Filme reflete sobre a primeira greve geral do Brasil ocorrida em 1917, ano da Revolução Russa

No dia 28 de abril deste ano, aconteceu a maior greve geral da história do país, 40 milhões de trabalhadores e trabalhadoras cruzaram os braços. Para um melhor entendimento das lutas da classe trabalhadora brasileira, Carlos Pronzato realiza o documentário “1917: A Greve Geral”.

O cineasta argentino, radicado no Brasil, acredita ser muito importante a compreensão da história para se entender o presente. Por isso, adotou a forma de documentários para suas obras.

“Não tenho como objetivo construir peças de museus, mas filmes que deem voz aos que são marginalizados ou rejeitados pela história oficial”, diz Pronzato. “Uso a plataforma audiovisual com temas sociopolíticos juntamente com materiais históricos para que não percam a vigência”.

Última nação a abolir a escravidão em 1888, o Brasil de 1917 engatinhava em seu processo de urbanização e industrialização. A República marginalizava a população negra do mundo do trabalho, empurrando-a para a periferia, e trazia para o país operários europeus, com a clara intenção de branquear a sociedade.

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Pronzato conversa com Christina Lopreato, acompanhado do cinegrafista Xeno Velozo, no vão do Masp, em São Paulo (Foto: Marcelo Chaves)

A primeira greve geral ocorrida no Brasil, se deu basicamente em São Paulo e Rio de Janeiro por onde a industrialização se acelerava. E com a chegada de operários da Europa em crise, e forte influência do clima criado com a Revolução Russa, a greve se agiganta com o assassinato do sapateiro espanhol José Martinez, de apenas 21 anos.

“O auge deste período foi a greve geral de julho de 1917, que paralisou a cidade de São Paulo durante vários dias. Os trabalhadores em greve exigiam aumento de salário. O comércio fechou, os transportes pararam e o governo impotente não conseguiu dominar o movimento pela força. Os grevistas tomaram conta da cidade por trinta dias”, conta o historiador Hermínio Linhares em seu livro “Contribuição à história das lutas operárias no Brasil”.

Os grevistas queriam a liberdade das pessoas presas por participar do movimento, direito de associação da classe trabalhadora, abolição da exploração do trabalho de crianças com menos de 14 anos, contra o trabalho noturno de jovens com menos de 18 anos e das mulheres e aumento salarial, jornada de trabalho de 8h diárias, entre outras reivindicações.

Em suas obras mais recentes, Pronzato examinou por dentro as ocupações de escolas em São Paulo 2015 com a obra “Acabou a paz, isto aqui vai virar o Chile! Escolas ocupadas em São Paulo”, lançado no início de 2016. Também documentou as escolas ocupadas no Paraná no ano passado no filme “Ocupa tudo: escolas ocupadas no Paraná”, que estreou neste ano.

 Assista o filme Acabou a paz, isto aqui vai virar o Chile! Escolas ocupadas em São Paulo

Influenciado pelo neorrealismo italiano (movimento cultural surgido nos anos finais da Segunda Guerra Mundial, com grande destaque no cinema) e pelo Cinema Novo (movimento cinematográfico surgido na década de 1950 com a vontade de levar às telonas a alma do Brasil), Pronzato busca levar reflexão sobre os fatos que marcam a história recente da classe trabalhadora e dos movimentos sociais de contraposição ao capitalismo.

“Ao refletir sobre a primeira greve geral do Brasil, pretendo recuperar o espírito dos grevistas de 1917”, realça o documentarista. Ele também contou a trajetória de Che Guevara na Bolívia até o seu assassinato em 1967, no filme “Carabina M2, uma arma americana – o Che na Bolívia” (2008) e “A Revolta do Buzu” (2002), sobre protestos contra aumento de tarifa no transporte público de Salvador.

Com larga utilização do Arquivo Público do Estado de São Paulo e Arquivo Edgard Leuenroth de Campinas (SP) ele remonta a história com acervo fotográfico e de texto de rara qualidade.

Também agradece a Francisco Foot Hardman, Christina Lopreato e José Luiz Del Roio. Ele conta ainda que iniciou sua mais recente obra em meados de 2016 e o prevê a conclusão para o mês que vem. Com edição de Renato Bazan.

Assista Ocupa tudo: escolas ocupadas no Paraná

Para o cineasta é fundamental contar essa história, justamente para melhor compreensão da conjuntura política do país neste momento. “Vivemos uma situação de graves retrocessos, mas a classe trabalhadora dá mostras de reação e resistência”.

“Tenho como fundamento em minha obra a colaboraçao com as questões populares e com isso trazer reflexão e ajudar na construção de uma nova sociedade. Somente com conhecimento podemos avançar com mais qualidade”, conclui.

Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy

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