ESNA: A unidade da classe trabalhadora é a arma mais poderosa contra retrocesso

Em sua participação no primeiro dia de debates do Esna, em Montevidéu, nesta sexta-feira (1), o ministro do Trabalho e da Seguridade Social do Uruguai, Ernesto Murro, observou: “Uma coisa é quando temos retrocesso com resistência. Outra coisa é quando temos retrocesso e só”.

O encontro de delegações de 19 países, reunindo trabalhadores de mais de 200 sindicatos e centrais das Américas e de outros países do mundo, não deixa dúvidas: haverá muita resistência ao retrocesso que o poder econômico tenta impor à classe trabalhadora mundial.

A crise sistêmica do capitalismo que se acentua nos últimos anos e seus desdobramentos sociais, políticos e econômicos são sentidos na maioria dos países reunidos nesta sétima edição do encontro sindical e com os mesmos efeitos: precarização do trabalho, demissões, supressão de direitos ou garantias e tentativa de criminalização das lutas sociais.

Três temas foram colocados em debate: na primeira mesa, a investida imperialista contra a classe trabalhadora, defesa do direito de greve e criminalização da luta social; na segunda, os tratados de livre comércio e a integração entre os povos; e a independência de classe, e construção de uma alternativa socialista.

Os dirigentes foram convidados a apresentarem propostas de ações concretas nos três debates temáticos e uma resolução final irá reunir os principais pontos definidos em unidades entre as lideranças sindicais. A dirigente da Central Bolivariana dos Trabalhadores da Venezuela, Adelaida Zerpa denunciou o ataque aos direitos trabalhistas da “burguesia parasitária que vive da renda do petróleo há 50 anos e a quem não interessam os direitos sociais”.

O secretário de ação política Marcelo “Nono” Frondizi, da central sindical argentina ATE está enfrentando as tentativas de desregulamentação do trabalho que é parte do programa de governo de Maurício Macri, eleito no ano passado no país. Em três meses, foram 4 grandes manifestações populares, sendo a maior e mais unitária a do dia 24 de março.

“Pela primeira vez na Argentina, as cinco principais centrais se uniram por um objetivo comum. “É um fato muito relevante, nunca ocorrera antes. Dessa ação surgiu o lema: ‘trabalhadores são a pátria’. Foi uma ofensiva poderosa”, disse Nonno.

“A crise política no Brasil é parte desta nova fase da ofensiva imperialista na América Latina. E o Brasil, neste momento, é o foco principal”, diz o dirigente da CTB, Divanilton Pereira.

De acordo com ele, assistimos hoje à direita repetindo seu objetivo histórico: brecar os avanços populares. Em sua exposição, Divanilton relembrou a fala do jornalista Carlos Lacerda, em 1950, sobre o então senador Getúlio Vargas: “O sr. Getúlio não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.

Qualquer semelhança com acontecimentos recentes do Brasil não é mera coincidência.

Não é à toa que o Brasil tem hoje o Congresso mais conservador dos últimos 52 anos. Pesquisa do Diap contou que há 55 projetos altamente lesivos aos direitos trabalhistas e ou sociais tramitando na casa legislativa.  “Não há pautas progressistas no Congresso e sempre que se vota alguma coisa, é risco certo de retrocesso para a classe trabalhadora”, diz Divanilton.

Para o líder da Central dos Trabalhadores de Cuba (CTC), Raymundo Navarro, uma das valiosas contribuições do Esna são as análises conjunturais que vão sendo construídas aqui. “A pergunta é: o que vamos fazer? E como vamos aterrissar e enfrentar a ofensiva?”.

Para Navarro, a unidade de classe é a “coluna vertebral” de qualquer ação que o movimento sindical queira tomar. Ele diz que foi isto que permitiu à revolução cubana perdurar e é isso que fez da medicina cubana um programa de solidariedade internacional tão bem sucedido, com “58 mil médicos em 72 países salvando vidas”.

A defesa da unidade é compartilhada pela maioria dos presentes, mas difícil é construir consensos e posições de conciliação. É este desafio que as trabalhadoras e trabalhadores reunidos no Esna estão se propondo. “Ou unificamos, ou seremos derrotados. Unidade é imprescindível”, diz a secretária de Formação da CTB, Celina Arêas.

Visita ilustre

Um dos heróis cubanos, preso nos EUA pelo seu ativismo contra o bloqueio americano a Cuba, Ramón Lavallino foi levar sua solidariedade e apoio à luta contra o imperialismo americano em debate na sede da PIT-CNT, central sindical uruguaia. Na foto, com os cetebistas Edson de Paula e Marilene Betros. A sua história é contada no livro “Os últimos soldados da Guerra Fria”, de Fernando Morais.

Portal CTB – Natália Rangel, de Montevidéu

 

 

 

 

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