CTB faz história em encontro que fortalece laços de solidariedade da classe trabalhadora mundial

Durante quatro dias, a cidade de Durban, na África do Sul, tornou-se a capital internacional do sindicalismo classista. Cerca de 1,5 mil trabalhadores e trabalhadoras, provenientes de 111 países, estiveram reunidos no Centro Internacional de Convenções, sede do 17º congresso da Federação Sindical Mundial .

Sob a inspiração da Cosatu, maior central sul-africana e com forte tradição de luta contra a opressão racial, o Apartheid, e pelos direitos dos trabalhadores, o encontro teve três dias de intervenções vindas dos quatro cantos do planeta, em que 112 oradores compartilharam suas crises, sua realidade, suas lutas, desafios, conquistas.

O denominador comum de todos os discursos, fossem eles proferidos pelo dirigente do Sri Lanka, da França, da Colômbia, da China, da África do Sul ou da Turquia, era sempre a construção de uma rede de solidariedade classista e unitária diante das ofensivas capitalista e imperialista, cada vez mais fortes.

Outros temas de destaque foram a violência policial nos EUA contra pobres e negros, a tragédia política e humanitária na Síria, a denúncia de prisões e perseguição política e sindical a trabalhadores na Guatemala, no País Basco, na Venezuela, em Honduras, entre outras nações, e as duras críticas, repetidas por muitos oradores, ao sistema financeiro mundial.

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O golpe sofrido no Brasil – e suas consequências – foi condenado pelo presidente da CTB, Adilson Araújo, e  pela combativa delegação da CTB, a maior de sua história. Formada por professores, metalúrgicos, bancários, marítimos, profissionais da saúde, a equipe marcou posição com palavras de ordem, faixas e panfletos informativos, condenando as arbitrariedades praticadas pela gestão golpista de Michel Temer.

Além da denúncia e do repúdio, os dirigentes apresentaram desdobramentos do golpe na tentativa de desmonte dos direitos trabalhistas no país. Ao longo de toda a sua permanência no congresso, o visual da CTB e o grito de Fora, Temer! cumpriu seu papel e enviou aos presentes o seu recado sobre o que se passa no Brasil.

  

No alto, parte da delegação durante caminhada para estádio de Currie Fountain e, acima, Araújo e George Mavrikos durante a conferência

Era comum participantes estrangeiros se aproximarem solidários para repetir Fora, Temer!, com um sinal de positivo. A CTB também formulou uma moção de repúdio à ofensiva reacionária em curso em toda a América Latina, destacando a criação de um novo modelo de golpe, que é forjado com apoio de setores do governo, do Judiciário e da grande mídia.

Marilene Betros, dirigente da CTB, também propôs mudanças no texto da Plataforma de Ação 2016-2020, agenda programatica da FSM para os próximos anos, no que dizia respeito às mulheres, dando mais ênfase às políticas e campanhas de combate à violência de gênero e ao feminicídio.

Mugabe gera protestos

Um encontro de dimensões continentais, no entanto, naturalmente acolhe divergências entre seus membros. E não são poucas. Gerou protestos a defesa ao presidente Robert Mugabe feita pelo dirigente do Zimbábue, que denunciou as sanções impostas pelo Reino Unido e pelos EUA ao país africano.

Aos 92 anos, Mugabe está no poder há três décadas, em seu sétimo governo consecutivo, eleito por voto indireto. Diversas delegações presentes na audiência protestaram, com grito de dictator! (ditador!).

Do Brasil, além da CTB participaram do congresso representantes das centrais sindicais Intersindical, CGTB e CSB. O presidente da CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, levou uma sonora vaia durante o seu discurso ao criticar a presidenta Dilma Rousseff e questionar o golpe no país.

O próprio secretário geral da FSM, Georges Mavrikos, se pronunciaria pouco depois, frisando que a federação reconhece e se posiciona contra o golpe jurídico-institucional de que o Brasil foi vítima.

Eleição

Como previsto, Mavrikos foi reeleito para a função de secretário geral da organização. No total, 356 delegados votaram pela permanência do dirigente grego, mas 21 optaram por Aloise Mboubine, do Gabão, único candidato concorrente. 

A segunda candidatura surpreendeu a maioria dos delegados presentes, já que a expectativa era de chapa única – a delegação francesa, a qual Mboubine pertence, fez um pedido público de desculpas pela decisão do colega, que não foi apoiada pelo restante da delegação.

Para Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB, a segunda candidatura tem de ser tratada com naturalidade. “Acredito que isto legitimou ainda mais a vitória de Mavrikos”, diz Santana, destacando que esta edição do congresso teve como meta a ampliação da representatividade da FSM e a sua atualização política.

“Estas são medidas importantes para o fortalecimento da FSM, atraindo novos segmentos e aumentando sua pluralidade”, analisa, destacando que este deverá ser um dos importantes desafios e uma grande contribuição de seu colega e dirigente da CTB, Divanilton Pereira, recém-eleito para o conselho presidencial da federação (leia matéria aqui).

Para a CTB, é fundamental a compreensão que o movimento sindical classista adquiriu sobre a necessidade de fortalecer cada vez mais os laços de solidariedade e a unidade da classe trabalhadora.

“Isto nos permitirá somar no sindicalismo e contribuir na construção de uma agenda comum, de uma agenda que condene a crise e que efetivamente crie condições para que a gente possa enfrentar o drama em que vivem milhões de trabalhadores de todo o mundo”, diz Araújo.

Natália Rangel, de Durban, para o Portal CTB

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