Reunião do G20: “ultima chance” de um acordo ainda em 2018?

O Portal CTB reproduz as Notas Internacionais diárias produzidas pela socióloga e cientista política, Ana Prestes, desta quarta (13).

Notas internacionais (13/12/18)

– Desde segunda (10) estão reunidos no Uruguai os negociadores do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. A reunião é vista como a “ultima chance” de um acordo ainda em 2018, mas todos com a forte impressão de que qualquer decisão poderá ser mudada pelo futuro governo Bolsonaro. Caso haja avanço até amanhã (14), a Argentina convocará reunião ministerial dos dois blocos para tentar fechar os últimos detalhes de um acordo que está há 19 anos em negociação. Merkel parece aberta a concessões e colocou pressão ontem dizendo que o tempo está se esgotando, pois sob um governo Bolsonaro será mais difícil. Um dos grandes bloqueadores tem sido a França, que na última reunião do G20 disse que só fecha acordo com firmantes do Acordo Climático de Paris, em clara alusão ao futuro governo Bolsonaro.

– Theresa May sobreviveu. Não foi aprovada a moção de censura apresentada por parlamentares de seu partido (Conservador) ontem (12) no parlamento britânico. Ela permanece sendo a líder do partido e por consequência a primeira ministra. No entanto, não foi sem custos. Ela se comprometeu a deixar a liderança do partido antes de 2022, quando ocorrem as próximas eleições. Seu grande desafio continua sendo dar um desfecho ao Brexit, o que parece cada vez mais difícil.

– Macri, presidente argentino, cancelou a confirmação de sua vinda ao Brasil para a posse do presidente Jair Bolsonaro em 1º. de janeiro. A alegação é de que estará em férias com sua família na Patagônia. Os jornais argentinos, no entanto, especulam que os efeitos das notícias sobre suspeita de corrupção no seio da família Bolsonaro, envolvendo filho e esposa do presidente eleito, podem ter influenciado na decisão. Macri já está com uma popularidade baixíssima, tem a própria família (pai e irmão) envolvida em um escândalo de corrupção e não quer desgastar ainda mais sua imagem na entrada do ano novo que para ele será eleitoral. A Argentina é um dos principais parceiros comerciais e políticos do Brasil na América do Sul.

– Os ataques entre EUA e China continuam. O último episódio foi a alegação do secretário de estado norte-americano, Mike Pompeo de que o recente vazamento de dados do grupo Marriot (rede hoteleira) teria sido fruto de espionagem chinesa. Estima-se que os dados de 500 milhões de clientes da rede Marriot tenham sido hackeados em novembro. Os americanos se dizem especialmente preocupados, pois seus militares e funcionários de agencias governamentais se hospedam nessa rede.

– As acusações sobre a China no “caso Marriot” ocorrem ainda no calor da recente prisão da executiva financeira do grupo chinês Huawei. Solta sob fiança, Meng Wanzhou aguarda decisão sobre sua possível extradição para os EUA, onde está acusada de fraude pela justiça americana. A Huawei é hoje a maior fabricante mundial em equipamentos de telecomunicações e a segunda em smartphones e tem causado grande incomodo por estar à frente das concorrentes em tecnologia para a rede móvel de 5ª geração (5G). A mobilização do aparato judicial dos EUA contra a empresa vem no bojo da guerra estabelecida com a China. Segundo os americanos, a tecnologia 5G da Huawei deixará os EUA expostos a ciberataques.

– A aproximação entre Rússia e Turquia tem desagradado Israel, que agora tenta a formação de um bloco com EUA, Grécia e Chipre com o nome de “eixo-democrático” do Oriente Médio. A aliança incluiria uma cooperação militar entre os quatro países na região.

– Moscou considerou pouco diplomáticas e inapropriadas as declarações do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, sobre os aviões bombardeiros russos (Tu-160) que chegaram à Venezuela para realização de exercícios militares. Pompeo havia “tuitado” que os exercícios militares da Venezuela em conjunto com a Rússia expõem dois governos corruptos e que usam dinheiro público para manobras militares. O porta voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que só a metade do orçamento de defesa dos EUA daria para “alimentar toda a África”.

– Sobre as propostas anunciadas por Macron ao longo da semana em resposta aos protestos dos Jalecos Amarelos, há quem diga que ele tenta dividir o movimento. Há manifestantes que pedem a renúncia de Júpiter (como chamam Macron) e os que se dispõem a negociar. O aumento de 100 euros no salário mínimo pode dividir o movimento. O movimento não tem um a liderança clara declarada, seus integrantes são em maioria homens entre 20 e 40 anos, trabalhadores do interior da França, vinculados a pequenas empresas e a maioria não é sindicalizada. Somam-se a eles movimentos de diferentes setores que também se opõe aos aumentos dos impostos dos combustíveis e com a situação geral do país. Há novas manifestações marcadas para o sábado, 15.

– Também na França, está convocada para amanhã, 14 de dezembro, uma greve de docentes nas escolas de ensino médio e universidade. Ofuscada pelas manifestações dos jalecos amarelos, a mobilização estudantil na França já dura duas semanas. A última manifestação, da terça 11, que os líderes chamaram de “terça negra” contou com cerca de 35 mil jovens e o bloqueio de 450 unidades educacionais. Eles protestam contra o Parcoursup, uma espécie de ENEM de acesso a universidade, a ser implementado, contra a reforma educacional prevista para 2021, contra o SNU (serviço nacional universal) que obrigará os estudantes de 16 anos a prestarem serviços comunitários e contra o aumento das matrículas para os estudantes que não são provenientes da União Europeia.

– Quem está de olho no noticiário econômico internacional percebeu o quanto tem se falado da chegada de uma nova crise econômica, maior do que a de 2008. A dívida mundial está em níveis recordes. O último informe de estabilidade financeira do FMI estima que a dívida mundial (não financeira) ao final de 2017 era de 250,7% do PIB mundial.

– Militares das duas Coreias, sul e norte, fizeram ontem (12) pela primeira vez uma missão conjunta desde o fim da Guerra da Coreia (1950 – 1953). Os militares inspecionaram a demolição e o desarmamento de 22 postos de guarda ao longo da fronteira. Estima-se que esta área tenha 2 milhões de minas terrestres.

– A popularidade do presidente colombiano Ivan Duque caiu de 53,8% para 27,2% em apenas três meses de governo.

-Ao homenagear jornalistas, como personalidades do ano de 2018, a revista norte-americana Time citou a jornalista brasileira da Folha de São Paulo, Patrícia Campos Mello, por ter sido alvo de ameaças após relatar que apoiadores do presidente eleito, Jair Bolsonaro, financiaram uma campanha para disseminar notícias falsas no WhatsApp.

– Foi lançado esta semana em São Paulo o documentário “Exteriores – Mulheres Brasileiras na Diplomacia” em memória aos 100 anos de ingresso da primeira mulher no Itamaraty, em 1918. Na época o chanceler era Nilo Peçanha e assim se referiu à Maria José Rebello, primeira mulher servidora pública concursada do país e primeira diplomata: “Melhor seria, certamente, para o seu prestígio que continuasse à direção do lar, tais são os desenganos da vida pública, mas não há como recusar a sua aspiração”. Maria José foi a primeira colocada no concurso daquele ano. Entre 1938 e 1954, as mulheres brasileiras ficariam proibidas de entrar na diplomacia. Hoje as mulheres são apenas 23% do corpo diplomático e chefiam 9,8% dos postos no exterior.

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