Setembro Amarelo: viver é o maior milagre que se pode conceber

Por Professora Francisca

Em 1994, nos Estados Unidos teve início a campanha Setembro Amarelo sobre a prevenção ao suicídio. Porque essa prática já crescia, principalmente entre a juventude. A situação ganhou tais contornos que em 2003, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio para chamar a atenção do mundo sobre esse grave problema.

Atualmente, segundo dados da OMS, uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos, com cerca de 700 mil suicidas anuais no planeta. Então a campanha Setembro Amarelo vem se intensificando com o lema Se Precisa, Peça Ajuda. Texto de e apresentação da campanha de 2023 afirma que o principal objetivo é “a conscientização sobre a prevenção do suicídio, buscando alertar a população a respeito da realidade da prática no Brasil e em todo o mundo”, diz texto sobre a campanha.

Isso porque entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é a segunda maior causa de óbito no mundo, e a quarta maior no Brasil. Em nosso país em 2022 foram registrados 16.262 casos de suicídios ou 44 por dia. Número 11,8% superior aos 14.475 suicídios registrados em 2021, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Claramente, o sistema que vivemos com exacerbação do individualismo, a intensa pressão sobre os indivíduos para “se dar bem” a qualquer preço e a degradação das relações de trabalho, as jornadas abusivas, a precarização e a instabilidade levam as pessoas ao desespero para ganhar o pão de cada dia. O que acarreta estresse, depressão, frustrações, cansaço físico e mental.

Os dados demostram a necessidade de termos a compreensão sobre a prevenção ao suicídio como um problema de saúde pública. No caso da Educação a situação ganhou o agravante da perseguição e do descrédito sofrido pelas professoras e professores.

A vigilância e a pressão por metas inconcebíveis têm levado os profissionais à exaustão por sobrecarga de trabalho. Além de governantes levarem mensagens de ódio e violência contra os docentes, o que já era uma situação estressante, ficou agoniante.

Impactos do trabalho remoto

Tanto que a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) aplicou uma pesquisa para conhecer os impactos do trabalho remoto, muito utilizado durante a pandemia e o adoecimento das educadoras e educadores causados pelo assédio moral intenso nas escolas, antes, durante e depois da pandemia.

Foi observado que 49% dos pesquisados precisaram de atestado médico nos últimos seis meses e 50% desse percentual ficou afastado entre uma semana e um mês. Porque a degradação das relações de trabalho com forte pressão aos profissionais por metas extorsivas e a absoluta falta de estrutura de apoio às atividades pedagógicas causam adoecimento.

Pesquisa corroborada pelo levantamento, com base na Lei de Acesso à Informação, feito pelo SPTV1, da TV Globo, em que se constatou que somente no primeiro semestre de 2023, 20.173 profissionais se afastaram do trabalho por problemas mentais no estado de São Paulo, um crescimento de 15% em relação ao mesmo período de 2022.

A situação é tão degradante que as diretoras e diretores de escolas enfrentam o mesmo problema. No primeiro semestre de 2019, foram 146 afastados por transtornos mentais e em 2023, foram 218, praticamente 50% de crescimento.

O que deixa claro que a gestão do Secretário da Educação do estado, Renato Feder e do governador Tarcísio de Freitas é um desastre absoluto, com total degradação das relações de trabalho e humanas. Tanto que a Justiça do Trabalho determinou a criação de uma engenharia de segurança e medicina do trabalho para atender aos profissionais e aos estudantes.

É necessário criar políticas de defesa da saúde mental

Por isso, é essencial a criação de políticas de defesa da saúde mental. As professoras e professores precisam desse atendimento pois já exercem uma função estressante por si só e ainda por cima acumulam salas superlotadas, falta de estrutura das escolas, são constantemente vigiados e cobrados por metas absurdas e não têm a liberdade de ensinar e o aluno o fica sem a liberdade de aprender. Porque as escolas têm sido desestabilizadas como transmissoras de conhecimento.

Isso tudo é importante dizer porque a escola tem um papel fundamental no tratamento às crianças e adolescentes, inclusive na questão do adoecimento mental. É muito comum que a professora ou o professor percebam a automutilação em adolescentes, coisas que nem as famílias haviam percebido. E os psicanalistas afirmam que essa automutilação é um pedido de socorro de uma enfermidade mental que pode levar ao suicídio se não socorrida.

Mas como o profissional da educação pode perceber o adolescente doente se ele próprio adoece num sistema que lhe desprestigia como ser humano e impõe regras e metas impossíveis de serem alcançadas em projetos que visivelmente visam a degradação da educação e da vida.

Outra questão essencial para a prevenção ao adoecimento mental e ao suicídio refere-se à regulação das plataformas digitais. Porque o mundo está conectado demais e se torna necessário conversar mais com os jovens e tirá-los desse ambiente virtual potencialmente tóxico.

Então para levarmos a cabo os objetivos do Setembro Amarelo, precisamos falar mais sobre o que pode levar uma pessoa ao suicídio. E na Educação é fundamental a gestão democrática, onde prevaleça a liberdade de ensinar e aprender e o respeito ao ser humano.

Professora Francisca é diretora da Secretaria de Assuntos Educacionais e Culturais da Apeoesp – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, da Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE), secretária-adjunta de Finanças da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e diretora da CTB-SP