pré-sal que abriu caminho para a entrega dessa grande riqueza às multinacionais, Temer promete entregar agora uma joia há muito cobiçada pelo “mercado”: A Reforma da Previdência = morte sem aposentadoria, que significa um crime na vida das mulheres, na vida da juventude, uma crueldade na vida de todas as pessoas.

Também faz parte do pacote de maldades um programa criminoso, lesa-pátria, de privatizações. O governo ilegítimo pretende levar a leilão, por uma bagatela, o sistema Eletrobras. Nesta linha de entreguismo desbragado, por decreto, foi extinta a Reserva do Cobre e Associados (Renca) com o fito de vender jazidas estratégicas da Amazônia.

O Estado brasileiro sofre rápido processo de desmonte. O fim da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), o enfraquecimento do BNDES e os efeitos danosos da Emenda do Teto do Gasto são evidências desse desmonte, bem como a política externa de subserviência ao imperialismo estadunidense.

O golpe na educação

Defendemos a educação pública, laica, de qualidade social, que garanta o acesso e a permanência a todas e todos independente da sua classe social, origem, religiosidade, raça/etnia, deficiências, orientação sexual, identidade de gênero e toda e qualquer diversidade e especificidade.

Paulo Freire permanece entre nós com suas sábias palavras: “Quando eu me pergunto, por exemplo, a favor de quem eu conheço contra quem eu conheço, e, portanto, a favor de quem e contra quem eu trabalho em educação, eu estou, obviamente, no campo político. Eu preciso explicitar, são perguntas que eu não posso deixar entre parênteses, e elas todas têm que ver com meu sonho como educador. O meu sonho não é só pedagógico, ele é substantivamente político e adjetivamente pedagógico. É impossível admitir que a educação seja um que fazer neutro ou tecnicamente neutro, precisamente porque a educação se apresenta à luz das perguntas radicadas na própria prática, e não nos livros(…).”

Não foi por acaso que de norte a sul do Brasil travamos uma cruzada com a pauta ” ideologia de gênero” no Plano Nacional de Educação e nos Planos Estaduais e Municipais na maioria dos Estados brasileiros. Os fundamentalistas, conservadores e que defendem a tradição /família e a propriedade botaram em campo seus exércitos, suas igrejas, suas mídias, que em sua maioria orientaram a Câmara Federal, as Assembleias legislativas e as Câmaras municipais que seria muito “perigoso” trabalhar com as relações de gênero na educação, pois isto poderia “subverter a ordem”.

Na concepção patriarcal, a educação precisa manter as mulheres resignadas, dominadas, dóceis, nos espaços privados, cuidando da família, fora dos espaços públicos e de poder e por consequência fora da política. Consideram que trabalhar gênero na educação coloca em risco a sexualidade dos meninos e das meninas.

A retirada do gênero dos Planos Municipais, Estaduais e Nacional de Educação, faz parte do golpe e da pauta conservadora em curso, que também se relaciona com a tramitação do Estatuto do nascituro, com o Estatuto da Família que nega o direito a proteção do Estado às famílias LGBTs e todas as outras famílias que fogem do padrão patriarcal e heteronormativo.

Negar para crianças e para a juventude o conteúdo das relações de classe, gênero, raça/etnia, orientação sexual e identidade de gênero, nos currículos escolares em todos os níveis e modalidades de ensino é sem dúvida amordaçar, silenciar e reproduzir a cultura do estupro, fortalecendo o sistema racista e machista da sociedade em que vivemos.

Neste cenário grotesco onde um golpista vira presidente sem voto popular, um estuprador confesso assessora o ministro da educação, os conservadores colocam na sua agenda perversa o projeto “Escola Sem Partido”, que representa mais uma ação coordenada e orquestrada pela turma que tem ódio de classe.

Projeto que quer nos amordaçar, exigindo “neutralidade”, censurando e regulando a atuação dos e das docentes dentro da sala de aula. Os Projetos de Lei apresentados nos diversos Estados são pautados pelas ideias da associação da Escola sem Partido. O advogado líder deste movimento é Miguel Nagib e apresenta a proposta como um movimento das famílias e dos estudantes. O PL busca legislar defendendo os limites da liberdade de
expressão dos(as) professores(as). Além da mordaça, propõe a censura nos livros didáticos e nos planos educacionais. Além de tudo isso ainda afirma que Professor(a) não é educador(a). Seria um mero transmissor(a) de conhecimento.

O projeto Escola com Mordaça significa uma ” CAÇA ÀS BRUXAS”, ameaçando a liberdade de expressão, e isto significa um retrocesso em relação aos direitos constitucionais e democráticos. Estas ações coordenadas da direita golpista servem para tentar nos calar, nos intimidar, nos criminalizar. Também pretendem jogar a comunidade escolar contra nós, nos tornando um alvo vulnerável. Os defensores da escola com Mordaça, afirmam que os projetos de lei são criados para fazer oposição a pedagogia do nosso querido e saudoso Paulo Freire: 

A PEDAGOGIA DA LIBERTAÇÃO!
A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO!
A PEDAGOGIA DA ESPERANÇA!
A EDUCAÇÃO COM E PARA A CLASSE TRABALHADORA!

Dentre as maldades que este governo golpista impôs também está a reforma do ensino médio através de Medida Provisória que desperta grande indignação nacional em professores(as) e alunos(as).

Reacionária em seu conteúdo e autoritária na forma, a MP impõe a retirada da obrigatoriedade de disciplinas humanas como Artes, Educação Física, Sociologia e Filosofia, acenando com uma escola que atende apenas às expectativas de formação para o mercado.

Os(as) estudantes reagiram bravamente ocupando mais de mil escolas em todo o país. Mais uma vez, a juventude lidera a resistência e a luta em defesa da democracia, da soberania nacional e do Estado Democratico de Direito.
Diante desse cenário de regressão em toda a linha, de desconstrução do País, temos a convicção de que, no curso da jornada da resistência democrática, é imperativo reunir, agregar, as mais amplas forças política e sociais, com base em um programa que aponte saídas e alternativas para o Brasil superar a presente crise.

Cabe à esquerda, ante uma realidade de fragmentação política, construir convergências em seu âmbito para que seja capaz de liderar a construção de uma Frente Ampla. Uma Frente centrada no compromisso de reconduzir o país à trilha da democracia, da soberania nacional, do desenvolvimento e do progresso social. Uma Frente que empreenda a resistência, e arregimente, no correr da luta, uma nova maioria política e social. Enfim, uma Frente que tenha força, programa, atributos para disputar e vencer as eleições presidenciais, e eleger uma grande bancada nas assembleias legislativas, no Senado e na Câmara federal.

Resistir e lutar é o que precisamos continuar fazendo, ocupando as ruas, as praças, as escolas, as universidades, o parlamento, buscando a participação da população e dialogando cada vez mais com as pessoas, para que juntas(os) possamos atravessar este período de barbárie, acirramento da luta de classes e retirada de direitos.

Lanço aqui um desafio para cada educador(a) social, para cada professor(a), que estão no chão da escola, nas universidades, nas praças, nas ruas, nas periferias, nos centros, em todos os lugares…

Vamos construir uma Plataforma Nacional de Educação que dialogue com o PNE que construímos com participação popular de norte a sul do Brasil? Uma plataforma que represente a nossa concepção de educação e dialogue com os movimentos sociais e amplos setores da sociedade. Já que a construção de uma Frente Ampla Popular e Democrática também depende de cada um(a) de nós.

Temos muitos exemplos de resistência e luta para nos inspirar e nos fortalecer. 

VAMOS BOTAR O BLOCO DA EDUCAÇÃO NAS RUAS?
VAMOS CANTAR E GRITAR A MESMA MÚSICA:
FORA TEMER!
QUE A SOBERANIA DO VOTO POPULAR FALE MAIS ALTO!
VOCÊ ACEITA ESTE DESAFIO?!

Silvana Conti é vice-presidenta da CTB-RS.

 Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

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