50 anos: o tropicalismo rompeu barreiras e chacoalhou as estruturas da cultura e da vida

Apesar de o país estar sob o manto de uma ditadura ferrenha em 1967, a música popular brasileira era o centro das atenções das programações televisivas e os artistas atuantes contra o autoritarismo. Era a época dos grandes festivais, canções de protesto, movimentos de rua para exigir a volta da democracia.

Nesse contexto efervescente, surge o tropicalismo, influenciado pelo movimento antropofágico, dos modernistas de 1922, com objetivo estruturar uma cultura de caráter nacional, mesclando influências externas com a cultura popular do país.

O nome do movimento veio de uma obra do artista plástico Hélio Oiticica, chamada Tropicália, exposta no Rio de Janeiro em 1967. Nesse ano, Caetano Veloso interpretava “Alegria, Alegria” e Gilberto Gil, “Domingo no Parque”, no Festival de Música da Record.

Os dois dos principais mentores do movimento, já mostravam ali a que vinha o tropicalismo. Uma miscelânea de sons com rock, bossa nova, música regional nordestina, samba, e a chamada música brega. 

Asssista o documentário “Tropicália a Voz de Uma Geração”, de Mateus Barbosa através do link https://www.youtube.com/watch?v=HHM5-PonsKM

Além de Veloso e Gil, participavam movimento o maestro Rogério Duprat (1932-2006), Tom Zé, Jorge Mautner, Jorge Ben Jor, Gal Costa, Os Mutantes, Torquato Neto (1944-1972), Capinan e Maria Bethânia, que criaram essa geleia geral musical, cênica e comportamental.

Com poesias marcantes, aliadas a melodias fortes, eles dançavam e rebolavam no palco de maneira provocadora, além de vestimentas pouco convencionais. Gil e Veloso, por exemplo aparecia de saia algumas vezes.

Na época da efervescência dos grandes festivais, Veloso apresentou com os Beat Boys “Alegria, Alegria” e Gil com Os Mutantes “Domingo no Parque”, no Festival da Record, introduzindo a guitarra elétrica nas suas apresentações.

Nascia assim o movimento tropicalista, que teve a adesão de José Celso Martinez Corrêa (Zé Celso) no teatro e de Glauber Rocha no cinema. Um ano antes, Zé Celso montava a peça “Orei da Vela”, de Oswald Andrade e depois escandalizava com “Roda Viva”, que marcou uma guinada da carreira de Chico Buarque.

Em 1968 é lançado “Tropicália ou Panis et Circenses”, disco manifesto do movimento. Surgiam clássicos como “Panis et Circenses” (Caetano Veloso e Gilberto Gil), “Geleia Geral” (Gilberto Gil e Torquato Neto), “Enquanto Seu Lobo Não Vem” (Caetano Veloso) e Bat Macumba (Gil e Caetano).

Ouça o disco Tropicália ou Panis et Circenses 

O movimento acabou nesse mesmo ano. Numa temporada no Rio de Janeiro, Gil, Veloso e Os Mutantes utilizaram uma obra do Hélio Oiticica em seu show. Penduraram no cenário a bandeira nacional com a inscrição “Seja Marginal, Seja Herói”, com a imagem de um traficante assassinado violentamente pela polícia.

Porém, o tropicalismo não acabava ali. Permanece vivo nas produções atuais e viscerais de seus criadores, mas também nas obas de seus herdeiros, como Arnaldo Antunes e Chico Science, principal nome do importante movimento manguebeat, dos anos 1990, em Pernambuco, entre outros.

Por uma questão de desordem geral, o tropicalismo veio para romper barreiras e rompeu muitas pela igualdade, pela liberdade. Revolucionou a arte e a vida de gerações de brasileiros e brasileiras tudo em nome do amor, do respeito e dos direitos humanos.

Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy

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